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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Há pessoas tão pequeninas no trabalho... Mesquinhas. O que fazem é sobretudo fogo de vista sem grande substância mas promovem-se como se fossem extraordinárias e desvalorizam subrepticiamente o trabalho de outros que são o oposto para que ninguém as ofusque. E uma pessoa assiste a isto e percebe as intenções que se escondem como se elas estivessem pregadas na testa à vista de todos. E não dizemos nada porque o assunto não nos diz minimamente respeito mas incomoda muito e fica-se com um desprezo por essas pessoas difícil de retroverter. Como é que se 'des-vê' o que se viu, 'des-percebe' o que se percebeu...?
Estamos na recta final das aulas. Duas semanas de aulas: só testes e trabalhos e reuniões e matrizes de exames e exames de equivalência à frequência de 1ª e ª fase-...
Hoje na escola só se falava na matriz curricular. Todas as disciplinas, ou quase todas, perdem muito tempo. Não se percebe como fazer horários se uns têm 45, 90, 180 ou 270 minutos e outros 150 ou ainda 120... o que se percebe é que vão sobrar professores sem horários e os que lá ficam vão encher-se de turmas de 30 alunos cada.
É isto a escola do rigor e da excelência que o Nuno Crato defendia enquanto era oposição? I don´t think so...
Entretanto, tinha-me inscrito numa formação que não me interessava um átomo, mas porque tenho que fazer qualquer coisa e foi a única que surgiu (a que me interessa mesmo é na Universidade Nova custa quase 100 euros só de inscrição de modo que estou na dúvida). Houve centenas de candidatos e eu não fiquei seleccionada (era uma acção chamada WEB cujo assunto é... como fazer um blog...enfim, sem comentários...).
Seja como for, o que achei interessante foi terem-me dito, alguém que participou do processo de selecção dos candidatos, que foram seleccionados pessoalmente pelo formador. Perguntei, 'qual foi o critério? para a selecção? Resposta: não sei, foi ele que escolheu as pessoas... a mim estas coisas fazem-me confusão...
Depois, à conversa com um colega, ele disse-me que se meteu a fazer uma acção sobre relaxamento... então sentam-se no chão (como putos) e depois a formadora atira um novelo de lã a um que enquanto o vai enleando nos deods vai falando de si; este por sua vez atira a outro até estarem todos enleados...LLLOLL
Opá eu passo-me com estas cenas, tipo terapia de grupo com uma indivídua que faz relaxamento... palavra que nem queria areditar que estas coisas se passassem....
E este foi o meu dia: seis aulas, uma reunião, duas horas a corrigir trabalhos. Agora: pausa.
Acho piada à minha turma do 10º ano. Agora andamos a falar de Estética e os miúdos interessam-se bastante pelo assunto, em parte porque as aulas têm outra estrutura que lhes dá muita liberdade de ação e de interpretação. Seja como for, ao fim de meia dúzia de aulas já são capazes de fazer escolhas, de dizer algo mais que 'gosto' ou 'não gosto' diante duma obra de arte e já não dizem coisas como, 'o meu irmão mais novo fazia isso', por exemplo.
Uma quantidade deles já sabe reconhecer alguns estilos: clássico, surrealista, barroco, impressionista, pontilhista, abstrato, medieval... e são capazes de dizer o que os faz gostar mais de uma peça que doutra. Fizémos uns exercícios para aprender a ver sem as roupas do saber e outros para aprender a apreciar a partir da contextualização da obra. Acharam piada.
Não dá para muito mais porque temos poucas aulas para o tema mas, já não é mau. Há sempre um ou outro que descobre ter apetência para a arte ou para um certo tipo de arte e pode ser que esta introdução ao mundo da arte não se perca.
Para a semana vamos fazer uma visita de estudo a um museu e assistir a uma peça de teatro. Para a maioria vai ser uma estreia, tanto a ida ao museu como ao teatro.
Para mim vai ser um dia extremamente cansativo: quarta tenho seis tempos de manhã a acabar à uma e meia e saímos para Lisboa antes das duas. Chegamos a Setúbal lá para a meia noite e meia (isto já não tem hífens?) e no dia a seguir é entrar às oito e vinte e cinco e sair as cinco da tarde... eu não sou uma pessoa de visitas de estudo... não é que não goste de visitas de estudo, mas cada vez me cansam mais e, sobretudo, custa-me isto de estar o dia inteiro rodeada de pessoas, ainda para mais tendo que fazer de guia e estando preocupada em controlar e isso. Vou mais porque sei que os alunos aproveitam e é uma experiência enriquecedora... mas que custa, ah, isso custa.
