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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
directamente do FB
Myrtho
O recuo no respeito pelos direitos humanos é o pior aspecto da crise em que o Ocidente está.
Gosto do acto de escrever. Escrever à mão. Hoje em dia já pouco o faço e de repente senti saudades de escrever. Tenho aqui muitos cadernos em branco para encher...
Resolvi escrever à antiga, como fazia na escola primária. Sim, sim, aprendi a escrever naquelas carteiras de madeira escura que tinham um buraco para enfiar um tinteiro branco de louça onde punham tinta de cor azul real para molharmos o aparo -vermelho e tosco- nos exercícios de escrita e caligrafia.
Comprei um tinteiro de louça à antiga para pôr a tinta de cor azul real que comprei -mandei-o vir do ebay francês. Sim, eu sei que podia ter ido comprá-lo à rua de S. Bento mas tive preguiça e depois os franceses têm destas coisas antigas aos milhares e muito baratas. É très, très mignon, não é? 🙂 Tem um buraco próprio para enfiar o aparo.
O aparo, cuja pega é tosca, veio da China por 2 dólares (mais um anel giro que vi no site e parece ter custado uma fortuna mas custou 3 dólares 😄). Veio com mais quatro aparos diferentes alternativos, cada um para seu tipo de letra de caligrafia. Fui comprar papel almaço aqui em Setúbal. A rapariga da papelaria tinha o papel mas não o sabia, não conhecia o nome. Encomendei umas folhas de mata-borrão que se vendem em tamanho A4 por cêntimos mas estavam esgotadas.
Tenho andado a escrever com este aparo. É lindo 🙂 E inspira-me!
São os que incomodam os comboios, as grávidas que incomodam os hospitais, são os que querem renovar o CC... o estúpido do povo incomoda o governo.
Médicos e enfermeiros nos hospitais, maternidades a funcionar, professores nas escolas... são as prioridades do Costacento.
“Temos de fazer alguma coisa nestes dez anos, mas tem de ser de imediato”, disse à agência Lusa José Xavier, docente do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), um dos coordenadores e o único português que integra o programa SCAR AnT-ER.
No âmbito do programa SCAR AnT-ERA, os académicos “avaliam os grandes desenvolvimentos científicos” neste domínio, procurando perceber em que medida e “quais os seres vivos que se vão adaptar e quais se vãos extinguir” devido às mudanças do clima na Terra.
Perante o degelo na Antártida, “temos de agir na próxima década, temos dez anos para ir a tempo”, alertou, frisando que os efeitos do aquecimento global “estão a acelerar de uma maneira tão grande”.
O planeta é a nossa casa e é isto que estamos a fazer-lhe
Vê-se o dilema interno dela na expressão dos olhos e na tensão da testa.
Lord Frederic Leighton: Antigone
Estive numa formação online desde as seis e meia até agora... já vai um mês disto e ainda faltam duas sessões, uma com apresentação de trabalho em videoconferência. O meu patrão não me paga para isto. Não admira que ninguém queira ser professor... ahh... já me esquecia... nós professores estamos congelados porque não fazemos nada e só estamos sentados à espera que o tempo passe para mudar de escalão...
Os gregos entendiam a sua liberdade como independência. Uma vez que só se pode ser totalmente independente nos juízos e acções se se tiver outro que cuide das necessidades da vida, sentiam-se compelidos a viver num mundo construído sobre a escravatura e a opressão das mulheres.
E embora alguns gregos vissem estas iniquidades como perturbadoras, a maioria tomava-as como inevitáveis, como 'o modo como as coisas são'. No entanto, Hegel via o desconforto implícito dos gregos consigo próprios surgir de modo dramático na arte.
O seu exemplo favorito era a tragédia de Sófocles, Antígona. Na peça, dois dos filhos de Édipo lutam pela herança do poder. Ambos morrem e o tio, Creonte, intervém para proibir que um deles tenha direito a ritual fúnebre; mas Antígona, sua sobrinha e irmã dos mortos, desobedece enterrando-o secretamente. Ela fá-lo porque é o seu dever de irmã fazê-lo, quer dizer, enterrar o irmão, mas sabendo que é também o seu dever obedecer a Creonte (sobretudo como jovem mulher).
Antígona é apanhada numa situação contraditória quanto aos seus deveres. Ela também tem o dever de não decidir por si própria acerca do que deve fazer - o seu estatuto na vida obriga-a a obedecer aos requerimentos que lhe fazem- e o coro, mais tarde, condena-a por esta tentativa injustificada de autonomia.
Antígona é apanhada no desejo de conseguir algo normalmente proibido às mulheres: ela quer liberdade, o que requer que seja reconhecida como igual. Mas, quem teria autoridade para a reconhecer como tal? Não um marido (não na Grécia Antiga). Não os seus filhos, se os tivesse. Nem os seus parentes. Nem a sua irmã. Só os seus irmãos o poderiam fazer e estão ambos mortos. No seu desejo de liberdade, Antígona tenta convocar esse reconhecimento dos seus irmãos mortos. Acaba mal, como se sabe, porque o tio descobre e manda enterrá-la viva numa gruta; e embora depois se arrependa e resolva libertá-la, ela já se tinha suicidado.
