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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Hoje saí do prédio pela rua conhecida como a 'rua das tabernas' -embora já não tenha nem uma-, e pus-me a andar a caminho da escola. A meio da rua em frente à agência funerária estavam dois indivíduos a pôr um caixao no carro funerário. Enquanto um travava o caixão o outro pôs la dentro uma única coroa de flores.
O contraste do escuro do tempo e do caixão sozinho com uma coroa de flores comigo própria que passei por ele vestida de branco e laranja florido fez-me pensar 'aqui vou eu para os negócios da vida e ele/ela para os negócios da morte'. Mais à frente o caixão passou por mim e subiu a rua à minha frente. Quando passei à porta traseira do hospital lá estava ele outra vez, parado, já com algumas pessoas à espera. Por três vezes me 'tocou' hoje, esta morte.
A vida é uma coisa estranha mesmo. É uma excepção. O normal é o não-ser, não o ser. Nascemos, lutamos, sofremos, rimos, comemos, bebemos, estudamos, atarafamo-nos, escrevemos cenas em blogues, fazemos manifestações, amamos, zangamo-nos, alegramo-nos, caminhamos ao sol, fugimos da chuva, fazemos viagens, maravilhamo-nos com arquitecturas, lemos livros, apreciamos a beleza, gozamos o calor do sol, sentimos intensamente a música, o amor, a arte...e depois morremos e arrumam-nos numa caixa como fazemos aos sapatos e encaixam-nos numa prateleira qualquer com uma etiqueta para não nos confundirem com o do lado porque os ossos são todos mais ou menos iguais.
Se temos sorte vamos parar à terra e renascemos como papoilas ou malmequeres ou amores-perfeitos.
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