Não sou de ameaçar alunos. Acho que, se as regras são fundamentais, então o não cumprimento das mesmas tem de ter consequências, não ameaças. Os comportamentos também, se são graves têm de ter consequências. Desta maneira, quando digo aos alunos que em caso de violarem este ou aquele princípio terão esta ou aquela consequência, cumpro sempre o que digo. Nunca ameacei em vão: acho que isso dá um exemplo de falta de palavra, confunde o que é importante com o que não é e abre um precedente perigoso.
Assim, se não é fundamental ou grave vou gerindo as coisas com umas chamadas de atenção ou até algum humor; mas, se se trata de comportamentos graves aplico as consequências e não volto atrás com a palavra. E considero grave tudo o que representa ofensas, agressão e comportamentos que impedem o decurso da aula ou do trabalho dos colegas.
Sou completamente intolerante com a utilização dos telemóveis nas aulas. Em primeiro lugar, está proibido no regulamento da escola e não fazê-lo cumprir manda uma mensagem de desleixo e indiferença pelas regras comuns da sociedade escolar e em segundo lugar é das coisas que mais perturba o funcionamento das aulas. Aliás, sou intolerante com tudo que represente uma desobediência que ponha em causa o funcionamento comum dos espaços e dos grupos/alunos.
Tenho a certeza que custa dez vezes mais tentar remediar os problemas que resultam do hábito de se ter fechado os olhos ao que é grave do que preveni-lo habituando os alunos a arcarem com as consequências.
Hoje, à conversa com uma colega de Geografia que tem turmas do básico e do secundário dizia-me ela que em termos de preparação de aulas o básico não tem nada que ver com o secundário porque, enquanto no secundário se dá muita matéria por aula, no básico não se dá quase nada. Dois terços da aula são para gerir conflitos e conseguir disciplinar os miúdos de modo que dá-se muito pouca matéria. Agora imagine-se com 30 lá dentro.
Também no secundário o número de alunos faz muita diferença e de 24 para 30 a diferença é abissal. Vamos também tornar-nos mais gestores de conflitos que propriamente professores e quem diz que o número de alunos não faz diferença ou mente ou é ignorante ou fala com má-fé.
Há dias que começam muito bem e de repente descambam por causa de um indivíduo qualquer -que é sempre o mesmo- que nem se enxerga nem tem educação. Como diz o ditado, 'A ignorância é a mãe de todo o atrevimento'.
Hoje numa aula do 11º uma aluna pergunta-me as horas. Como ela está ali mesmo na primeira fila, virei o pulso e mostrei-lhe o relógio. Resposta, 'A professora tem que dizer-me porque não sei ver as horas nesses relógios que têm tracinhos e ponteiros'. (hã... OMG!); depois porque utilizei a palavra, 'incomensurabilidade' alguns acusaram-me de usar palavras muito compridas e estranhas. Então aproveitei para ensinar-lhes a palavra que caracteriza esse gosto por palavras compridas: 'sesquipedal'. O ar deles....lol, acho que eles acham que sou maluca :)
(Já não usava esta palavra há anos. Hoje já a vi três vezes).
Na minha escola vamos todos ter que entregar relatório de auto-avaliação mesmo não sendo obrigatório por lei, mesmo estando congelados e impedidos de progredir na carreira, mesmo estando sem parte do salário, mesmo estando sem receber subsídios de férias e Natal, mesmo sabendo que vamos ter mais turmas distribuídas manhosamente pelas que já existem aumentando o número de alunos por turma... apesar de tudo isto e de não ser obrigatório (por causa de tudo isto...) na minha escola determinaram que todos temos que fazer a avaliação como se nada se passasse.
Duas novidades: a primeira é que cheguei à escola e... dei com os homens das obras a partir o cimento exatamente no sítio onde há um mês abriram buracos no cimento, fecharam-nos e pintaram-nos de côr diferente da inicial. Hoje faziam-se apostas entre o buraco servir para instalar os famosos portões para passes eletrónicos ou... servir para a derrapagem através do gasto de cimento e tinta.
