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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Saint Michael Slaying the Dragon, c. 1480/1500 (Engraving detail) ~ by Monogrammist IC, after Martin Schongauer
Acabo de ler um artigo acerca do modelo de ensino do futuro onde o entrevistado, reitor da universidade do dito estudo, defende a ideia de, no futuro, em vez de propinas, os estudantes pagarem à universidade uma mensalidade como na Netflix e as universidades serem centros onde os alunos vão buscar, ao longo da vida, informações, experiências e serviços.
A ideia dele assenta no pressuposto de as universidades serem centros de conhecimento híbridos onde juntam aulas tradicionais, por exemplo, mentoria, centros de comunicação e experiência. Um aluno pode fazer umas certas cadeiras de um curso e depois ir abrir uma empresa usando professores mentores e, mais tarde, voltar à universidade para completar estudos ou para juntar-se a outros e enveredar por um caminho diferente. Mais, nesta hipótese, os professores dos anos pré-universitários estão em contacto constante com a universidade e os próprios alunos desses anos secundários beneficiam de contactos em ambiente universitário.
Estas ideias parecem-me interessantes. A ideia dos professores das escolas estarem em contacto com as universidades é uma ideia que defendo há muito mas que custa dinheiro. Um professor tirar um ano sabático, de cinco em cinco anos, por exemplo, ou de seis em seis, para tirar um breve curso ou várias cadeiras de cursos diferentes de actualização de conhecimentos, numa universidade. Isto beneficia a qualidade do ensino não-universitário, dos seus professores e tem repercussões positivas nos alunos. Essas formações nem têm que ser completamente presenciais, pode fazer-se, como já se faz, em parte, em modalidade e-learning.
De qualquer dos modos as universidades seriam, de facto, centros de saber e de experiência aos quais os professores não universitários e os alunos, futuros trabalhadores, ficariam ligados e às quais regressariam de vez em quando para mudar de emprego, fortalecer os conhecimentos no seu emprego, etc.
No ensino não-universitário os alunos beneficiavam, em vez de aulas de cidadania e projectos interdisciplinares à martelada (estes projectos sempre existiram mas como obrigam a muito trabalho-extra, dependem da vontade dos professores e alunos), de poderem explorar interesses individuais; mas isto requer dinheiro para não se tranformar esses interesses neste erro desta equipa ministerial de subtrair 25% do currículo de uma disciplina retirando-lhe coerência, complexidade e valor. Seria necessário haver pequenas turmas que agregassem alunos de várias turmas com um interesse comum.... em astronomia, por exemplo, ou fotografia ou outra qualquer área do saber e do fazer.
A ideia de um ensino individualizado ao extremo, nestas idades adolescentes não me convence. Começo a ter a ideia de que é desagregador. Amanhã, como tenho aulas com uma turma onde uma aluna também foi a essa escola na Finlândia e esteve lá uma semana, e como a rapariga é inteligente e observadora, vou pedir-lhe que partilhe a experiência e conte o que viu e vou fazer-lhe perguntas porque até agora só falei com professores e não com alunos acerca dessa experiência. Depois conto.
É o que se vê... a ONU dobra-se aos EUA de Trump e Pence, tudo no mandato do homem que alegou que defendia tão bem os direitos das mulheres como uma mulher.
Ontem tive que fazer tempo e entrei em lojas.
1º - não percebo o preço das malas... 400 euros, 600 euros, 1.500 euros...? Não percebo, quer dizer, uma mala é um pequeno contentor onde uma pessoa guarda a carteira, documentos, óculos e mais duas ou três coisas. Sim, são de pele e vê-se que a pele foi bem tratada mas não são como sapatos, não têm que ser tão bem feitas, com engenharia e design para se adaptarem a um andar confortável que não destrua ou deforme os pés, nem têm que ser especialmente resistentes. Desgastam-se pouco. Percebo que se pague a marca mas mesmo assim, é completamente absurdo o preço das malas.
