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vidas

por beatriz j a, em 19.04.10

 

 

Hoje meti-me num táxi, em Lisboa, e apanhei um tipo que era taxista há cinco dias. Contou-me que tinha ficado desempregado, que estava com 53 anos e que não tinha aguentado ficar em casa a receber o subsídio de desemprego. Trabalhava desde os 12 anos e não estava habituado a não fazer nada. Falámos sobre o horror que é uma pessoa sentir-se inútil enquanto vê os outros trabalharem. À saída desejei-lhe sorte.

Mais tarde apanhei outro táxi e o homem contou-me que tinha sido duma comissão de trabalhadores numa empresa antes de ser taxista. A propósito da greve da Galp explicou-me a visão dele acerca das causas da greve e contou-me os truques que se fazem para impedir que outros trabalhadores façam o nosso trabalho.

Não sei se é por andar muito de táxi mas os taxistas falam muito comigo. Recomeçamos sempre as conversas onde tinham ficado da última vez que me sentei no táxi deles. Contam-me a vida.

Aqui em Setúbal conheço todos os taxistas que andam ao serviço e sei o que se passa na vida deles. O sr. A. já me safou de alguns apertos. Conhece toda a gente em Setúbal e é sempre simpático com os clientes. O sr. H tem dois filhos. O mais novo tem asma e ele vai com ele às urgências pelo menos três vezes por mês. O sr. M. todos os dias corre a pé desde a Quinta do Anjo, onde mora, até Setúbal. O sr. J. já trabalhou no Irão. Fala-me sempre das montanhas cheias de neve. Era lá camionista e sente saudades do país. O sr. L. veio de Lisboa para aqui. Estava farto do trânsito de Lisboa, veio tentar a sorte aqui. Mora sozinho com um gato. O sr. C. tem uma filha professora na Madeira e o R. tem o táxi sempre com indícios de actividades nocturnas espalhados pelo chão do carro...A sra. A. guia com uma mão, para mostrar que guia melhor que os homens.

 

publicado às 21:13


2 comentários

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De Luís Contumélias a 20.04.2010 às 18:35

Olá Beatriz.
Conheço muiiiiito bem a vida de motorista de táxi.
Por lá andei cerca de 13 anos.
Por vezes ainda sonho com isso.
Motivos vários obrigaram-me a afastar do táxi e posteriormente da estrada.
Já passaram muitos anos...
Deixou marcas profundas, nem todas elas boas.
Como praticamente só trabalhava à noite, tive oportunidade de
conhecer por dentro e por fora uma face (quase) oculta da espécie (des)humana.
Quem imaginar que a escravatura terminou, nem sonha o que se passa nos bastidores das multicoloridas luzes nocturnas.

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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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