A segunda é que nos foi dado como certo irmos ser agrupados com a escola básica do bairro. Dizia-se que, como essa escola já está agrupada com uma pimária daquelas que também têm infantário, iriam transferir para a nossa escola os 7ºs, 8ºs e 9ºs (ou parte deles, pelo menos) para aumentarem as vagas do infantário e primária. Bem, se passarem esse anos todos para a nossa escola, esta passa de espaçosa a apertadinha, outra vez.
As funcionárias da secretaria estavam preocupadas com a questão das hierarquias: quem vai mandar em quem. Ninguém me soube dizer, ao certo, se este processo de agrupamento obriga a um concuso para Diretor.
Enfim, o dia hoje foi de rumores.
Hoje estive a falar de filosofia política com a turma do 10º ano: do conceito de justiça, segundo John Rawls. A justiça enquanto 'equidade' como sendo o maior desígnio do Estado. A justiça social, o papel da educação nesse desígnio, os nossos deveres enquanto cidadãos para o cumprimento desse desígnio, a responsabilidade individual e a partilhada pelos avanços e recuos sociais.
A Filosofia, quando vai à raíz dos problemas é sempre fácil de compreender porque imediatamente nos reportamos aos problemas de modo pessoal. Gerou-se uma discussão muito participada sobre toda a questão da justiça social enquanto dever, porque os miúdos estão habituados a ver a questão como um direito que lhes é devido e em relação ao qual não têm deveres.
A questão da 'obrigação' de aproveitar as oportunidades e a questão da partilha da responsabilidade foram discutidas com particular vivacidade. Isto porque tinha-os posto a ver o filme, 'A Última Caminhada' e foi a partir daí que discutimos a questão da justiça e da equidade. Como o filme, para além de ser muito impressionante, é muito rico no modo como mostra todas as facetas do crime, as pessoais e as sociais, as dos responsáveis diretos e as dos responsáveis indiretos, num sentido mais amplo e filosófico de sociedade kantiana, pode discutir-se com muito proveito.
Mais uma vez comprovei que a maioria dos alunos não tem nenhum problema em compreender as questões e discuti-las. O problemas deles é a falta de estudo continuado, a falta daquele trabalho de sedimentação que tem que ser feito para que este trabalho de aula deixe raízes e não se perca.
Às vezes vemos alunos em grande sofrimento emocional. Não que eles o digam, mas vê-se tão claramente na cara deles, nos olhos fixos, na maneira como se encolhem curvados nas cadeiras e passam a aula num silêncio quieto e pesado. É difícil assistir e impossivel não ver, pois que eles estão ali à nossa frente... Nesses dias não tenho coragem de os empurrar para a aula, por assim dizer e, deixo-os estar quietos no canto deles. No entanto, outras vezes sinto que envolvê-los na aula é uma maneira de se 'desencurvarem' e já me aconteceu, confesso, fazer desvios no curso de uma aula ou até reorientá-la completamente -sem que a turma perceba, claro está- a tentar ligar-lhes a ignição da vontade.
Hoje foi um desses dias.
Tenho uma turma do 11º ano que está a angariar dinheiro para fazer, no próximo ano letivo, uma viagem a Roma com a professora de História, que está a organizá-la. É a viagem de finalistas deles. Escolheram conhecer Roma, em vez de torrarem o dinheiro numa daquelas cidades espanholas onde, por essa altura, só se veem portugueses bêbedos e marroquinos a vender erva. Hoje vieram pedir-me para ir com eles nessa viagem. Apetece-me, sim :) De todas as vezes que lá fui fiquei mais encantada do que já estava e já lá não vou há meia dúzia de anos. Vamos ver.... será daqui a um ano.