2º As papelarias agora têm os jornais escondidos atrás do balcão e não mostram. Não podemos ver os títulos ou folhear para decidir o que comprar. Outras têm os jornais na prateleira que fica no chão de modo que os títulos ficam escondidos pela prateleira que está em cima. O que reparo é que as pessoas não o compram. Uns porque não vêm os títulos e nem se lembram dos jornais, outros porque é difícil uma pessoa baixar-se até ao chão. Mas há ordens para se esconder os jornais de maneira que não se vendam?
Ontem resolvi chatear a rapariga do balcão. Disse-lhe que queria ver os jornais para ver se queria comprar um. Ela apontou-os e eu disse-lhe que não me consigo baixar. O que é verdade. Nesta doença, o que mais me causa as dores mais excruciantes, para além do estar muito tempo parada, é o movimento de baixar-me e levantar-me. Mas outras pessoas mesmo que não tenham doenças mas que lêem jornais, que são as pessoas mais velhas, não se põem de joelhos para ver os jornais de modo que nem olham para eles.
Enfim, lá veio a rapariga com ar de grande enfado, perguntou-me qual queria, disse-lhe que queria ver todos, ela disse que não estava para tirar todos os jornais. Ai si? Olha, vim-me embora, não comprei nada. Quando cheguei a Setúbal fui à papelaria onde costumo ir. Dou uma vista de olhos nos jornais todos, leio o que me apetece e compro sempre um jornal, o que é mais do que compro nas papelarias de agora que têm uma política de não ter os jornais à mostra e dificultarem a visão. Não percebo... mas os jornais não querem vender...? Não precisam de vendas...? Os governos sustentam-nos, é isso...? é porque havia quem roubasse jornais? Bem, mais vale que desapareçam alguns mas que os outros se vendam que nenhum se venda, não? Não percebo este absurdo. Parece-me uma política hostilizante, estúpida.
Enfim, desta vez, na 'minha' tabacaria comprei também esta revista da Visão que está muito boa. Fiquei interessada e vou estar de olho ao próximo número que aparecer.
Hoje tinha isto na caixa do correio.
OMG! Já falhei os benefícios da crucificação! Já tinha ouvido falar dos benefícos da vitamina C, D, E, etc. mas, nunca tinha ouvido falar dos benefícios da crucificação...
As religiões cristãs já tiveram um papel importante numa certa libertação ou emancipação das pessoas mas isso foi há mais de dois mil anos... há muito tempo que são, sobretudo, uma fonte de obscurantismo.
Não digo que a crença num Deus seja irracional (embora seja não-racional) mas para além de ser intelectualmente desinteressante, acontece que as religiões organizadas que gerem a crença nesse Deus são, há muitos séculos, uma grande fonte de obscurantismo no domínio do conhecimento e de opressão no domínio ético e moral.
Outro dia fui dar com este artigo aí em baixo no Expresso e guardei-o porque é um bom exemplo de maus raciocínios, interessante para as aulas, não só acerca da religião (agora passou a ser obrigatório dar a religião como uma das dimensões da acção humana, no programa do 10º ano) mas para as aulas acerca da epistemologia.
Hei-de fazer um comentário a esse artigo mas não hoje que estou cheia de trabalho e vim só aqui fazer um intervalinho de sanidade.
Henrique Raposo
O que está antes do Big Bang? Se o Big Bang é a explosão da criação, qual é a centelha inicial que causa a ignição? Os ateus que instrumentalizaram a ciência nunca tiveram uma resposta e, aliás, ficavam enfurecidos quando se fazia a pergunta. Diziam que era uma questão imprópria. Não gostavam da pergunta, porque ficavam incomodados com um pressuposto que se tornou tabu: a ciência não cria, só descobre. E o Big Bang foi criado por uma entidade que é anterior e superior ao próprio tempo da história natural. Agora, perante a maravilhosa “fotografia” do buraco negro, podemos atualizar a pergunta: o que está para lá do horizonte de eventos que suspende as leis da física tal como a concebemos em 2019? O que está para lá do buraco negro é o que está para cá do Big Bang.
Nisto da existência de Deus (entenda-se por Deus, a entidade cristã, uma entidade inteligente, absoluta, criadora do que existe) não há muitas opções lógicas: ou esse Deus existe ou esse Deus não existe. Se esse Deus existe, sendo o princípio de tudo não pode Ele mesmo ter princípio, logo, existe desde sempre e, poderá ter criado tudo o que é. Se esse Deus não existe, a matéria, ela própria, é que não tem princípio, existe desde sempre e, tudo o que é, resulta da sua auto-organização e dinâmica.
