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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Entre a fronteira do Egipto e Bengasi as autoridades oficiais desapareceram, só há civis (Marco Longari/AFP) Público
E Mahmoud explica: "Tudo era proibido na Líbia. Ninguém podia falar. Nem se podia pronunciar o nome de Khadafi. Tínhamos de dizer "o líder". Se chegasse aqui um estrangeiro, era logo preso, interrogado pela polícia secreta até confessar ser um espião ao serviço de Israel ou dos americanos."
Desde Musa"id, na fronteira com o Egipto, até Bengasi, passando por Tobruk, Derna e Beida, percebe-se que as pessoas raramente viram um estrangeiro. Mas estão contentes por os receberem agora. " Bem-vindos à Líbia", dizem na fronteira, que não tem guardas. Está aberta. Um homem diz: "Vou só ali apontar os vossos nomes... Podem seguir". Na estrada há checkpoints, com homens armados, que não pertencem à polícia nem ao Exército. Alguns vestem fardas de camuflado e têm ao ombro uma espingarda, uma arma automática ou mesmo um RPG. Mas são civis. As autoridades oficiais desapareceram de todo o Leste da Líbia.
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"Tudo o que Khadafi diz de nós é mentira", garante Zakaria, junto às fotografias dos cadáveres mutilados. "Nós não somos agentes de Bin Laden. Ninguém aqui gosta do Bin Laden. E também não é verdade que o país esteja dividido. O povo líbio está unido e a nossa capital é Trípoli. Khadadi quer roubá-la de nós, mas não deixaremos."
No minarete da mesquita está pregada uma bandeira da Líbia monárquica, que se tornou também símbolo da revolução. À medida que saem da oração, os homens amontoam-se em frente ao muro das fotografias insuportáveis e ficam a mirá-las com uma misteriosa familiaridade. Fixam-nas longamente, com uma expressão perscrutadora e curiosa, como nómadas que se vissem ao espelho pela primeira vez depois de uma longa viagem.
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