por beatriz j a, em 09.01.18
Mário Soares foi um político que fez sacríficios pelos país -esteve preso, foi exilado, inclusivé para a outra ponta do mundo, longe de tudo e todos- e teve um papel importante no estabelecimento da democracia. Era uma pessoa com coragem física e amor à liberdade. Isto são factos. Dito isto, não era o deus que os socialistas adoram dogmaticamente. Era controverso. Teve iniciativas que prejudicaram muita gente. Acumulou uma imensa fortuna, pôs o incompetente do filho em cargos públicos, era uma pessoa que promovia os amigos à custa do bem geral. Como fazem muito políticos. Nisso era igual aos outros. A certa altura comportava-se como um monarca, com corte e tudo. Não aceito que o passado de uma pessoa possa servir de salvo conduto para tudo e mais alguma coisa.
Ora, há pessoas que não gostam dele e não lhe têm respeito. E qual é o problema disso? Uma pessoa respeita os cargos mas não, necessariamente, a pessoa que o ocupa se a pessoa tem acções que consideramos de falta de ética. Nunca respeitei o Sócrates nem a Rodrigues: pessoas que tiveram uma acção condenável e indigna enquanto exerciam cargos públicos. A petição contra o nome de Soares e o facto de as pessoas lhe chamarem fulano não é nenhum atentado à democracia. Só é um atentado ao hábito que o PS tem de o divinizar. O próprio Soares era uma pessoa que a falar de oponentes políticos ou pessoas que não gostava chamava-os de fulanos. É uma coisa um bocadinho machista e patriarcal o PS precisar de adorar um Pai 'nas palhinhas deitado' mas, nós vivemos numa república laica e ninguém é obrigado a adorar os deuses do PS ou sequer a respeitá-los. Por muito que custe ao PS, Mário Soares não teve ninguém nas ruas a seguir o seu caixão, que andou tristemente sozinho de um lado para o outro, como tiveram outras pessoas que o povo adorava. E porquê? Porque o Soares que teve importância na fundação da democracia há muito que tinha sido substituído pelo Soares dos amigos e das conveniências dos amigos. E há quem não queira o nome dele no aeroporto e estão no seu direito. Pessoalmente preferia que nenhuma rua, avenida, praça, edifício, etc., tivesse nome de políticos, a não ser em casos muito excepcionais.
O PS convive mal com a diversidade de opiniões. Não é de agora. Vem logo um dog (no sentido do melhor amigo do homem) qualquer ameaçar pancada.