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Dos alunos

por beatriz j a, em 22.01.18

 

 

Às vezes chateia as pessoas terem informações e guardarem-nas até ser demasiado tarde, sendo que, se as tivessem partilhado, podiam fazer-nos tratar de um caso de uma maneira completamente diferente. Quando temos um aluno impossível de ajudar porque toda a gente fez asneiras, uns por ignorância, outros por... os pais, o médico, outras pessoas que lidaram com ele... e só hoje, quando já não há nada a fazer, venho a saber de um facto que poderia ter modificado as coisas... agora vou ter que fazer uma coisa que nunca fiz e que não quero fazer mas que tenho que fazer. 

Há falta de psicólogos educacionais nas escolas. Os adolescentes estão numa idade complicada. Hoje falei com um aluno. Andava para falar com ele desde o princípio do ano mas quis esperar até ter a certeza de ele ter confiança em mim porque há miúdos que são como bambis, qualquer coisinha que interpretem como invasão de território, espantam-se, fecham-se e perdemo-los para sempre. Esperei quatro meses, pacientemente, até ele estar no ponto de poder falar com ele. Há alunos que andam num sofrimento diário, escusadamente, quando há solução para os seus problemas. Isto é, se tiverem acesso a um profissional que os trate, o que não é certo, porque 700 mil portugueses não têm médico de família.

Estas coisas stressam-me. Não me posso stressar que amanhã vou fazer um exame detestável e o stress é capaz de afectar os níveis de não sei quê...

 

publicado às 20:07


dos alunos do 10º ano

por beatriz j a, em 01.12.17

 

 

Passei o dia a corrigir testes do 10º ano. Resolvi fazer uma questão com os dois textos citados em baixo, numa das turmas, para ver o que os miúdos eram capazes de reflectir e dizer sobre o assunto visto que andámos um pouco à volta disto numa aula em que falámos de um argumento do Platão no Fédon sobre a diferença entre perguntar pelo movimento das coisas, pelo funcionamento e pela técnica e perguntar pelo sentido e porquê das coisas. Gosto de pôr nos testes uma questão que permita ver quem é capaz de ir mais além e tem já alguma autonomia de pensamento. Tenho uma meia dúzia de respostas tão interessantes e bem pensadas que fiquei animada. A melhor das respostas é de um miúdo muito calado que mal dou por ele nas aulas no meio daquela gente toda...

No 10º ano entro na Filosofia muito devagar para dar tempo a que se adaptem e desenvolvam certas competências de pensamento e de escrita. Não me interessa o que dizem os manuais em uso que passam por cima, a correr, desta questão e entram logo a falar da lógica e da argumentação o que me parece errado por dar uma ideia retórica e sofista, no uso prejurativo do termo, da filosofia. Eu gosto de começar o 10º ano com Heraclito e Parménides -que não aparecem am manual algum- e o que se aprende com estes dois filósofos pré-socráticos usa-se recorrentemente e com muito lucro ao longo dos dois anos do curso.

 

“Num mundo altamente especializado onde a prioridade é dada à produção de bens, ao consumo e ao prazer, cada vez é mais necessário encontrar um saber que nos ajude a refletir sobre os nossos valores, para podermos encontrar normas de vida, uma sabedoria que permita um mundo no qual conhecimento e justiça social possam coexistir” (J. B)

Depois de ter interrogado o mundo como matemático, biólogo, médico, economista, posso ainda pensar em mim próprio e perguntar: E eu, quem sou eu, que me ocupo da ciência, da técnica, da economia? Qual o sentido da minha existência como totalidade? O que é que, em última análise, valho eu e a minha vida? (Dondeyne)

 

publicado às 18:50


dos alunos

por beatriz j a, em 26.09.17

 

 

Este ano tenho uma aluna com síndrome de tourette, coisa que nunca tinha apanhado nas aulas. A rapariga é interessada e muito interessante. Uma vivaça, muito participativa e inteligente. Muito positiva. Parece que no ano passado não era assim. Na primeira aula pediu a um dos professores para falar à turma e explicou aos colegas a doença que tem, toda a parafrenália de tiques, etc. - sabe mais da doença que todos nós juntos. Quis que todos soubessem tudo. Na minha primeira aula com a turma pediu para falar, perguntou-me se eu sabia que ela tinha estado internada no ano passado -disse que sim-, explicou a terapia que lhe fizeram para mudar-lhe o 'framework mental', como ela diz, para aprender a ter uma atitude positiva e de aceitação da doença e da relação com os outros. Quem trabalhou com ela na Estefânia fez um bom trabalho. 

