Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]





somos ossos para cães roerem?

por beatriz j a, em 30.10.10

 

 

 

O nosso buraco e o abismo deles

Pior do que o défice financeiro português, é o défice reformista das sociedades europeias. As manifestações em França são bem piores do que o nosso buraco orçamental. são o passo em frente ao abismo.

É evidente que Portugal e a Grécia, como Espanha ou Irlanda, terão de reformar as suas economias e, sobretudo no caso dos países do sul, rever o papel que o Estado desempenha, o espaço que ocupa e os recursos que consome. Mas não vale a pena fingir que o problema é só esse. O que se tem passado em França é bem mais grave, porque revela como as possibilidades de reforma são ínfimas. França é o melhor exemplo de uma sociedade acomodada e convencida de que os privilégios são eternos e de que o Estado social se paga a si mesmo, seja lá como for. Ver crianças de 20 anos a berrar porque não se querem reformar aos 62 anos é muito mais grave do que ver um país a querer fazer auto-estradas de que se calhar não precisava e que certamente não podia pagar.

 

Não estou de acordo com esta visão da raíz do problema em França, onde se dá a entender que a sociedade se tornou indolente de tal forma que até os mais jovens só pensam em benefícios e segurança.

A mim o que me parece é que hoje em dia os jovens são mais educados e informados que há umas décadas e estão conscientes do que se está a passar.

Vêem que este problema ultrapassa a mera questão económica e que é uma questão de modelo de civilização.

Vêem que o que se está a desenhar é o fim do ideal europeu que defendia que toda a sociedade tinha um objectivo de qualidade de vida para os seus cidadãos e não apenas para uns.

Vêem que esse tipo de sociedade está a ser destruída porque políticos e tubarões de bancos e grandes corporações multinacionais arrecadam todos os bens e riqueza e ao manifestar-se estão a dizer que não querem a destruição do ideal europeu para que a ganância de alguns seja plenamente satisfeita.

Estão a dizer que não querem a Europa transformada nos EUA de tradicional capitalismo selvagem.

Estão a dizer que querem que os políticos façam o seu trabalho: criar emprego, moralizar a vida pública, dar exemplo de honestidade e serviço para que não desapareçam os benefícios do Estado Social que as pessoas suportam com os seus impostos.

Estão a dizer que não vivemos já no século XIX onde se assumia que os trabalhadores não deveriam aspirar à prosperidade que era privilégio de alguns para os quais os outros trabalhavam até à morte.

Estão a dizer que esse estado de coisas foi ultrapassado com muitos custos e sacrifícios e não querem que tudo seja perdido.

Estão a dizer que não aceitam trabalhar até aos 60 ou 70 anos e ir directamente do trabalho para a cova, apenas porque os políticos não fazem o seu trabalho e se vendem aos tubarões das finanças.

Não estão a dizer que não querem trabalhar ou correr riscos. Só estão a dizer que não aceitam ser escravos de políticos incompetentes e venais que têm 3 reformas aos 40 ou 50 anos e de patrões sem escrúpulos que atiram centenas ou milhares para a pobreza por pura ganância.

O que se passou em Portugal não é exemplificativo: políticas de destruição da agricultura, da indústria...corrupção de tudo quanto é membro do governo, bancos a lucrar milhões por dia, roubos e desvios de dinheiros de amigos, de administradores públicos...então o povo que sustentas estas coisas deve ainda aceitar reformas que o descarnam até ao osso? Somos ossos para cães roerem?

 

publicado às 14:34



no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2018
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2017
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2016
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2015
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2014
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2013
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2012
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2011
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2010
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2009
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2008
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D



Pesquisar

  Pesquisar no Blog

Edicoespqp.blogs.sapo.pt statistics