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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
As notícias, cada vez mais frequentes, que um ou outro dos nossos chefes, desvaloriza toda e qualquer crítica ao seu trabalho são, quanto a mim, um sintoma duma endémica falta de cultura democrática neste país. O pior é que esta moda, que durante algum tempo parecia afectar apenas um número reduzido de personalidades do poder alastrou de um modo assustador.
Hoje foi um sindicalista que protestou – o protesto não é comentado por ter sido desvalorizado; na assinatura do Tratado de Lisboa as manifestações de oposição foram desvalorizadas, comentadas como casos de falta de educação (!); quando milhares de trabalhadores se manifestam contra esta ou outra política, ou decisão, invariavelmente o caso não é sequer comentado porque as autoridades visadas declaram desvalorizar o acontecimento. Se as notícias informam que o desemprego aumentou, a notícia é desvalorizada. As notícias diárias e chocantes sobre o aumento, em simultâneo, da riqueza dos bancos e da pobreza dos trabalhadores, são desvalorizadas como coisa banal.
Desvalorizar significa não atribuir valor, ou pelo menos diminui-lo.
Mas, se as críticas, ou manifestações, ou perguntas, ou seja lá o que for, são as pessoas do povo que as faz, não lhes atribuir valor é desvalorizar o povo que as faz.
A minha pergunta é só esta: se os nossos manda-chuvas não atribuem valor às pessoas deste povo, porque não vão governar outro povo qualquer que tenha, a seus olhos, pessoas que valham a pena governar?
Li que a Itália, na região de Nápoles, está com uma crise tão grande de lixo, que já falam em prejuízos de 500 milhões de euros. Acontece que, como desvalorizaram durante muito tempo o trabalho de recolha e tratamento de lixo têm agora 15 mil toneladas de lixo nas ruas que já afastaram as transacções comerciais, o turismo, etc.. A crise é tão grande que as autoridades julgam que nem uma mega-campanha de publicidade poderá reverter facilmente a má imagem deixada por esta crise nojenta, consequência de se governar para as aparências pensando que varrer o lixo para debaixo do tapete é o suficiente para que ele não se veja.
Só mesmo para quem é de vistas curtas!
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