Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Aristóteles via a amizade como uma das verdadeiras alegrias da vida e pensava que uma vida bem vivida teria que incluir amizades significantes, verdadeiras e duradouras. Os amigos, pensava, são um refúgio nos infortúnios, uma ajuda na juventude para se evitar erros, um consolo na velhice, e uma fortaleza na idade adulta.
Aristóteles falava em dois tipos de amizades que são mais acidentais que intencionais e nas quais entramos frequentemente sem dar por isso. A primeira é a amizade da utilidade. É temporária e geralmente acaba quando o benefício acaba. Estas amizades são muito comuns entre pessoas mais velhas. Relações de trabalho, por exemplo, onde as pessoas gostam da companhia uma da outra mas se a situação muda, também muda o tipo de relação.
O segundo tipo de amizade acidental é baseado no prazer e é mais comum entre os jovens. Está construída sobre emoções que se sentem numa dada altura, porque as pessoas estão próximas, são colegas de carteira ou de equipa de desporto, etc., mas que mudam quando os seus interesses mudam. São muitas vezes as mais curtas relações das nossas vidas.
Segundo Aristóteles, estes dois tipos de amizade não são más e até são necessárias mas, a sua falta de profundidade limita a sua qualidade.
A forma de amizade preferível, segundo Aristóteles, é a que se baseia na apreciação mútua das virtudes da outra pessoa, virtudes essas que nos são caras. Neste tipo de amizade, as próprias pessoas e as qualidades que representam são um incentivo para que ambos queiram estar na vida um do outro. São amizades onde as pessoas, ao mesmo tempo se desafiam e apoiam. Este tipo de relação resiste ao tempo e para que exista é necessário, em primeiro lugar, que haja um nível de bondade nessas pessoas.
Pessoas egocêntricas ou incapazes de empatia e capacidade de cuidar e dar atenção a outros dificilmente são capazes de amizades com essa qualidade porque os seus interesses centram-se mais na utilidade e no benefício imediato. Para uma amizade destas resistir temos que sentir que a outra pessoa se interessa por nós. Mais ainda, uma amizade de virtude requer tempo e confiança para se construir e depende do crescimento mútuo. Este tipo de amizade é mais provável se já vimos a outra pessoa no seu pior e vimo-la crescer ou quando passaram ambos por situações difíceis.
Para além da profundidade e intimidade, a beleza deste tipo de relação está em que inclui as recompensas das outras duas: o benefício e o prazer. Quando respeitamos uma pessoa e gostamos dela, temos prazer em passar tempo com ela. E também traz benefícios: no mínimo ajuda a manter a saúde mental e emocional.
Este tipo de amizades requerem tempo e intenção mas, quando florescem, fazem-no com confiança e admiração e trazem consigo algumas das maiores alegrias da vida.
Embora as amizades acidentais tenham algum valor, a sua impermanência diminui o seu potencial. Por isso Aristóteles defendia o cultivo de amizades de virtude construídas com intenção e baseadas na apreciação mútua de carácter e bondade. Essas amizades fortalecem-se com o tempo e se resistem aos contratempos, são para a vida.
Nós somos e, vivemos, pelas pessoas com as quais passamos tempo. Os laços que forjamos com os que nos são próximos moldam a qualidade das nossas vidas e a vida é demasiado curta para amizades fúteis ou superficiais.
traduzido e adaptado de um artigo de Zat Rana
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.