Através do seu desafio, Antígona representa o que correu mal com o ideal grego: o modo como instituiu um regime de igualdade para alguns homens mas o negou a outros. Ao desafiá-lo, Antígona também se tornou a voz dos excluídos exigindo inclusão e reconhecimento como iguais e, por conseguinte, igualmente livres. Se 'alguns são livres', diz ela, porque não eu também? Para uma audiência grega isto criava um desconfortável sentimento de que talvez todo o esquema social/político não fizesse sentido.
(baseado num excerto de The Spirit of History de Terry Pinkard)
O que causa espanto é que passados 2500 anos ainda esta questão não esteja resolvida, no que respeita à liberdade e igualdade de direitos, de facto e não apenas formal, das mulheres e que a sociedade continue construída em toda a espécie de esquemas para condicionar a sua [nossa] liberdade.
De repente, percebemos que as maternidades do país estão presas por fios.
Inês Cardoso
Num país de baixa natalidade, é essencial não apenas assegurar capacidade de resposta, mas transmitir total confiança às populações.
Em contagem decrescente para as legislativas, o PCP e o Bloco de Esquerda reagiram de imediato e chamaram responsáveis técnicos e políticos ao Parlamento. É bom lembrar, contudo, que os orçamentos do Estado dos últimos anos tiveram a sua aprovação.
Aqui há meia dúzia de anos aquele Raposo que escreve para o Expresso publicou uma crónica, que na altura comentei, em que defendia, de um modo indirecto, que as mulheres de 30 anos (as outras já são lixo...) deviam ser assediadas pela sociedade no sentido de serem mal vistas se fossem procurar emprego antes de terem filhos e ficarem dois anos em casa a tomar conta deles. Acrescentava ainda que percebia que as mulheres portuguesas quisessem trabalhar para não serem vistas como "dondocas" mas que isso havia de passar se os homens ajudassem, ou até, partilhassem, as tarefas de casa.
O problema é este: os decisores portugueses, quase todos homens, mas também mulheres educadas neste sistema clerical/patriarcal entendem que os filhos são um problema das mulheres.
No artigo deste indivíduo nem uma única vez se diz que a sociedade devia pressionar os homens a não procurar emprego antes de terem filhos e ficarem em casa dois anos a tratar deles porque o problema dos filhos, no entender dele, não é dos homens, é das mulheres - embora os homens reservem para si as decisões acerca do que as mulheres podem e não podem fazer, relativamente ao seu corpo.
O homem é um ser humano substantivo, com ideias, projectos, presença e investimento no mundo, a mulher é uma categoria funcional, serve para ter filhos e cuidar deles. Talvez depois se deixe que tenha um trabalho para não parecer "dondoca". A ideia de que as mulheres tenham ideias, projectos de vida, ambições, preocupações científicas, sociais, filosóficas, etc. que as motivam mais que ter filhos e que se realizem no trabalho, nem lhe passa pela cabeça.
Portanto, estes homens que são os decisores políticos e seus influenciadores, demitem-se do problema dos filhos mas assumem-se como proprietários e decisores do corpo das mulheres.
As mulheres têm que ter os seus filhos e tratar deles, de preferência aos 30 anos.
Porque é que o dever de ter filhos e tomar conta deles não é estendido aos homens? Afinal, se os homens são capazes de fazer filhos e se há mulheres que querem ter filhos, e se os homens são perfeitamente capazes de cuidar e educar filhos como as mulheres, porque não obrigá-los a eles também a ter filhos aos 30 anos e a cuidar deles dois anos...?
Porque a revolução francesa, de que somos politicamente e socialmente herdeiros, teve como grande mérito, como sabemos, a ideia de que a liberdade é igual, em direitos, em todos os seres humanos, ao contrário do que acontecia até então, onde os reis e nobres em geral eram livres (como os ditadores, imperadores, etc.), entenda-se tinham a liberdade de escolher e ditavam as condições de vida aos outros, que eram obridados a submeter-se-lhes.
Ora, o que acontece é que a sociedade em que vivemos, clerical e patriarcal por tradição, não quer estender às mulheres esse código de liberdade. Por essa razão parece aceitável que um homem decida ter uma vida sem filhos ou decida tê-los mas se escuse a cuidar deles mas já não parece aceitável que uma mulher seja livre de tomar exactamente a mesma decisão.
Enquanto a sociedade não perceber que o problema dos filhos é também um problema de perpetuação da pátria que a todos diz respeito, o problema da natalidade não se resolve; enquanto a sociedade não perceber que as pessoas todas e não apenas os homens, têm direito a escolher o seu projecto de vida em liberdade, inclua ou não filhos, o problema não se resolve; enquanto a sociedade for patriarcal e não criar condições para que os filhos não sejam vistos como um obstáculo ao desenvolvimento pessoal, em liberdade, das mulheres, o problema da natalidade não se resolve.
Da mesma maneira que não se resolve o problema da falta de médicos no interior dizendo-lhes que é preciso médicos no interior ou obrigando-os a ir para lá como recrutas à força mas criando desenvolvimento e condições de atracção no interior, também o problema da natalidade não se resolve enquanto não se criar condições de vida que tornem a parentalidade uma tarefa apreciada e bem vinda socialmente com apoios e estruturas que a facilitem.
Não haver obstetras nem maternidades a funcionar não é um bom princípio.
Chama-se, 'o direito a desligar-se', do trabalho, claro.
Dan Brown, um fã da Ritman Library, a biblioteca de livros esotéricos, filosóficos e religiosos que Ritman coleccionou, em Amesterdão, doou 300 mil euros para que a biblioteca pudesse digitalizar as suas obras, agora online. O próprio Ban Brown abriu um centro em Amesterdão, Embassy of the Free Mind, com o bjectivo de promover o livre pensamento livre através da cultura, da arte, da ciência e da espiritualidade.
via Open Culture
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"‘We’ are peculiarly our own products, and the philosophical study of history is a study of how we shape-shifted ourselves across time." (Hegel)
Fui ver este filme com uma amiga. Éramos as pessoas mais nova na sala que estava bem composta. A média de idade devia andar nos 70 anos. Pessoas de canadianas, muita gente com muita dificuldade em andar. Seria de esperar que chegassem a horas mas isso era se não fossem portugueses... muitos chegaram quando a sala já estava às escuras, não viam os degraus, tropeçavam, depois falavam alto, 'não vejo nada!' e coisas do género. Parecia uma cena cómica. Acendi a luz do meu telemóvel e apontei para os degraus e estive assim a fazer de arrumadora ou lá o que é durante um tempo até que se sentassem. Durante os créditos finais passa uma filmagem de Nureyev a dançar. Pois a brigada da bengala resolveu sair, às escuras, outra vez sem ver as escadas e a queixar-se... enfim...
Não sei se média de idade das pessoas diz algo sobre o desconhecimento da figura de Rudolf Nureyev e de falta de interesse pela dança nas gerações mais novas ou se foi só um acaso.
Seja como for, o filme é muito bom. A realização é de Ralph Fiennes, o que me surpreendeu porque não sabia que ele também era realizador, além de actor. Ele faz no filme o papel de Pushkin (muito bem, diga-se de passagem), o bailarino e professor de dança que mais tarde também treinou Baryshnikov. Quem faz de Nureyev no filme é o bailarino ucraniano, Oleg Ivenko. Não é fácil fazer de Nureyev, um indivíduo com uma personalidade intensa e electrificante, com aqueles olhos enormes 'de fome de absorver tudo' como diz Ralph Fiennes.
O filme conta a viagem da companhia de Ballet de Kirov a Paris no fim da qual, já no aeroporto e perante a eminência de voltar a uma União Soviética que via como uma jaula, Nureyev desertou para o Ocidente. O filme é baseado num livro da jornalista Julie Kavanagh que escreveu a biografia de Nureyev depois de uma investigação de dez anos.
À medida que acompanhamos a excitação de Nureyev à descoberta da liberdade nessa visita da companhia de bailado a Paris onde causa um grande sururu como dançarino, vamos tendo flashbacks da infância dele e do percurso como dançarino em Leningrado. A personalidade dele e a fome de se expandir pela dança.Tudo muito bem feito e filmado com bons diálogos, cenas de dança muito boas e a música dos clássicos.
O filme consegue mostrar a maneira como a vida dele está presente na dança, quer dizer, ele dançava o que era e o que tinha vivido e isso transparecia: a infância de grande pobreza, a luta por suceder num país que o enjaulava, a ele e ao seu talento, a vontade de se instruir na arte, a fome de ser.
O filme chama-se O Corvo Branco. Em russo esta expressão designa aqueles que são diferentes e únicos e que por isso não se encaixam na normalidade. No filme vê-se a solidão que isso acarreta acompanhada de uma certa distância, endógena, uma coisa interior, não treinada.
Nureyev desperta para o mundo da arte quando a mãe ganha um bilhete para a ópera e o leva, com as irmãs, muito novo, com cinco anos ou assim, a ver o espectáculo. A magia dessa experiência despertou-o para a arte.
Compreendo-o perfeitamente. O mundo das artes performativas é um mundo cheio de magia. Uma pessoa senta-se, as luzes apagam-se, a cortina sobe e de repente estamos noutra realidade, que sendo irreal, é mais real que o real (a maioria das pessoas nas 'cenas' das [suas] vidas não são reais, são máscaras de conveniência), quando o apanha e revela as suas raízes profundas, os seus modos de ser.
Gostei imenso do filme. Imagens belas. São duas horas que passam a correr. Hei-se vê-lo outra vez.
... a não ser a constatação, inconcussa, que são todos farinha do mesmo saco? Diz o ditado que quem se mete no lodo enlodeia-se... este PS de Costa está cada vez mais enlodado na lama do Sócrates e a oposição está tão desvalida que o PS já se sente à vontade para exibir ao peito, quais medalhas, os do bando mais próximo e canino do Sócrates, como líderes que admiram e querem ver à frente dos nosso destinos.
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