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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
As pessoas vêem-se, penso, na infância e na idade adulta. Qualquer coisa do que a pessoa vem a ser já se vê na infância, talvez por as crianças não dissimularem ainda o seu temperamento. Depois, só mais tarde na idade adulta se volta a ver a pessoa. A adolescência é uma idade de interregno em que tudo é forte e jovem e a vida um imenso campo para explorar. Na juventude as pessoas discutem, interessam-se, ouvem música, são curiosas, lutam por valores e princípios e, acima de tudo, dão valor aos amigos. Mas porque tudo vem sem esforço: as pessoas encontram-se todos os dias nas aulas e passam os dias com os amigos a trocar de ideias e experiências.
É mais tarde, na idade adulta, que se vê quem ficou ali cristalizado na adolescência e não evoluiu no modo de ser e fazer apesar de a vida não parar para ninguém.
A maior parte dos adultos já não luta por valores nem princípios, não discute, não lê, não ouve música, não se interessa pelo mundo, pela justiça e não tem amigos, só conhecidos, não tem inteligência, só esquemas e truques. Na realidade a juventude não é naturalmente eterna -para continuar exige espírito- e alguns ficam velhos logo ali no início da idade adulta. A juventude é uma fase que passa rapidamente por eles e convencem-se que é mesmo assim, que as coisas que fazem parte dela são fases, que as discussões são coisas pueris, que as brincadeiras são desadequadas, que as conversas infinitas são desperdício de tempo, que a amizade não existe, que as pessoas acabam sempre por separar-se, etc. E deixam de se espantar com o mundo. E deixam de ver as estrelas. E com essa cegueira desvalorizam tudo e todos, a começar por si próprios e pela sua própria vida.
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