por beatriz j a, em 28.11.09
Um explosivo relatório de 700 páginas
Arcebispos da Irlanda esconderam durante décadas abusos sexuais
PÚBLICO
O cardeal Desmond Connell, que foi primaz da Igreja Católica na Irlanda, e mais três arcebispos do país são apontados num demolidor relatório de 700 páginas como tendo encoberto durante décadas o abuso sexual de crianças por sacerdotes de Dublin.
A não comunicação de crimes à polícia, de modo a proteger o bom nome da Igreja, é uma das faltas apontadas neste trabalho aos quatro arcebispos, segundo conta hoje o jornal britânico "The Daily Telegraph".
Trata-se do segundo relatório que nestes últimos seis meses vem falar de abusos de crianças em instituições católicas da República da Irlanda, depois daquele que em Maio falou de décadas de flagelações, de trabalho escravo e de violações colectivas em grande parte do antigo sistema de escolas e reformatórios.
"Vai ser uma leitura de horrores. Não só as vítimas ficarão chocadas, como os paroquianos irão ficar chocados e questionarão a sua fé", comentou a associação The Irish Survivors of Child Abuse, a propósito deste relatório a divulgar oficialmente hoje pelo Ministério irlandês da Justiça.
Neste trabalho destaca-se a normalidade de a hierarquia transferir os abusadores de uma paróquia para outra, em vez de enfrentar frontalmente o problema.
Em especial, destaca-se o comportamento negativo do cardeal Connell e dos arcebispos John Charles McQuaid, Dermot Ryan, e Kevin McNamara todos eles encobridores dos delitos cometidos por sacerdotes da arquidiocese de Dublin.
O arcebispo Martin, que sucedeu ao cardeal Connell, hoje com 83 anos, chegou à conclusão de que, desde 1940, mais de 400 crianças contaram ter sido abusadas por pelo menos 152 sacerdotes, só na área da capital irlandesa.
São ao todo cinco volumes de horrores, que levaram nove anos a compilar, para se mostrar como muitos orfanatos e escolas industriais da católica Irlanda do século XX eram lugares de medo, de negligência e de abuso sexual sistemático.
|
|
A banalidade com que a pedofilia é encarada pela Igreja Católica é chocante, mas não surpreendente, se pensarmos na sua frequência.
A Igreja é uma instituição que instiga o desprezo pelas mulheres e obriga ao celibato, por medo das mulheres, e proibe hipocritamente a homossexualidade, embora saiba que é prática corrente no seu seio.
Obrigados a uma anormal repressão da líbido e cheios de ideias de pecado e culpa e recalcamentos acabam por fertilizar o terreno das perversões. E quem atacam? Os mais vulneráveis, claro: as crianças.
Tudo isto é vergonhoso por parte duma instituição que prega o bem e o amor às crianças, e é indesculpável porque era evitável.
O encobrimento banal destes crimes pela hierarquia é revelador da mentalidade perversa da Igreja em tudo o que diz respeito ao sexo.
Cada vez é mais evidente que a Igreja condena muitas pessoas à neurose e a vidas de fingimento, repressão, recalcamento e perversão.
Esta semana é notícia cá no país um padre ter fugido com uma rapariga por quem se apaixonou: good for them!