A pergunta, 'o que está antes do Big Bang' não tem resposta da ciência porque não lhe cabe a ela perguntar se existe um Deus ou outro princípio qualquer causador de tudo. Cabe-lhe explicar os processos, o evoluir dos mecanismos no seu encadeamento.
Depois, é duvidoso que a ciência 'descubra', qualquer coisa, isto é, que algo esteja encoberto e a ciência desvele uma verdade ou realidade escondida. Quem cria os conceitos científicos são as pessoas e nós não vemos, muito provavelmente, as coisas como elas são mas como nós somos. Quer dizer, vemos o que a nossa própria organização cognitiva nos permite 'ver'. Se tivéssemos outra organização mental, vamos dizer, a das moscas, 'víamos' outro mundo.
De resto, são espantosas as semelhanças entre a cosmologia do cientismo (Big Bang) e a cosmologia do Génesis judaico-cristão: a explosão inicial, dizem ambas, ocorreu num dado momento. A teologia identifica uma ignição, o cientismo prefere entrar em negação e fingir que não ocorreu ignição. Ou, pior, recorre ao acaso como explicação. Ou seja, o cientismo que identifica as leis fixas e previsíveis do cosmos é o mesmo cientismo que diz que, ora essa!, toda esta arquitetura racional e previsível nasceu de um mero acaso sem intenção. É um erro lógico absoluto: como é que um acontecimento aleatório pode ser a causa da imensa arquitetura do cosmos, que existe precisamente para suspender o aleatório. Dos anéis de Saturno até à ordem precisa das células do olho humano, nada parece existir por acaso. Portanto, quando transforma a aleatoriedade do acaso na centelha inicial, o cientismo torna-se místico e incongruente com a sua própria lógica interna.
"são espantosas as semelhanças entre a cosmologia do cientismo (Big Bang) e a cosmologia do Génesis judaico-cristão:" Em primeiro lugar o cientismo não é a teoria do Big Bang nem nehuma teoria em particular. O cientismo é, grosso modo, a crença de que a ciência é uma forma de conhecimento superior às outras e que por isso as dispensa, como irrelevantes. Em segundo lugar, quase todas as culturas têm um mito cosmogónico idêntico ao do Génesis judaico-cristão, quer dizer, que explica a origem do Cosmos a partir de um Caos, de umas trevas indistintas pré-existentes de modo que o mito do Génesis não é exclusivo, nem original.
Em segundo lugar, a ciência não identifica leis fixas. Como é do conhecimento geral a ciência está em evolução e as leis que um dia são aceites no outro dia (que pode ser no outro século) são alteradas ou substituídas. Chamamos a isso, o progresso. A própria realidade é dinâmica e não estática.
Em terceiro lugar a 'arquitectura' do Universo não obriga a ter um Deus criador. Quando muito obrigaria a ter um arquitecto mas, um ser que arquitecta uma realidade não tem que ser, necessariamente, o criador da própria realidade, enquanto totalidade. Para não falar de que a arquitectura do Universo, se fôssemos ver todas as coisas existentes e não apenas as que parecem belas e impressionantes, umas vezes têm efeitos positivos, outras extremamente negativos, o que conflitua com a ideia de um Deus Sumamente Bom, inteligente e omnisciente tal como é entendido pela teologia cristã.
Finalmente, o conceito de 'acaso' na ciência não signific a, 'à balda', como o artigo parece dar a entender. O acaso é um conjunto muito complexo de eventos inter-relacionados que não conseguimos, dada a sua complexidade, descrever e prever, como nos explica a Teoria do Caos exemplificada no 'efeito de borboleta'. Quer dizer, uma pequenina mudança no início de um evento qualquer pode resultar em consequências enormes e desconhecidas no futuro.
