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profissão: professora

por beatriz j a, em 18.09.10

 

 

 

A maior parte dos adultos que conheço parte do princípio que só é professor -não universitário- quem não consegue sair de lá. Como sabem que é uma profissão cujo desgaste e stress não são compensados, pelo contrário, trabalha-se em ambientes degradados, sobrecarregados de exigências e com salário baixo relativamente a outros licenciados que exercem funções de técnicos superiores (excepto no último escalão) acham que ninguém quereria voluntariamente ficar em tal profissão tendo oportunidade de sair dela. Mais, acham que tendo-se a oportunidade de exercer dentro da escola cargos de poder que isentem de dar aulas, é o que se deve fazer. Não compreendem que haja pessoas que não têm apetência pelo poder e que só aceitam ou oferecem para os cargos quando pensam que podem fazer alguma diferença positiva.

Estão convencidos que os que ocupam esses cargos são os melhores. Assim, partem do princípio que os professores do básico e do secundário são todos incapazes, incultos e frustrados. Pensam que é uma espécie de inferno que só os maus suportam.

Se eu gostava de trabalhar com outras condições? Pois gostava. Se eu gostava de não ter de aturar os dislates de rodrigues, Lemos, Alçadas e Pedreiras? Pois gostava. Se eu trocava dar aulas por um gabinete? Não, não trocava - a não ser que estivesse cheio de livros e o trabalho fossem os livros. Acho que não se nasce professor, aprende-se a gostar, com o tempo, a experiência e os erros.

Eu gosto de dar aulas e acho que no geral faço alguma diferença positiva. Acredito convictamente que a evolução da Humanidade é possível e acredito na educação como instrumento priveligiado desse progresso. Acredito que faço parte duma corrente de pessoas que ao longo da História trabalha para esse fim. Sei que os alunos, nas idades em que os apanho, ainda são transformáveis. Não todos, mas alguns, tornam-se adultos conscientes, sensíveis, inteligentes, com pensamento crítico e horizontes mais alargados. É um prazer acompanhar e ser parte activa dessa transformação. Eu, e muitos milhares como eu, prestamos um serviço público na medida em que contribuimos para a evolução da sociedade.

Que outros não compreendam isso por entenderem o progresso social como sucesso no sentido de ganhar imenso dinheiro e aparecer na TV, não me afecta. Confesso que tenho um certo desprezo por esses que pensam que dar aulas é uma ocupação de gente que não soube ter sucesso.

Se eu quisesse ter sucesso nesse sentido de ganhar imenso dinheiro não tinha ido tirar um curso de Filosofia...  se voltasse atrás no tempo tirava-o outra vez. Não imagino a minha vida sem a companhia dos filósofos. Se tivesse que me dar apenas com gente que só vê o imediato material concreto, muitos deles tolinhos, acho que enlouquecia. O que mais revolta é ver a quantidade de ministros da educação que não acreditam na educação e que pensam que os que estão nela são os que não conseguiram o tal sucesso. Não é acaso as coisas estarem como estão.

 

publicado às 23:56


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