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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
A alma humana tem muitas ravinas e precipícios nos confins das suas profundezas e é preciso grande cuidado para não cair nesses abismos, pois são lugares de insanidade. Nem toda a insanidade é negativa, no entanto. Se quisermos ver a profundidade insana da alma humana no seu lado positivo, podemos ler as cartas de amor de Napoleão para a Josefina. Mas, se queremos saber da outra insanidade, lemos Os Diários do Congo de Joseph Conrad. É o livro que estou a ler. Estou a lê-lo no original, em inglês. Não existe, que eu saiba, edição portuguesa.
Joseph Conrad, nasceu Józef Teodor Nałęcz Korzeniowski. Um ucraniano de origem polaca que acabou em Inglaterra a escrever em inglês, depois duma vida de aventura, passada em grande parte, no mar. Conrad fez uma viagem de dois anos ao Congo, ao serviço do Rei belga, Leopoldo II, à época o dono pessoal do Congo ([só mais tarde o doou à Belgica], hoje, República Democrática do Congo), numa viagem pelo interior da selva congolesa para recolha e carregamento de marfim.
Nessa viagem, Joseph Conrad apanhou malária, esteve grande parte do tempo doente e, testemunhou, em primeira mão, o horror dos crimes dos belgas ao serviço do rei belga que, entretanto, era louvado em todo o lado, por ter levado a civilização aos congoleses.... Calcula-se que nesse período terão sido mortos, chacinados, cerca de 10 milhões de congoleses (este deve ser o crime de genocídio mais esquecido e branqueado, de sempre), muitos torturados, entre os quais os milhares de crianças a quem cortavam, indiferentemente, as mãos e os bracinhos, mutilando-os por uma questão de poupar tempo e assegurar os lucros do marfim.
Essa viagem aos precipícios insanos, malignos, da alma humana, no então, Congo do Rei dos Belgas, havia de o marcar para sempre, dar origem ao famoso livro, Heart of Darkness e inspirar o filme, Apocalipse Now. O horror a que assistiu e as pessoas com quem teve que conviver no meio da selva enquanto subiam o rio, foram fantasmas que o perseguiram até ao fim dos dias.
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