Disse-me que se interessa por Nietzsche e perguntou-me se o íamos dar. Não vamos mas, vou arranjar-lhe qualquer coisa apropriada para a idade dela para ler. Acho a garota muito querida.

 

publicado às 22:57


Quando os alunos têm piada :)

por beatriz j a, em 20.09.17

 

 

No primeiro dia de aulas disse a uma turma do 10º ano que temos que ir todos para a aula com a cara nº1. 'O que é isso?', perguntaram. Isso é, 'uau vamos para a aula de Filosofia! Espectáculo!' Diz um miúdo, 'então e o que acontece se não trouxermos a cara nº1?' Responde outro, 'levas falta de material'  ahahah  fartei-me de rir, teve mesmo piada.

 

publicado às 17:46


Frustrante...

por beatriz j a, em 16.06.17

 

 

Último dia de aulas. Vou entregar notas de trabalhos à turma do 10º ano e vamos fazer a avaliação. Uma pessoa diz aos miúdos, 'este trabalho é fácil. É só seguirem as instruções e não caírem na tentação de cometer este erro, aquele e mais ou outro'. Começamos a ver os trabalhos e o que acontece? Metade da turma cometeu este erro, aquele e mais o outro...

Às vezes não há paciência...não sei porque é que isto dos miúdos ouvirem e fazerem o oposto acontece... é um mistério... no outro dia passei um filme a propósito do tema que estávamos a dar e avisei, 'os primeiros três minutos do filme são falados em alemão e não há legendas mas é mesmo assim, faz parte do sentido do filme'. O filme começa e ouço logo umas vozes, 'professora, isto é em alemão e esqueceu-se das legendas'. Porque é que isto acontece, não sei... é um mistério...

 

 

publicado às 07:01


dos alunos - uma turma inesquecível

por beatriz j a, em 06.06.17

 

 

Há bocado despedi-me de uma turma do 12º ano que acompanho há três anos. Lembro de falar aqui deles (em vários posts) logo no 10º ano, nas primeiras aulas, porque foram, desde o início, uma turma absolutamente espectacular. Uma energia positiva, uma vontade de aprender, uma combatividade, um espírito crítico apurado, uma capacidade de auto-crítica, de evolução, uma criatividade fantástica, um sentido de humor extraordinário, um espírito de entre-ajuda, um respeito uns pelos outros e pelos professores... não dá para explicar... só vendo. Sempre cheios de iniciativas. Uma pessoa até pode entrar na sala de aula chateada com a vida que passados dois minutos já está bem disposta. Têm todas as virtudes e nenhum dos defeitos. 

Depois, demo-nos tão bem desde a primeira aula que todas as aulas desde o 10º ano foram um prazer.

Hoje perguntei-lhes o que achavam que eu podia ter feito melhor nas aulas e pedi-lhes sugestões, porque valorizo a opinião deles. Depois disse-lhes tudo o que penso deles e o prazer que foram estes três anos de trabalho.

Depois fizeram-me um cena do tipo, O Captain! my Captain! e deram-me umas florzinhas que apanharam no campo. Muito queridos.

 

 

publicado às 14:08


dos alunos - a minha turma do 10º ano

por beatriz j a, em 26.05.17

 

 

Hoje na turma do 10º ano, um pedacinho da aula, foi isto, com as perguntas [minhas] e respostas [deles] acerca da fruição da arte:

 

Eu- em que sentido é que falamos de uma experiência estética?

A- no que somos capazes de sentir com uma obra de arte.

Eu- só sentir?

A- não, pensar também e evocar recordações ou pessoas ou experiências.

Eu- e o que fazemos com esse material?

