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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
No que respeita aos trabalhadores, penso que podemos dividi-los em duas grandes categorias: os que trabalham tendo como prioridade a melhoria da sua posição dentro do sistema/ empresa/local de trabalho, e os que trabalham tendo como prioridade encontrar soluções para melhorar o próprio sistema/empresa/local de trabalho.
Os primeiros trabalham com vista a promoções ou a uma melhoria das suas condições pessoais de trabalho. Não significa que não se interessem pelo resultado final do trabalho, mas estão menos conscientes dele porque a primazia vai toda para o seu perímetro de vida pessoal e aí encontram a sua motivação. Estas pessoas continuam a trabalhar com razoável satisfação num sistema que deixou de fazer sentido ou que se tornou ineficaz e injusto, desde que o seu esquema de carreiras e promoções e aumentos continue a funcionar razoavelmente, porque de qualquer modo a sua ideia de trabalho é fazer o suficiente para se safarem. Rápida e imediatamente se ajustam às novas ordens ou a um novo esquema de chefias ou a novas exigências - só querem saber o que há a fazer, quantas vezes e, sobretudo, a quem se deve mostrar.
Os segundos -que são uma minoria, penso- estão sempre a aferir da eficácia do trabalho relativamente ao todo em que se insere. Não significa que não se interessem pelas suas carreiras ou que não sintam a injustiça da promoção dos piores; significa que têm uma visão mais alargada do sistema e que vão buscar a sua motivação a um sentimento interior de satisfação ligado à certeza de estarem a contribuir para a melhoria real do sistema e, só nessa medida, encontrarem sentido e utilidade no que fazem.
Estes segundos dificilmente se adaptam a uma mudança do sistema que não traga benefícios ou que vá ao ponto de anular as virtudes do sistema pondo em causa o seu resultado final. Isto é, é-lhes díficil continuar obedecer à ordem de alimentar de carvão a máquina de um barco que se está a afundar, pois não vêem sentido ou utilidade nessa tarefa. Mais, não compreendem a azáfama dos demais que, em vez de procurarem solução para salvar o que for possível, a começar pelas pessoas, andam de um lado para o outro a olear as máquinas como se não vissem que o barco está já a pique.
O que fazer numa situação destas? Saltar do barco só, arriscando uma morte quase certa? Continuar o trabalho sabendo que se está a alimentar um sistema pernicioso, preverso, destrutivo e inútil, destinado de antemão ao fracasso?
Como é possível agora o trabalho?
Como é possível o trabalho quando se vê, em cada ordem, em cada documento, em cada directiva o fortalecimento da estupidez medíocre do sistema?
E, no meio de tudo isto, os que criaram este sistema dão uns aos outros dinheiro e honrarias e auto-elogiam-se tristemente sem terem noção do que são.
Fico perplexa!
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