A ideologia deste cientismo tecnológico (não confundir com ciência) aboliu a ideia de começo (para citar George Steiner). Durante todas estas décadas de pós-modernidade, não tivemos começos, não tivemos narrativa ou narrativas. Os filmes e romances não podiam ter um começo convencional. As nações não podiam ter sagas com princípio, meio e fim (trágico ou redentor). Estávamos suspensos no ar, porque o cientismo dominante lançou uma fatwa à pergunta mais básica e profunda: viemos de onde? Quem nos criou? Qual foi o nosso começo? Neste sentido, a fotografia do buraco negro pode ser uma libertação. Ao contrário do Big Bang, o buraco negro está ali e é impossível fugir à questão: o que está para lá do horizonte de eventos? Porque é que o espaço e o tempo se tornam moldáveis, isto é, relativos? Ora, seguindo a imaginação de Frank Herbert, até podemos conceber uma civilização humana ou humanoide capaz de dobrar o espaço para assim viajar no tempo. Imaginem que se dobra a Europa ao meio como uma folha de papel: Lisboa ficaria ao lado de Moscovo nesse espaço moldável. Mas como é que se concebe o tempo a ser moldado enquanto barro sem recurso à transcendência? Como é que se compreende a 'relatividade' do tempo de Einstein sem a 'eternidade' de Santo Agostinho? Como é que se compreende o tempo enquanto variável material sem a introdução do grande tabu, Deus?
O cientismo não aboliu a ideia de começo. Não cabe à ciência fazer essa questão nem essa é a questão mais profunda. A questão mais profunda, diria inquietante, não é o 'como é que as coisas se iniciaram e processam' mas 'porquê' existem. São questões diferentes. Não são a mesma questão.
Platão tem um argumento no livro do Fédon em que discute o problema da imortalidade da alma onde distingue essas duas questões.
Sócrates, sentado no catre da sua cela de prisão, explica que uma coisa é perguntar como é que ele está ali sentado, imóvel, outra é perguntar porquê. É certo que para levantar-se e pôr-se em movimento, precisa dos músculos e dos ossos e isso é o que explica o início do movimento do corpo e a sequência das acções. No entanto, não é por causa de ter músculos e ossos que está sentado imóvel. Está sentado porque quer, porque é essa a sua vontade e isso é que explica o porquê de estar imóvel.
Portanto, perguntar pelos movimentos da matéria que desencadeiam outros movimentos e acções, isto é, questionar os processsos do como é que 'isto' funciona e como se desencadeou, é o trabalho da ciência; mas perguntar, porque é que 'isto' existe, será que há uma causa que explique a existência de coisas, na famosa pergunta de Heidegger, 'porquê o ente e não o nada?', não é uma pergunta da ciência.
"Ao contrário do Big Bang o buraco negro está ali'... o que quer isto dizer?
E na imagem, "o tempo a ser moldado enquanto barro" ( que duvido possa ser uma imagem adequada) está implícita a ideia de que o tempo é material, logo, concebe-se muito bem sem transcendência divina.
FIM do assédio contra professores: UM POR TODOS E TODOS POR UM!
Recentemente através dos media tivemos conhecimento que um conjunto de professores da Escola Secundária Alves Martins (Viseu) apresentou queixa de assédio contra o DIRETOR.
A 24 de abril o S.TO.P. foi a essa escola, ouvir e reunir com professores e disponibilizar, não só mas também, apoio jurídico a eventuais situações de assédio (Escritório de Advogados Dr. Garcia Pereira). Posteriormente, reunimos com um responsável da direção, onde reafirmámos que o S.TO.P. está a acompanhar com muita atenção todos os desenvolvimentos desta situação.
Infelizmente, sabemos que haverá por todo o país, muitos outros colegas que sofrem em silêncio situações claras de abuso de poder e/ou assédio por parte das direções. Queremos transmitir a esses colegas que NÃO ESTÃO SOZINHOS! Devem apresentar queixa ou pelo menos solicitar apoio ao S.TO.P.
METEM-SE COM UM PROFESSOR, METEM-SE COM TODOS!
Garantindo total confidencialidade, criámos um email para tratar especificamente estas situações de assédio e/ou abuso de poder nas escolas.
CONTACTA-NOS: s.to.p.assedio@gmail.com
Feliz dia da LIBERDADE para todos que trabalham nas Escolas!
UM POR TODOS E TODOS POR UM!