A- juntamos tudo numa emoção, ou várias, se calhar.

Eu- que tipo de emoção?

A- alegria, surpresa, horror, admiração, nojo, paixão, excitação, riso, revolta. Depende da obra. 

Eu- quer dizer que nem sempre a obra de arte é bela, se causa horror ou nojo? E nem sempre é um prazer a sua contemplação?

A- o prazer pode vir dessas emoções, por exemplo, às vezes causa tristeza e é a tristeza que procuramos.

Eu- somos masoquistas?

A- não, mas por exemplo na música somos capazes de ficar muito tempo a ouvir só músicas tristes que nos fazem sentir tristes mas bem ao mesmo tempo.

Eu- explique melhor. Procuramos uma experiência estética que nos dê o prazer de sentir mal?

A- não é bem isso.

Eu- então, eu pergunto de outra maneira: se a tristeza causa sofrimento porque é que procuramos obras tristes, pesadas, depressivas - há pessoas que durante estados depressivos ficam obcecadas por certa música, certo poema, certa pintura, que olham ou ouvem vezes sem conta... que prazer estético é que isso pode proporcionar?

A- sabermos e sentirmos que alguém sente como nós ou já se sentiu como nós e não somos os únicos, é como se fosse um amigo que está connosco e nos percebe e nos acompanha na tristeza para não nos sentirmos sós.

Eu- então uma obra triste, ou de horror, ou de vazio, etc., quer dizer, uma obra que não tem aqueles canons que vimos corresponderem aos ideais do que vulgarmente se considera belo pode ser, no entanto, bela?

A- sim.

Eu- então voltamos ao princípio. Em que consiste uma experiência estética?

A- numa emoção que tem um grande impacto em nós, que pode ser nossa ou da obra ou dos dois ao mesmo tempo.

A- se usarmos a imaginação podemos sentir o que o autor sentiu, podemos ir aos lugares que descreve ou pinta ou isso e ser ele, com a vida dele.

Eu- e isso é bom porquê?

A- Porque a nossa experiência é limitada e é uma maneira de vivermos outras experiências, outras vidas que nunca havemos de ter [quem disse isto é um miúdo que tem más notas a muitas disciplinas].

 

(isto foi só um pedacinho da aula mas as aulas com esta turma são muito assim. a maioria destes miúdos tem 15 anos, nunca foi a um museu nem nunca tinha visto uma obra de arte. é preciso vê-los, muito sérios, a discutir e pensar e tentar perceber as coisas, a vida e o lugar deles nela para se perceber porque se gosta desta profissão. a mim parece-me que os miúdos têm mais do que aquilo que se tira deles)

 

 

uma música [das mais tristes de sempre] bela de ficar emocionada de triste :)

 

publicado às 22:58

 

 

Este ano tenho uma turma do 10º ano muito engraçada. Têm sentido de humor. Há lá um rapaz que está no 10º ano pela terceira vez. O miúdo é esperto e tem densidade, logo, há esperança. Geralmente ataco estes casos com uma lógica no extremo oposto daquilo que eles esperam: que tenhamos muito baixas expectativas relativamente à sua capacidade de fazer algo de jeito. Mas eu gosto de desafios de modo que é com prazer que me atiro a caso complicados. [aqui há uns anos fiz um projecto (todo feito no meu tempo livre, não pedia crédito horário) dedicado a recuperar casos isolados complicados de várias naturezas; não mo aprovaram; nem o compreenderam... whatever... fiz na mesma porque a mim o que me interessa são os alunos enquanto pessoas e não o folclore e não deixo de ajudar alunos por causa das limitações alheias]

É claro que nem sempre se consegue mas como sou teimosa e não sei desistir quando acredito e gosto das coisas e das pessoas tenho muitos mais casos de sucesso que de falhanço. Então, desde a primeira aula comecei a puxar por ele sem ele perceber com pequenas provocações e outras estratégias que aqui não importa dizer e ele responde, porque é inteligente. Tornou-se muito participativo. Falei com os colegas do conselho de turma e ele está assim participativo em várias disciplinas o que me dá uma pista sobre as motivações dele. Hoje vi o teste dele e nota-se um grande esforço e vontade de acertar, apesar do português não ser a 1ª língua dele (ele não é português embora fale com muito desembaraço) o que lhe dificulta o trabalho. Gostei. Agora é preciso passar à fase seguinte que é conseguir que ele não perca o gás.

