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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Hoje meti-me num táxi, em Lisboa, e apanhei um tipo que era taxista há cinco dias. Contou-me que tinha ficado desempregado, que estava com 53 anos e que não tinha aguentado ficar em casa a receber o subsídio de desemprego. Trabalhava desde os 12 anos e não estava habituado a não fazer nada. Falámos sobre o horror que é uma pessoa sentir-se inútil enquanto vê os outros trabalharem. À saída desejei-lhe sorte.
Mais tarde apanhei outro táxi e o homem contou-me que tinha sido duma comissão de trabalhadores numa empresa antes de ser taxista. A propósito da greve da Galp explicou-me a visão dele acerca das causas da greve e contou-me os truques que se fazem para impedir que outros trabalhadores façam o nosso trabalho.
Não sei se é por andar muito de táxi mas os taxistas falam muito comigo. Recomeçamos sempre as conversas onde tinham ficado da última vez que me sentei no táxi deles. Contam-me a vida.
Aqui em Setúbal conheço todos os taxistas que andam ao serviço e sei o que se passa na vida deles. O sr. A. já me safou de alguns apertos. Conhece toda a gente em Setúbal e é sempre simpático com os clientes. O sr. H tem dois filhos. O mais novo tem asma e ele vai com ele às urgências pelo menos três vezes por mês. O sr. M. todos os dias corre a pé desde a Quinta do Anjo, onde mora, até Setúbal. O sr. J. já trabalhou no Irão. Fala-me sempre das montanhas cheias de neve. Era lá camionista e sente saudades do país. O sr. L. veio de Lisboa para aqui. Estava farto do trânsito de Lisboa, veio tentar a sorte aqui. Mora sozinho com um gato. O sr. C. tem uma filha professora na Madeira e o R. tem o táxi sempre com indícios de actividades nocturnas espalhados pelo chão do carro...A sra. A. guia com uma mão, para mostrar que guia melhor que os homens.
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