Enquanto os filhos - e ele próprio - são doutrinados pelo "filósofo" Olavo de Carvalho, Bolsonaro decreta fim dos estudos de humanas alegando que a educação deve servir para ensinar "leitura, escrita e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa"
Uma coisa é querer proibir absolutamente que se faça PPPs na saúde, mesmo em casos em que haja óbvio benefício para os doentes, o que parece completamente absurdo, outra muito diferente é o Estado demitir-se da obrigação de financiar o SNS de modo a que "seja dotado dos recursos humanos, técnicos e financeiros necessários ao cumprimento das suas funções e objetivos." Pelos vistos, os deputados do PS retiraram esta obrigação do texto da proposta de projecto-lei.
Ou seja, desistir de ter um SNS que "proteja a saúde através de um sistema universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito". Retirar o texto não é um progresso mas um regresso.
Não percebo, Passam de um exagero ao outro. Porque não podemos ter um SNS de qualidade e ter, quando necessário mas não como regra, uma PPP? Não percebo estas ideologias radicais que sacrificam tudo a um extremo que fecha inúmeras possibilidades.
O Medina é um indivíduo muito perigoso. E ainda agora começou, por assim dizer.
Não basta explicar, como o faz a Câmara de Lisboa, que a Web Summit impôs cláusulas de confidencialidade para que deixemos de considerar que em causa está uma prática inaceitável.
Que o senhor Paddy Cosgrave, o líder da empresa, queira esconder da curiosidade pública os milhões de euros que vai receber do erário público, que esteja interessado em manter no segredo a série de vantagens que o levaram a manter o evento em Lisboa, nós percebemos. Mas, uma coisa é o direito ao sigilo dos investidores privados, outra coisa, completamente diferente, é a obrigação de as entidades públicas prestarem contas aos cidadãos. O acesso integral aos montantes que vamos ter de pagar pela Web Summit ou às facilidades lhe vão ser concedidas não implica nenhum favor da Câmara de Lisboa nem do Governo. Resulta sim de um direito que nos querem cercear.
... como, por exemplo, dizer-lhe para enfiar o excedente de 884 milhões com défice 0% e impostos a subir naquele sítio onde não entra a luz, como dizem os ingleses... é que esse saco de dinheiro que ele guarda, custou-nos a nós professores, quase dez anos de bom trabalho, que são dez anos de vida, jogados para o lixo com desprezo e, custou-nos a todos nós, portugueses, um serviço de saúde moribundo. Não sei do que é que ele se ri. De nos ter enganado? De ter guardado muito dinheiro para primos e animações de cemitérios...? Não sei, mas eu não tenho vontade nenhuma de rir.
Alguns colegas e alunos estiveram na Finlândia num daqueles programas de intercâmbio (também recebemos professores e alunos de outros países). Hoje estive a conversar com colegas sobre a experiência. Pelos vistos os nossos alunos só diziam, 'meus ricos professores' e vieram de lá mal impressionados. E porquê? Bem, as turmas têm nove alunos, o que é um pouco a menos... díficil criar uma dinâmica com tão poucos alunos.
Depois, os alunos estão espalhados em mesas, em silêncio, agarrados ao telemóvel. Estão no twitter, no instagram, recebem e enviam mensagens, estão com os pés em cima das mesas... não há uma dinâmica de turma, não há interacções... há um silêncio passivo.
Os professores vão passando pelas mesas e deixando fichas com propostas de trabalho que eles fazem, se quiserem. Quando querem sair da sala de aula saem e voltam quando querem (isto é complicado porque estão trancados dentro das salas por causa do perigo de terrorismo).
A direcção tem um sistema de inter-comunicação com a escola toda e todos os dias manda mensagens (à americana) e tudo é publicitado: se um aluno é chamado à direcção é comunicado a toda a escola.
Tanto os alunos como os professores são completamente passivos. Essa é a principal queixa de uns e outros. A total ausência de 'alma' (palavras deles, professores finlandeses) dos alunos. O caso é tão grave que a principal preocupação são as depressões na infância e adolescência. Há salas, nas escolas, com cadeirões e psicólogos que têm mais afluência que as aulas.