Mas o que quero dizer é que não é verdade que os alunos não se interessam por nada. A grande maioria interessa-se por muita coisa, só que, quando chegam a estas situações complicadas de muitos chumbos (ou não chumbos mas terem vidas muito difíceis - hoje a fazer actualização de dados de alunos dei-me conta que em vários casos a profissão da mãe é, 'desempregada' e a do pai também e nem sequer são os casos mais dramáticos...) já não sabem o que fazer, não sabem como interessar-se, como mostrar que querem interessar-se, já não acreditam... uma pessoa tem que acreditar por eles e pegar-lhes isso, sem eles perceberem.

Se as turmas não tivessem trinta e mais alunos podíamos evitar muita situação destas. Por exemplo, nesta turma há lá outro caso muito complicado. Uma pessoa a quem é muito, muito difícil chegar e que no entanto precisa muito que alguém lá chegue. Mas como é que uma pessoa pode focar-se em vários alunos complicados em turmas tão grandes e com tantas turmas... fora o resto do trabalho?

Este ministro falhou o teste mais importante e estou desejando que se vá porque cada dia que passa sem fazer o que tem que ser feito é mais um prego no caixão da educação. Não está à altura dos desafios. 

 

 

publicado às 19:02


Dos alunos

por beatriz j a, em 10.11.16

 

 

Hoje um aluno chegou um bocado atrasado à aula e bateu à porta com três toques rápidos e um lento, no tom exacto das primeiras notas da 5ª sinfonia do Beethoven. Achei piada e disse-lhe, na brincadeira, 'como mostrou bom gosto a tocar à porta com música erudita livra-se da falta'. Ficou olhar para mim como se eu tivesse falado chinês. Não percebeu. E não percebeu porque não conhece a música. Como é possível não se conhecer as primeiras notas dessa sinfonia? Pois a maioria da turma não sabe, não conhece. Chocante. Vou inventar um desafio para pôr os miúdos a conhecer alguma coisa da música clássica. É que é um prazer e um consolo tão grande, hoje em dia ao alcance de qualquer um que tenha telemóvel e internet, que é uma pena as pessoas passarem ao lado disso e não saberem desfrutar por falta de estímulo e conhecimento. Nem imagino como seria em outros séculos onde para se ouvir tocar uma peça era necessário viver em um sítio onde alguma orquestra a soubesse tocar e tocasse ou viajar para ouvir e, mesmo assim, ouvia-se uma vez e pronto. 

 

 

publicado às 20:19


Dos alunos

por beatriz j a, em 03.10.16

 

 

As aulas de Psicologia em que se fala de Freud (incluído no tema dos conceitos e autores fundadores/estruturadores), da Psicanálise, do desenvolvimento da sexualidade infantil e do papel da energia da líbido no comportamento humano são muito populares e entusiasmam sempre os alunos, vá-se lá saber porquê... 

 

 

publicado às 15:43


dos alunos - a beleza das coisas belas

por beatriz j a, em 09.12.15

 

 

Hoje passei o filme, O Menino Selvagem do François Truffaut numa turma do 10º ano porque andamos a falar de como o contexto socio-cultural nos modifica e condiciona, também biologicamente. A turma é fraca. Alunos que não estão habituados a trabalhar, a ser autónomos e a saber executar as tarefas académicas mais básicas. No entanto, gostam de perceber as coisas e de discutir ideias de modo que resolvi experimentar. Avisei-os que o fime é francês, a preto e branco, que quase não tem diálogos porque o rapaz não fala, que não tem cenas de bang bang e que tinha outro filme alternativo embora achasse este mais apropriado para ilustrar e pensar o tema. Pus a democracia a funcionar e deixei-os escolher. Votaram e a maioria quis ver o Menino Selvagem o que achei um bom auspício, esse de que não escolhem o aparentemente mais fácil.  

Durante o filme fui fazendo notar alguns pormenores para facilitar o trabalho de o relacionar com a matéria mas o filme é tão bom e tão belo que os miúdos estão completamente vidrados no filme. Como o filme é pouco barulhento reparam em todos os ruídos, em todos os gestos, nas expressões... isso foi uma coisa que se perdeu muito com os filmes actuais que têm músicas sempre agressivas e sem pausas e ausência de planos fixos, imagens que façam os olhos demorarem-se e apreciar e que façam a cabeça pensar, imagens que permaneçam por muito tempo mesmo depois de termos esquecido os filmes... A beleza das coisas belas impressiona, deixa marca e por isso não se desactualiza a quem a olha com olhos de ver e sensibilidade de reparar.

 

 

A Man Feeding Swans in the #Snow in Krakow, Poland By Marcin Ryczek 

 

 

fui sapada  Thanks!!!

 

 

publicado às 15:38


dos alunos

por beatriz j a, em 16.11.15

 

 

Aqueles dias em que certos alunos se comportam como quem está no café à espera de ser servido e, de preferência, com um sorriso nos lábios. Atraso de vida. Não há pachorra...

 

 

publicado às 14:57


dos alunos

por beatriz j a, em 26.10.15

 

 

 

Este ano tenho uma turma de Artes do 10º ano muito engraçada. Tem um grupo de cinco ou seis muito engraçados e provocadores que respondem às minhas provocações e dão luta a discutir de modo que o ambiente pega-se aos outros e as aulas são animadas e giras. 

 

Hoje estivémos a discutir esta frase, O Mundo da vida é o mundo espacio-temporal das coisas tal como nós as sentimos na nossa vida pré e extracientífica. Temos um horizonte do mundo que não é mais do que o horizonte de uma experiência possível das coisas, entre outras experiências possíveis (Husserl) e esta imagem:

 

 

 Salvador Dali - Cisnes Reflectindo Elefantes, 1937

 

 

publicado às 16:29


dos alunos

por beatriz j a, em 30.09.15

 

 

 

Este ano vou pôr à prova uma hipótese com uma turma do 10º ano que tenho, muito, muito fraquinha, onde metade dos alunos são repetentes. No entanto, é uma turma anormalmente pequena para aquilo que é hoje em dia o habitual e, é uma das minhas DTs. Logo, vamos apostar em pôr os alunos todos a passar o ano com notas razoáveis e mudar-lhes a atitude face ao estudo. Vamos ver se é verdade que uma turma, mesmo com com muitas dificuldades, sendo pequena, consegue progredir acima das expectativas. É claro que a turma ser pequena não obsta a que os seus professores não tenham outras -muitas- turmas cheias de alunos e estejam cheios de trabalho mas... mesmo assim, vamos aqui fazer uma experiência a ver se resulta. Tenho umas ideias.

 

 

publicado às 18:30


Lido na capa do caderno de um aluno

por beatriz j a, em 28.05.15

  

 

"Antes morrer de pé que viver de joelhos" (uma frase de letra de música?) Gostei :))

 

 

publicado às 18:21


O que me ri agora com a turma do 10º ano :))

por beatriz j a, em 22.05.15

 

 

 

Às vezes acontece termos pensado seguir um caminho mas a dinâmica da aula leva-nos a enveredar por cruzamentos que nos levam a pontos completamente fora do mapa e, quando a dinâmica é interessante e produtiva deixamo-la fluir naturalmente e vamos sem bússula, um pouco à aventura, com fé que o destino seja compensador. Hoje a aula com esta turma do 10º foi assim.

Estamos a dar a estética e hoje começámos com o 'Poema das Coisas Belas' do António Gedeão

 

As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivos serão belas?
E belas, para quê?

Põe-se o Sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr do sol?
E belo, para quê?

Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?

Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?