Acho piada aos alunos nesta idade em que os apanho. Ainda não se distanciam da realidade a não ser com esforço de modo que, se estamos a ver um filme onde haja alguma cena de injustiça ou de cobardia, é normal começarmos a ouvir manifestações do género, 'grande cobarde, haviam de fazer-te o mesmo' e outros comentários do género. LOL
Hoje foi o dia do teste aquela turma híbrida do 11º ano. Meia dúzia deles acabou o teste com mais 40 minutos de antecedência (devem estar uma coisa linda...) e ficaram chateados porque não os deixei sair. Tiveram que ficar até ao fim sem incomodar. Disse-lhes que estava a contribuir para a formação deles e que tudo o que fazia dentro da sala de aula tinha objectivos pedagógicos. (lol)
Uma aluna pediu-me se podia ficar a tomar conta dum peixinho que trazia dentro dum saco de plástico: tinha-o ido buscar à loja para dar ao pai à hora do almoço (o pai tem um aquário todo xpto): presente do dia do pai... depois têm estas coisas queridas...
Hoje, amanhã e quarta: ver testes, ver testes, ver testes, notas, notas, notas...
(ps- hoje apareceram os do sindicato na escola: três -não percebi se era uma inspiração na tróica...-. Quiseram dar-me um papel da greve mas não aceitei. Estou farta destes tipos e do que fizeram e já não tenho idade para fretes de fingir que considero o que desconsidero.)
Ontem tive um desaguisadozinho naquela turma híbrida. Dá-se o caso de terem teste na segunda feira e estarmos a falar de métodos de estudo e a metade da turma que vem de Desporto ter a lata de dizer na minha cara que copiam desde sempre para todas as disciplinas. Que nisso do copianso têm curso superior.
Levei aquilo muito a mal e disse-lhes o que penso sobre copiar: estou profundamente convicta que há uma relação entre o copiar e a situação em que o país está, isto é, os alunos que ganham na escola o hábito de copiar e se safam com isso são os que depois vão para os diversos trabalhos e para a política, se for o caso, cometer fraudes, abusar dos poderes, corromper e ser corrompidos e contribuir para a degradação da vida democrática e moral do país pois estão habituados a fazer qualquer coisa para passar à frente.
Aqui disseram-me que eu tinha que admitir que saber copiar revela inteligência e dá trabalho: afinal, para fazerem cábulas têm que estudar! Quanto a revelar inteligência, disse-lhes que roubar um quadro de um museu revela inteligência e não é por isso que valorizamos, desculpamos ou admiramos os ladrões; em segundo lugar, não é verdade que para fazer cábulas tenham que estudar, como se prova pelo facto de alunos péssimos, incapazes de fazerem qualquer coisa positiva por si próprios, serem muitas vezes muito bons nesse serviço.
Ser-se espertalhão e ter talento para o embuste não significa saber trabalhar.
Um teste não serve apenas para classificar, tem também um papel pedagógico: testa e treina a capacidade do aluno dominar a tensão e a ansiedade próprias de não ter a certeza de se lembrar do que é necessário, ser capaz de lembrar-se da matéria sob pressão, ser capaz de gerir o tempo que tem para o trabalho, etc.
Um aluno que estude e faça os testes sem cábulas tem todo um trabalho intelectual de organização, associação e arquitectura de ideias e conteúdos de modo a saber, na altura do teste, recorrer à memória e aos conteúdos organizados e seleccionar os que interessam na resposta à questão. Um aluno que cabula, pode não compreender nada da matéria: geralmente os testes das disciplinas fazem perguntas sobre definições e fórmulas que eles só têm que copiar. Quer dizer, não aprendem nada com os testes que fazem e ficam sem noção do seu real valor.
Para além disso, é uma falta de respeito para com os colegas que trabalham e profundamente injusto que um aluno que não se dá ao trabalho de estudar e antes do teste pede o caderno a alguém e faz umas cábulas tenha a mesma nota, ou até melhor que outro que faz os possíveis para ultrapassar as suas dificuldades.
O que mais me choca nisto tudo é o à vontade com que disseram aquilo, pois mostra estarem habituados a que estas declarações sejam entendidas com graça. Pela maneira como a fraude está banalizada, isso dá a entender que a maioria dos professores, ou vê as cábulas e finge não ver, para não se chatear, ou não finge mas dá aquela de porreiraço que entende o copianço e até aprecia o engenho. É por estas e por outras que depois se ouve muito, relativamente à corrupção dos políticos, reações do género, 'É preciso reconhecer que foi esperto. No lugar dele fazia o mesmo'... e coisas assim.