Este é o tipo de ensino que nos vendem como excelente e que o nosso secretário de Estado quer seguir, nomeadamente, acabando com avaliações, sistemas de assiduidade, acreditando que crianças e adolescentes sabem melhor que os adultos o que devem aprender, quando e como e o que não querem aprender e que o ideal é que todos estejam com tablets e telemóveis a fazer pesquisas sobre o que querem... não admira que a Finlândia esteja em queda nos testes internacionais e com problemas há bastante tempo.
Isto parece-me o ensino individualizado, levado ao extremo. Cada aluno está na sua. Tem a sua proposta de trabalho ou se calhar a proposta é da sua autoria, vai fazendo o trabalho no seu tempo, quando quer, enquanto intervala nas redes sociais (mas isto favorece a concentração?), o professor vai vendo e se calhar dando feedback... tudo tão individualizado, personalizado e atomizado que é desagregador e, nessa medida, deprimente.
A nossa tutela, os ministros, os primeiros-ministros portugueses, desde há muito, sem excepção, denigrem o sistema de educação português.
No entanto, os suecos, os alemães, os ingleses e outros vêm cá recrutar alunos no 11º e 12º anos para as suas universidades ou alunos já licenciados para o mercado de trabalho. Temos alguns dos melhores médicos e centros médicos do mundo, temos arquitectos que recebem prémios de excelência no mundo inteiro, enfermeiros recrutados a peso de outro, engenheiros, editores que saem daqui do desemprego para liderar equipas em editoras de renome, biólogos, etc.
Ora, como isto poderia acontecer se as nossas escolas e universidades, em geral, não tivessem um bom ensino...?
A geração de professores a que pertenço e que são de um tempo anterior às parvoíces da Ana Benavente, à guerra destruidora da Lurdes Rodrigues e às asneiras dos que se lhe seguiram, acreditam ainda e põem em prática um trabalho de desenvolver potencialidades cognitivas e de competências dos alunos mas também formá-los enquanto seres sociais: saberem trabalhar numa equipa, chegar a horas, concentrar no trabalho, ser responsáveis, participar na vida da escola, ter espírito de turma/grupo, etc.
Aqui no país há, penso, falta de autonomia nos alunos; no entanto, o excesso de individualidade e autonomia em idades tão jovens, ao ponto da desagregação e anomia que por lá se vê parece-me ainda pior.
Temo que os professores mais novos, por muito bons que sejam, venham já formados nestas pedagogias radicais (tudo o que é radical na educação é perigoso porque fecha possibilidades) que vão buscar lá fora sem conhecimento, critérios ou avaliação e que a certa altura, quando se perceber, como eles na Finlândia já perceberam, que se enfiaram num caminho errado, seja tarde demais e já não tenha volta. Já estamos um pouco nesse caminho e aqui no país já ninguém quer ser professor...
E quem diz Finlândia podia dizer França, Inglaterra, EUA e outros que estão com uma grande crise no ensino.
Termos um dia, um ministro/a que perceba de educação e não seja um ignorante, rodeado de outros iguais, com excesso de auto-estima e deslumbramento pelo que se faz lá fora, só porque se faz lá fora, que valorize o que aqui temos de bom e invista para melhorar o que já é bom e corrigir o que precisa correcção sem fazer revoluções perniciosas de 3 em 3 anos, já me começa a parecer, não um ideal mas uma utopia.
Depois de ter lido ontem, num jornal, que a maioria dos jovens portugueses não sabem quem foi quem e quem fez o quê no dia 25 de Abril resolvi começar as aulas a perguntar aos alunos quem tinham sido as pessoas importantes no decorrer e desfecho dos acontecimentos desse dia.
Numa das turmas, do 11º ano, duas alunas sabiam os nomes de Salgueiro Maia e Otelo. Uma delas sabia que Salgueiro Maia se tinha arriscado a levar um tiro. Não sabiam mais nomes nem sabiam ao certo o que é que tinha sido feito nesse dia. Uma delas sabia que eram capitães. Então estivémos a falar um bocadinho sobre esse dia e os outros intervenientes, como o Jaime Neves e o Spínola.
Na turma do 12º ano só uma aluna sabia o nome do Otelo mas também não sabia ao certo o que se tinha passado nesse dia. