Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Charlotte Collyer com a sua filha de 8 anos, Marjorie, sobreviventes do Titanic 1912 (não sei de quem é a fotografia). A mãe ainda está com o cobertor da White Star Line.
O que gosto nesta fotografia é que a interpretação que fazemos do olhar da mãe depende do nosso conhecimento acerca do que significam as letras do cobertor. Com esse conhecimento olhamos o olhar da mãe e vemos alguém ainda em choque e trauma. Isso acontece porque imediatamente imaginamos os horrores que esses olhos viram. No entanto, se nos abstrairmos desse conhecimento que temos sobre o desastre do Titanic apenas achamos que a mulher está ausente e preocupada, talvez. O olhar e a pose da filha nada nos dizem sobre o que acabou de testemunhar.
Quer dizer, muito do que interpretamos nos outros depende do que projectamos a partir do que sabemos ou julgamos saber sobre as pessoas e os seus contextos. Na verdade, o semblante das pessoas nada nos diz sobre os seus estados mentais (o que é um dos grandes mistérios, parece-me, acerca do ser-se humano, isto é, essa capacidade de tornar invisível o universo interior) e nas nossas interpretações falamos, muitas vezes, mais de nós próprios que dos outros.
The Magnolia Gardens near Charleston, SC
Não assinam de cruz o missal dos grandes endoutrinadores do povo?
Comunistas dizem que estão presentes oradores de todas as outras forças políticas com assento parlamentar e que o PCP e o PEV “nem sequer foram convidados”.
Primeiro foi a perseguição com calúnias à bastonária dos enfermeiros, agora é ao sindicato dos motoristas...
Quando as vozes opostas não agradam manda-se calar de uma maneira ou de outra... mau prenúncio dos tempos que hão-de vir...
O MP não o revela, mas em causa estará a participação do advogado na assembleia constituinte do sindicato. Uma “desconformidade” com a lei. Sindicato diz que nunca foi notificado de qualquer irregularidade.
Já durante a tarde desta quarta-feira, Pedro Pardal Henriques fez algumas declarações às televisões, sublinhando as várias perplexidades que lhe traz este processo. A começar, o facto de o “Ministério Público e outros organismos oficiais junto da DGERT” já terem fiscalizado e aprovado os estatutos antes de serem publicados. Porque, sustenta, o processo passou pela DGERT. E depois disso, acrescenta, caso tivessem reparado em alguma irregularidade, “o procedimento normal seria notificar o sindicato para sanar essa irregularidade, e não foi isso que aconteceu”.
O anterior porta-voz do SNMMP entende que este é “um ataque claro a quem se insurge contra a corrupção, a fraude fiscal e os baixos salários”, garantindo que "não existe memória de um sindicato ter sido tão atacado como este”. “Este sindicato incomoda muita gente”, reforçou.
Aqui há uns anos Manuela Ferreira Leite disse que seria bom o País suspender a democracia durante seis meses. Boris Johnson acaba de fazer isso mesmo, embora por menos tempo. Quando as vozes opostas não agradam manda-se calar de uma maneira ou de outra... mau prenúncio dos tempos que hão-de vir...
nota: resposta ao comentário a este post que afirmava que MFL nunca disse que seria bom suspenser a democracia:
A Manuela e eu depois de um Wiener Schnitzel e um Riesling.
Ontem vi vários jornais com títulos do género, 'FT faz grandes elogios a Costa e ao governo' ou 'Costa sagaz é a esperança da Europa'. Pensei para mim, 'mas esta gente droga-se logo pela manhã...?' Afinal, leio agora neste artigo que o FT fez justamente o oposto do que dizem esses títulos sicofantas e diz o que aqui todos já sabemos, i.é., que Costa beneficiou do trabalho do anterior governo que deu origem a um êxodo massivo de trabalhadores, que fingiu que ia acabar com a austeridade, que teve uma sorte do caraças com a conjuntura internacional e o turismo e que não tem uma ideiazinha sequer do que quer fazer de modo que navega à vista e à sorte.
Então, com que intenção se escrevem aqueles títulos nos jornais? Para enganar quem passa e lê? Uma das respostas à questão, 'porque é que os jornais estão em crise' está aqui.
Nuno Cintra Torres
O Editorial diz: “A aliança [PS/PCP/BE] não pode receber todo o crédito pela recente sorte de Portugal. A recuperação global e o boom do turismo internacional desempenharam papéis importantes. Assim como o difícil, mas necessário trabalho do anterior governo de centro-direita, que implementou um programa de austeridade entre 2011 e 2014, em troca de um resgate de 78 mil milhões de euros do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do FMI.
“A medida ajudou a reduzir o déficit orçamental e a reforma do setor público. Também empurrou o país para a pior recessão em quase quatro décadas, provocando um êxodo em massa de trabalhadores. Fazendo campanha na última eleição no final desse período, o astuto senhor Costa beneficiou do legado dessas ações duras de centro-direita, mesmo quando se apresentou como um candidato anti austeridade.”
Mais ainda, o editorial diz que António Costa deve “continuar no caminho agora comprovado de prudência fiscal, mas sem austeridade punitiva. O primeiro-ministro também deve realizar reformas mais profundas da administração pública desatualizada. Há trabalho a ser feito também no setor bancário, embora a estabilidade no setor tenha melhorado significativamente nos últimos anos.”
O editorial termina com um aviso a todos os políticos portugueses, revelando que eles “lá fora” sabem bem o que aqui se passa ao revelarem que sabem que não há uma estratégia para Portugal, um pormenor que aqui tenho referido várias vezes. Diz o FT: “À medida que economia mundial acumula nuvens de tempestade, Portugal deve ter uma visão mais clara da sua futura orientação e estratégias económicas.”
JULIEN PASCUAL PHOTOGRAPHIES
Xuebing Du Photography via a way to blue
Vi este filme. Vi-o um bocadinho de pé atrás porque não sou fã dos filmes do Tarentino, em geral. No entanto, por causa deste filme, mudei a minha opinião dele. Este filme é muito bom em vários níveis.
Em primeiro lugar para pessoas da minha idade ou por aí (ou entusiastas desta época) porque recria excelentemente o ambiente hippie dos anos 60 quando a cultura de filmes de cowboys ainda existia mas estava a desvanecer-se. Do ponto de vista da recriação da época é uma jóia. Uma cinematografia muito boa.
Depois, há o ponto de vista do realizador sobre o que era, e é, Hollywood em si e, o que é para a audiência que o glamoriza.
O filme tem várias camadas, sendo que a principal, a meu ver, é a relação entre o actor e o seu duplo (Di Caprio é o actor e Pitt o seu duplo) e o que ambos representam no imaginário de Hollywood. O actor que luta para não ser 'alguém que podia ter sido alguém', faz de herói nos filmes e fica com as garotas, a fama e o dinheiro mas o indivíduo que corresponde à personagem do imaginário do herói (o Marlboro man) é, na verdade, o seu duplo. Esse é que é um durão que faz as cenas difíceis, nos filmes e na vida real. Faz o que tem que ser feito, por assim dizer. Os actores são vaidosos, inseguros e choram por reconhecimento.
Como no filme Once Upon A Time In America de Sergio Leone, com o qual este se compara, não apenas no título (na música dos créditos finais) mas no subtexto, o durão, o que luta, faz o trabalho sujo, dá o corpo ao manifesto e se for preciso é violento e vai para a cadeia, passa despercebido ao lado do outro, o que se aproveita do seu trabalho e acaba nas luzes da ribalta, seja o actor, como neste filme, seja o político, como no outro filme. Certo tipo de heróis dos filmes de Hollywood, o bonzinho com ar de copo de leite que mata os maus todos, só existe na nossa imaginação infantil. Quem é capaz de matar todos é um assassino, capaz de muita violência. Essa é a realidade. A violência existe e é real e o caso do assassinato de Sharon Tate é um grande exemplo disso.
Há uma cena de violência no fim do filme que provoca o espectador porque sendo muito forte, não desencadeia o nosso mecanismo de censura (embora desencadeie a repulsa ou aversão) devido ao modo como é construída ao longo do filme. Não vou dizer para não estragar o filme a quem não viu mas essa cena põe-nos a nós, audiência, ou melhor, põe o nosso 'código moral', em questão. Nessa cena vemo-nos a nós próprios de maneira surpreendente e crua. Isso achei genial.
E no meio daquela violência extrema tem uma cena extremamente cómica do personagem actor que nos põe de volta no registo Hollywood do filme. Muito bom.
O filme ainda tem um nível de texto onde assistimos às dores, por assim dizer, próprias do fim de uma era, essas épocas de transição, causadoras de desequilíbrios e convulsões.
Hollywood é uma mentira e uma ilusão mas cria realidades para fora das suas fronteiras, dos seus bastidores e é por isso que importa muito.