Como me passei um bocado com estas declarações e preguei um sermão, começaram, 'Professora, acalme-se, é claro que consigo não se copia'.... pois claro, que eu nasci ontem e hoje já estou ali a dar aulas...
Acho que um professor tem que ser implacável nisso dos copianços. A profissão de professor e toda a educação assentam na verdade e na confiança. Todo o aluno espera, muito justamente,, que o professor fale verdade, seja de confiança e promova a justiça no espaço da sala de aula. Aceitar ser conivente, mesmo que não explicitamente, com uma mentira, é perverter todo o objectivo da educação. Porque os alunos, quando copiam, sabem muito bem que estão a tentar enganar o professor e o sistema, com a sua esperteza.
Avisei-os, primeiro que ia dizer a todos os professores o que me tinham dito de fazerem cábulas e copiarem para todas as disciplinas; depois eles já sabem que o dia do teste comigo é como se fosse dia de exame: em cima da mesa está a folha de teste e a esferográfica e mais nada - mochilas e livros, tudo longe. Disse-lhes que, se apanhar alguém com cábulas, leva zero no teste (não quero saber se copiou muito ou pouco porque isso é como um ladrão roubar um banco e depois dizer, 'Ah mas eu só roubei metade das notas'...; se aparecerem testes com respostas iguais, levam os dois zero, tanto o que copiou como o que deixou copiar; ainda levam zero no comportamento e passam a ter tratamento apropriado das pessoas em quem não se pode ter confiança.
É que até agora, esta turma, ou fez testes de lógica só com exercícios, e os testes tinham versão A, B e C (que eu já cá ando há muito tempo) ou fez trabalhos com defesa oral com avaliação individualizada. Mas o teste de segunda é um teste muito tradicional. Textos de filósofos que estivemos a dar para explicarem conceitos, ideias e teorias por palavras próprias.
Passo-me com esta praga dos copianços.
Um aluno que parecia ter voltado cheio de motivação às aulas depois de (parecer) ter desistido voltou a desisitir. Por vezes nada resulta apesar de se fazer tudo e mais alguma coisa com a maior das disponobilidades e boa vontade. Mas fica-se com um sabor mesmo amargo.
Agora que temos salas equipadas ando a aproveitar o investimento. Há muito material na internet para ser usado na Psicologia. As experiências originais de alguns dos grandes teóricos estão no youtube e em alguns sites especializados.No passado raramente as mostrava na aula e limitava-me a indicar os sites onde podiam vê-las porque mostrá-las implicava carregar com o portátil, o projector, a tela... muito esforço para passar uns vídeos.
No entanto, agora que é só ligar o PC e o projector uso isso sempre que há material que ilustra o que estamos a falar. Então hoje, como estávamos a falar das experiências da Mary Ainsworth e do Harlow sobre a vinculação e o afecto nas relações precoces abri o youtube e estivémos a ver experiências sobre os vários tipos de vinculação e a experiência de Harlow com os macacos bebés.
Como nessa página está a experiência do Watson com o Albert e o rato os alunos pediram-me para a ver. Estranhei que estivesse sem som, nomeadamente o barulho violento que condiciona o bebé. Só depois percebi. Todas estas experiências originais (a do Harlow também) estão cheias de comentários do tipo, 'bandidos, torturadores de animais, era bem feito que vos fizessem o mesmo' e tal... é por isso que a experiência do Albert está sem o som, que é justamente o estímulo condicionado: é porque é brutal demais! Assim como assim os comentários a essa experiência já são violentos mesmo sem o som que aterroriza o bebé...
De facto os tempos mudaram... para melhor. Certas coisas que se faziam sem perturbação agora são altamente criticáveis.
Hoje, a propósito da construção da identidade e da coincidência, ou não, das características identitárias subjectivas com as que os outros nos atribuem pus a turma do 12º ano a fazer um exercíciozinho. Cada um pôs o seu nome numa folha que passou a todos os outros para que estes escrevessem uma característica que pensem melhor define aquela pessoa. Anonimamente, claro. O objectivo sendo que cada um lesse depois a lista de características que os colegas lhe atribuem e visse se essa imagem que projeta equivale à percepção que tem de si mesmo.
O exercício foi muito interessante depois na parte da reflexão sobre a procura e construção da identidade pessoal e do modo como os outros são para nós, até certo ponto, um espelho para a auto-percepção.
