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The reader

por beatriz j a, em 10.06.09

 

 

The Reader

 

 

 

 Hoje estive a ver este filme absolutamente extraordinário.

O filme é a adaptação cinematográfica do livro O Leitor do escritor alemão Bernhard Schlink.

Como todos os bons filmes é polissémico e riquíssimo nessa pluralidade de sentidos.

Conta a história de um rapaz de 16 anos que tem um affair, curto mas de efeito dramático, com uma mulher de 36 anos durante um verão no pós-guerra alemão. Uns anos mais tarde, ainda na universidade, descobre, por acaso, o passado nazi dessa mulher.

O filme lida com a 'culpabilidade alemã' dum modo explicíto: o livro de Karl Jaspers, filósofo alemão, A Culpabilidade Alemã (já uma vez falei dele num post) é expressamente citado.

Nos vários graus da culpabilidade alemã estão representados os que cometeram os crimes, o regime que o permitiu, os que conheciam os segredos e os calaram e toda a complexidade do assunto.

 

Naquele romance, a mulher mais velha representa a velha alemanha nazi, ignorante, agressiva e amoral, mas absolutamente fascinante; o rapaz de 16 anos representa a nova alemanha que tenta afirmar-se a partir da outra e lidar com os segredos da outra.

Nisso o filme está extraordinário: vemos que é a mulher que revela ao rapaz as suas potencialidades e, nessa medida, lhe permite a afirmação e o desenvolvimento como pessoa; por outro lado, a descoberta do passado nazi dessa mulher/amante -com quem o rapaz, e mais tarde o homem, solitário e em permanente sofrimento, tem uma relação de profunda identificação ao nivel do que há de mais intimo no ser humano- revela toda a complexidade da culpa, a dificuldade de reconciliação necessária, a questão legal e a questão moral, a mistura de sentimentos de amor-ódio-culpa, filho e amante da pátria mãe. Como é possível viver ou amar depois de se perceber que aqueles a quem olhamos como exemplos, mentores (pais, professores, etc) e a quem amámos estariam, ao mesmo tempo que nos amavam e ensinavam, implicados em crimes horrendos? Essa é a questão.

O rapaz, já homem, tem para com a mulher um acto de profundo amor, ao dar-lhe a possibilidade de tomar consciência do seu crime e de ter, desse modo, um certo tipo de redenção. Deu-lhe a possibilidade de re-ganhar um rosto humano, uma espécie de reconciliação com o mundo e consigo própria. É absolutamente comovente essa cena, de cortar a respiração.

A maneira como os personagens são filmados, o cenário e as cores revelam-nos as emoções profundas e as lutas interiores por que passam dum modo que vai do mais cru ao mais comovente.

Um filme que impressiona e faz pensar. 

 

 

 

publicado às 12:20


4 comentários

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De beatriz j a a 16.06.2009 às 19:38

Ela não diz a verdade por vergonha de ter de confessar que não sabe ler nem escrever. E candidata-se ao lugar nas SS porque foi promovida no emprego a empregada no escritório, o que a obrigava a confessar não saber ler nem escrever.
Mas ela é uma pessoa com sensibilidade. É esse o ponto da questão: como é que milhões de alemães, sensíveis, pais de família, etc., fizeram o que fizeram, e como é que a geração mais nova (filhos, por exemplo) lida com essa herança dos pais.

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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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