Muito bons actores, não apenas no trabalho dos dois principais, que é excelente, mas dos outros todos que aparecem.
Muito bom, o filme. A única coisa que não gostei no filme foi a maneira como retrata o Bruce Lee. Niguém chega onde ele chegou num país e cultura de filmes tão 'brancos' como eram na época, sendo um impostor, um buffoon, como eles dizem. Esse óbvio preconceito estraga um bocado um filme que podia ser totalmente impecável.
... Eduardo Bolsonaro, filho do Presidente brasileiro, que é deputado e que poderá ser o futuro embaixador do Brasil em Washington, tinha retuitado [reencaminhado um tuite] com o título: "Recado para o @EmmanuelMacron", onde se vê um vídeo dos confrontos com os 'coletes amarelos' em França, com o texto "Macron é um idiota".
A forma como a aprendizagem é explorada no seu nível mais baixo e como a criança se acostuma a considerá-lo é frequentemente crucial para a vida.
Teodoro Waitz
van gogh
Coisas boas foram que hoje conheci uma médica fantástica e amorosa, uma pessoa com muita experiência que me disse logo ali que podia ficar descansada que aquilo não era nada maligno :) Passaram-me completamente as dores...
Coisas más foi que o exame custou a brincadeira de 254 euros... vamos ver se a ADSE me devolve alguma coisa, sabe-se lá quando. Este mês as despesas relacionadas com a doença já vão em 474 euros. Onde é que já vão os 200 euros a menos de impostos...
Rui Tavares
Nestas polémicas, mais do que a posição política que cada um de nós possa ter sobre cada assunto, o que está em jogo é mais profundo: trata-se do próprio estatuto de facto real e de veracidade.
O Rui Tavares está em campanha eleitoral a favor de Costa ou, melhor, contra aquilo que ele chama frequentemente, 'A Direita', e já diz qualquer coisa.
A comentar o despacho sobre a igualdade de género, digamos assim, para abreviar, diz que o assunto não é sobre casas de banho mas sobre duas centenas de crianças e que foi falseado, numa tentativa, diz ele, que passa o tempo a falar de Direita e Esquerda, de fazer polarização cultural como no Brasil.
Em primeiro lugar, na escola pública andam sobretudo não-crianças. As crianças frequentam apenas o ensino básico de quatro anos. No 5º ano já são, quase todos, adolescentes e, quando saem no 12º são jovens com 18, 19 ou 20 anos. Antes de ontem, um jornal dizia que um homem de 19 anos foi baleado à porta da discoteca. O que quero dizer é que andam na escola crianças, adolescentes de 12 anos e jovens maiores de idade.
Em segundo lugar, o despacho também é sobre casas de banho, apesar de ele gozar com isso, porque se fala nelas, na operacionalização do despacho. Em terceiro lugar se houve falsidade nas redes sociais foi porque o governo fez questão de não esclarecer a questão. Mandam tanta publicidade manipulativa eleitoral para os jornais mas não foram capazes de explicar como seria feita a aplicação do despacho e limitaram-se a dizer que, 'a Direita tem má intenção'. Isso não esclarece.
Seguidamente diz que o problema é o estatuto do facto real e veracidade e passa a anunciar, ele mesmo, o que é o 'facto real e a veracidade'. Aqui não se percebe se há alguma falha de raciocínio ou se Rui Tavares acredita mesmo que sabe o que é o facto real e a verdade. Se sabe, diga-nos porque andamos todos há uns milhares de anos a ver se conseguimos destrinçar essa questão complexa.
No excerto a seguir diz que quem fez estes achincalhos foram políticos e cronistas da direita conservadora. Para quem se queixa de outros polarizarem as questões com esquerda e direita...
Finalmente compara-nos à Irlanda e à Islândia nessa não-polarização. No entanto, o artigo dele é uma mostra de polarização. Todo o discurso dos políticos e cronistas portugueses em geral está infestado dessas expressões de direita e de esquerda com que se acusam mutuamente em vez de discutirem e esclarecerem os problemas. Não sei em que país ele vive para não ver isso.
É preciso ver que na Islândia meteram os políticos e banqueiros prevaricadores, irresponsáveis e ladrões na cadeia. Cá andam à solta...
