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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Mas o documento de 11 páginas redigido pelo gabinete do secretário de Estado adjunto e da Educação, Alexandre Ventura, abre a porta à negociação com os sindicatos.
A maioria dos dirigentes sindicais só está à espera da última ronda para pedir um prolongamento das negociações. Ou então recomeçar a guerra nas escolas e nas ruas.
O que está na proposta é péssimo. Continua a castigar os que mais trabalham para não deixar matar a escola. Agora até cria um corpo de professores/inspectores dos colegas, corpos inúteis cuja única missão é chatear os colegas e gerar a revolta pela injustiça.
Aqui há dois anos atrás, quando a outra ministra ia de vento em popa com o apoio de tudo quanto era político, numa reunião em que se falava da avaliação e de ter de se fazer portfolios e aulas assistidas e entrevistas e tudo, uma colega perguntou à coordenadora: mas como é que é isso? Há momentos de avaliação fora das aulas para avaliar do trabalho extra-curricular? A resposta da coodenadora foi: o avaliando (repare-se que já não é o colega) deve considerar-se sempre em observação de avaliação desde que entra na escola até que sai. Pois, pois...vai ser assim...desde que entramos na escola que somos perseguidos por ex-colegas, agora uma espécie de inúteis inspectores dos seus ex-pares. Que serão, concerteza, os agora titulares, isto é, em regra, não os melhores, mas os mais sebosos, como é costume nestas coisas. Isto é tudo tão revoltante e estúpido e inibidor da qualidade do ensino...
Como não é possível que as equipas do ministério não saibam e não percebam que este sistema é um caminho de destruição do ensino público, só podemos concluir que é esse mesmo o objectivo.
Espero que os sindicatos não peçam prolongamento de negociações, porque isto não tem nada a ver com negociações.
Aliás, ao fim de um mês o ministério ter apresentado uma proposta contrária à resolução aprovada no parlamento que pedia a pacificação das escolas, a alteração dum sistema de avaliação injusto, a abolição da diferença entre professores, etc., e depois dizer que está aberto a negociações(?) mostra bem que este governo não dá importância à Assembleia e muito menos aos professores.
Uma das minhas irmãs dizia-me este Natal que eu sou muito agressiva a escrever quando me ponho a falar do primeiro ministro e da ministra da educação e dessa gente toda. Mas como é que é possível ser de outro modo face ao que se passa em frente do nosso nariz? Como é possível assistir à perversão de todos os sistemas, à proliferação de incompetentes nos cargos, ao espéctáculo da corrupção pelos mesmos que vêm dizer aos outros que têm de apertar o cinto, e por aí fora? Devemos fingir que nada disto nos afecta? Que não faz mal a injustiça ser tão gritante e tão devastadora? Destruidora do país? Que não faz mal o Sócrates atirar o país para a ruína e depois ir de férias com os filhos (que não andam na escola pública que ele destruiu) para a neve?
Só quem não está nas escolas todos os dias é que não vê a degradação diária das coisas. Em tudo.
Como é que se pode assistir a estas coisas crescerem por todo o lado e ficar impassível? Eu não sei como é que isso se faz. E francamente não sei se queria ser assim.
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