 

Gerou-se uma enorme discussão à volta do assunto da penúltima estrofe que levanta a questão das coisas não terem uma existência objectiva, própria, independente da nossa percepção delas o que nos levou por caminhos até ao assunto da subjectividade na percepção das cores. Contei-lhes do azul ser uma cor relativamente recente e como até há uns séculos não existia a palavra para nomear o azul e, provavelmente, ninguém via o azul, pelo menos como azul. Nesta altura foi o desatino porque eles não percebiam como é que isso pode ser. Aí liguei o projector e fiz-lhes umas demonstrações para 'verem claramente visto' que nem sempre vemos o que está à vista e quando o vemos vêmo-lo de inúmeras maneiras diferentes e subjectivas. Bem, a conversa foi dar à influência de umas culturas nas outras e fomos dar ao mandarim(!!) de modo que acabámos a aula a passar um pequeno vídeo com certas palavras em mandarim para aprender a fonética. Aqui foi a risota total até ao fim da aula.

Às vezes, A Little Chaos é um processo muito produtivo, se pensarmos que o cosmos é uma ordenação criativa do caos.

Enfim, foi uma óptima maneira de acabar a sexta-feira de trabalho.

 

 

publicado às 18:02


dos alunos no país que temos

por beatriz j a, em 04.05.15

 

 

 

Ando a dar a Estética às turmas do 10º ano. Nestas ocasiões o país que temos bate-me na cara com força. É que a esmagadora maioria dos meus alunos não sabe nada de arte, nunca pôs os pés num museu, nunca sequer se interessou em entrar nas Igrejas da terra (esta semana o trabalho de casa vai ser mandá-los a uma Igreja ver o que lá existe), nunca viu um livro de arte, nem sabia que tais coisas existiam; só ouvem música de rádio e de MTV, só vêem filmes de bang-bang e, pior que tudo, muitos acham que estão muito bem assim e repetem aquelas parvoíces de cada um ter o seu gosto, que não se discute, dando razão ao Platão quando dizia que a grande maioria das pessoas é ignorante, vive preso a um mundo de opiniões muito longe da luz e é hostil com quem os tenta libertar dessa terrível condição, sendo por isso que a educação tem sempre uma parte de 'violência', de forçar os olhos a desviar-se das trevas e a olhar a luz, o que, depois de tanto tempo habituados às trevas, custa, e daí a resistência dos alunos a tudo o que implique esforço.

Faz-me impressão este país que temos e que tanto despreza a cultura e ignora as vantagens de termos pessoas educadas e não com esta mentalidade rústica e embrutecida. Em outros países vemos os pais, desde muito cedo na vida dos filhos, levá-los a museus, a concertos, a edifícios públicos, a livrarias, enfim, desenvolvem-lhes a sensibilidade estética, essa capacidade de apreciar e gozar o que é belo e educam-lhes o gosto, quanto mais não seja, pelo contacto frequente com as obras de arte. Mas cá em Portugal os governantes, talvez porque tenham eles mesmos uma mentalidade rústica, não educada esteticamente, não compreendem a importância da arte e da cultura no desenvolvimento das pessoas e do país.

Todas as vezes que tenho turmas do 10º ano dou essa matéria na esperança de abrir neles essa porta que dá acesso à fruição estética. Mas não é fácil, de tal modo estão habituados às músicas sentimentais, aos programas de Tv todos virados para o embrutecimento e para a ignorância. Não é assim em todo o lado. Há muito países em que existe uma preocupação em alargar ao máximo de pessoas possível essa vivência da cultura e da arte que tanta falta faz para abrir horizontes e alargar mentalidades, sem os quais nunca saíremos desta cepa torta.

 

 

publicado às 23:26


Dos alunos e não só

por beatriz j a, em 11.03.15

 

 

 

Hoje os alunos do 10º ano perguntaram-me se eu fazia greve na sexta. Eu nem sabia que havia uma greve marcada para sexta, calha bem... disse-lhes que não, o que foi uma enorme desilusão porque na sexta à tarde têm teste e é sabido que os alunos rezam a todos os santinhos para que aconteça qualquer coisa que obrigue a professora a adiar o teste (desde cair da escada até ter uma gripe súbita à entrada da sala de aula) e a greve deve ter-lhes parecido da ordem do milagre :)

Enfim, estou aqui a fazer o teste e tive uma ideia engraçada dum exercício completamente diferente para pôr no teste e só de pensar na reacção que sei vão ter (vão achar imensa piada) já estou a sorrir.