Depois, concluir dizendo que a crise está a diminuir... em que país ele vive? Estamos endividados até aos olhos, o ministro das finanças nem sequer para comprar ambulâncias dá dinheiro, só para a banca e prémios de milhões para caçadores do fisco, as pessoas cada vez mais pobres, os empregos precários, os tais passes baratos para os estudantes, o governo não os paga...
Percebemos que ele anda em campanha a favor da 'Esquerda' como ele diz, mas mesmo assim...
Como não tenho ar de doente e faço questão de não andar por aí a queixar-me de ter dores ou a fazer-me de coitadinha, as pessoas olham para mim e desvalorizam a situção. Mesmo médicos. E se vêem as análises de sangue, que estão sempre boas, ainda é pior. E fazem perguntas e eu começo por dizer a verdade e eles dizem que não pode ser isto e aquilo... e passo a mentir-lhes para não me chatearem...
Fui ao supermercado. Hoje estou cheia de dores porque tenho que ir fazer um exame médico especialmente horrível, que me vão fazer sem anestesia, num hospital que não conheço com um médica que nunca vi mais gorda. O stress da situação, apesar de já ter ido caminhar para destressar, faz logo aumentar a intensidade e o alcance das dores que já sobem pelo pescoço.
Eu tenho um atestado de incapacidade passado por uma junta médica, numa percentagem muito alta e tenho direito, por lei, a atendimento prioritário. Tenho estatuto de deficiente. No entanto, nunca o uso (usei uma vez num hospital porque tinha mais de 50 pessoas à frente e estava a sentir-me mal e outra vez na secretria da escola, num dia em que ia fazer um exame médico e tinha que estar em jejum total - ouvi bocas de funcionárias [há lá uma funcionária que descobri recentemente que não me suporta...] como se estivesse a pedir um privilégio... porque lá está, olham para mim e não me vêem como uma doente, sobretudo porque não faço esse papel de coitadinha) e espero a minha vez na fila.
A empregada da caixa resolve dizer a uma grávida, que estava na fila sem se queixar, para passar à frente de toda a gente. Disse à mulher que ela não sabe se há outras pessoas também com prioridade. Volta-se para mim e diz, 'estas finas com este ar de ricaças ainda se queixam'. Nunca mais meto os pés naquele supermercado mas fiquei a saber porque é que a outra da secretaria fez o que fez. Pelos vistos as pessoas acham que tenho ar de ricaça e isso irrita-as... é por isso que essa pessoa da escola (e outras) já me disseram que até tenho sorte porque agora pago menos 200 euros de impostos. É isso... sou uma ricaça com sorte de ter um cancro... como se não gastasse rios de dinheiro com a porcaria da doença. Hoje são mais cem e tal euros, não comparticipados, num exame médico. Na semana passada setenta euros num exame e quarenta numa consulta. Não comparticipados. Se hoje sair do exame muito abalada vou ter que enfiar-me num táxi para voltar para Setúbal. Quase todas as semanas há disto. É isso... sou uma sortuda.
Há muitos anos uma funcionária da escola contou-me que quando era miúda a família era bastante pobre e recebiam ajudas de comida. No dia de irem buscar a comida a mãe vestia-as, a ela e às irmãs, com mais cuidado para aparecerem limpinhas e com bom aspecto. Ouvia bocas por não terem aspecto de pobrezinhas... é isso... uma pessoa tem que ter ar de coitadinha para os outros não fazerem falsos juízos acerca da nossa vida e não nos tratarem mal...
Tenho que passar a andar com a radiografia e espetá-la na cara de certas pessoas. Tenho que fazer TACs com regularidade. Chego lá, deito-me na máquina, aparece o enfermeiro de serviço, põe-me o catéter, fala comigo na boa. Depois sai, fecha a porta e põe a máquina a fazer uma primeira passagem para ver a situação e depois volta a entrar para injectar-me o contraste e só depois a máquina faz outra passagem. Quando entram para injectar o medicamento a cara deles mudou. Começam a fazer-me festinhas e perguntar se estou bem e se estou e a sentir-me bem e se preciso de alguma coisa. É que acabaram de ver o bicho. Depois quando vêem tirar o acesso fazem-me mais festinhas...
Nunca na minha vida fiz coisas para prejudicar alguém. Antes pelo contrário, faço o que posso para ajudar. Não compreendo essa maneira de ser. Tenho que passar a andar com a radiografia e espetá-la na cara de algumas pessoas estúpidas para ver se me deixam em paz.
Maggie Hurley
Franklin Carmichael - Bay of Islands from Mt. Burke, 1931, oil on canvas
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.