Anyway... os miúdos não me deixaram de fora da coisa. Já que todos iam dizer características de todos, eu também tinha que ter a minha lista de características... okay... então a certa altura saí da sala aí uns cinco minutos para que eles escrevessem no quadro uma lista de características da minha pessoa. O número de virtudes era maior que o dos defeitos :)
Na turma do 12º profissional hoje foi dia de apresentarem trabalhos de grupo. Um dos grupos imitou-me em certas coisas que eu faço muito... Teve imensa graça...lol não estava à espera, fartei-me de rir.
Hoje, um aluno que já tinha desistido, voltou às aulas decidido a acabar o 11º ano e o 12º ano. Um aluno que já tenho desde o ano passado. Um rapaz interssante e interessado, com muito sentido de humor. Queria mudar para um curso que não existe ali na escola. Não conseguiu e começou a ficar cada vez mais desmotivado e a desaparecer nas aulas. Já quase não se dava por ele. Um aluno muito participativo e que gosta de discutir e isso. Bem, a Diretora de Turma falou com os pais e com ele e resultou porque ele hoje apareceu nas aulas. Parecia o P... de antigamente. Falei com ele no fim da aula, pareceu-me decidido. Espero que não volte a esmorecer. Se há coisa que detesto e me incomoda é ver alunos com potencial desistirem. Para nada. Porque não desistem para fazer alguma coisa melhor, não. Apenas desistem. Fica uma pessoa com uma sensação de impotência, ou incompetência, por não conseguir agarrá-los.
Dois testes para fazer para amanhã... mais preparar material para a reunião ao fim do dia...não apetece.
Coisas boas: a turma hibrída do 11º ano, desde que pus uns quatro ou cinco dos de Desporto mais um dos outros em regime de tolerância zero está uma maravilha. Uma hora e meia de trabalho intensivo em cada bloco de aulas. Os miúdos saem de lá com dores nas mãos de tanto escrever...eheh.
Agora ninguém fala sem pôr a mão no ar, ninguém interrompe ninguém, não há barulho, todos participam.
Estão sentados à minha maneira. É a primeira vez que não deixo alunos sentarem-se onde querem e os distribuo à minha maneira mas...o quem que ser tem muita força. Vamos ver se isto é para durar...nunca se sabe...também, se voltarem a mudar arranjo outra estratégia, logo se vê. Mas acho que é para durar. Agora que estão com atenção até começaram a interessar-se por discutir os assuntos. Até começo a achar piada a alguns. Pena que tenha tido que usar da força para irem ao lugar. Foram uns meses desperdiçados com preocupações disciplinares em vez de desenvolver outros aspetos mas é o que acontece quando os alunos chegam ao 11º ano neste estado e sem ordem nas aulas nada se ensina, nada se aprende.
Hoje estava a dar a Fenomenologia, na aula do 11º ano, com o famoso texto do Nicolai Hartmann e, à medida que o iamos discutindo e eu o ia explicando aos alunos estava, assim numa dimensão paralela do cérebro, a aplicar as ideias do texto a uma outra situação que nada tem a ver com esta aula e que me perturba, porque às vezes é difícil perceber como é que os outros não percebem o que é por demais evidente.
O texto começa assim:
1. Em todo o conhecimento, um «cognoscente» e um «conhecido», um sujeito e um objecto encontram-se face a face. A relação que existe entre os dois é o próprio conhecimento. A oposição dos dois termos não pode ser suprimida; esta oposição significa que os dois termos são originariamente separados um do outro, transcendentes um em relação ao outro.
2. Os dois termos da relação não podem ser separados dela sem deixar de ser sujeito e objecto. O sujeito só é sujeito em relação a um objecto e o objecto só é objecto em relação a um sujeito. Cada um deles apenas é o que é pela sua relação com o outro. Estão ligados um ao outro por uma estreita relação; condicionam-se reciprocamente. A sua relação é uma correlação.
3. A relação constitutiva do conhecimento é dupla, mas não é reversível. O facto de desempenhar o papel de sujeito em relação a um objecto é diferente do facto de desempenhar o papel de objecto em relação a um sujeito. No interior da correlação, sujeito e objecto não são, portanto, intermutáveis; a sua função é essencialmente diferente. (…)
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