 

Hoje estava a falar com a turma do 12º ano (que na realidade são 3 turmas juntas) que trago, com excepção de uns seis alunos, desde o 10º ano, sobre a evolução deles porque veio à baila a propósito da matéria que estamos a trabalhar. Uma pessoa acompanha-os desde o 10º ano e vê-os evoluir brutalmente em maturidade, em inteligência, em perspicácia, nas expectativas... é giro e vou sentir falta deles porque construímos uma relação próxima e amigável e porque são garotos/as impecáveis, bué simpáticos e, ainda por cima, bons alunos :))

 

Enfim, não vou fazer esta greve de calendário... nem compreendo isto... mas lá está, devo ser eu que sou muito estúpida...

 

 

publicado às 20:29


Dos alunos

por beatriz j a, em 26.02.15

 

 

 

Então hoje ficámos a saber que há uma aplicação nos smartphones que liga e desliga os projectores... que era mesmo o que estávamos a precisar... querer trabalhar e estar um espertinho qualquer a interferir com o projector. 

 

 

publicado às 19:14


Dos alunos

por beatriz j a, em 11.12.14

 

 

No fim do ano há alunos que vêm ter connosco e pedem conselho sobre percursos, opções, etc., porque sabem que os conhecemos e sabemos mais ou menos as suas potencialidades, interesses, etc. Nós aconselhamos com base nesses conhecimentos e nos muitos anos de experiência que, além de conhecimentos nos dão uma intuição fundamentada. Ora bem, o que fazem alguns? Outra coisa completamente diferente do que lhes dissémos... depois passados uns meses vêm ter connosco a pedir ajuda para emendar os passos porque chegaram à conclusão que tínhamos razão e que cometeram um grande erro... pois, só que nessa altura, às vezes ainda podemos remediar mas, outras vezes, já passou o tempo de podermos fazer alguma coisa... that's life...

 

Outros tomam decisões imprudentes e disparatadas assim de repente ainda o ano vai pouco depois do início. Uma pessoa tenta dissuadi-los, fala com os pais, explica com muita paciência que estão a cometer um erro e porquê e quais as consequências... nada, os meninos mandam nos pais, dizem aos pais que sabem muito bem o que querem... é claro que quando chegar ao fim do ano e a asneira que fizeram lhes bater na cara com violência, vão dar-se conta de que sempre estiveram errados... mas que podemos fazer? Nada, a não ser esperar. Cá estamos para ver o desfecho inevitável...

Talvez seja necessário que cometam esses erros para se darem conta deles... é que tantos alunos estão habituados a que lhes retirem todos os obstáculos do caminho -os pais, os professores, as escolas- que nunca se dão conta que caminharam muitas vezes à borda do alçapão e nunca percebem que fazem péssimas escolhas porque há sempre alguém que manobra para eles não terem que sofrer com as consequências. Nunca crescem.

 

Depois há os alunos preguiçosos. Este ano tenho uma turma com muitos preguiçosos... o primeiro impulso deles, prejudicando-se a si mesmos, já que correm o risco de que os achemos uns incapazes, é dizerem, 'não sou capaz', 'não me lembro', 'não sei', tudo para não terem que fazer um esforço e ser o professor a fazê-lo por eles... sendo que é tudo mentira porque se os obrigarmos, à força mesmo, a fazer as coisas, lembram-se de tudo e fazem-nas. Então para quê a cena de se fazerem de atrasadinhos, de patetas mentais...?

Hoje tive uma conversa 'de homem para homem' com a turma de preguiçosos profissionais e disse-lhes que se não mudam de atitude correm o risco dos professores desistirem deles, quer dizer, irem para as aulas, darem a matéria, fazrem o que têm a fazer e irem-se embora sem mais, porque é um desgaste tremendo, um esforço inglório e as pessoas têm mais alunos em quem investir - alguns têm mais 120, ou 200 alunos... as turmas estão a abarrotar e o que não falta são alunos interessados. Ficaram muito sérios mas acho que vão esquecer tudo no Natal.

 

É precisa uma paciência...

 

publicado às 22:42


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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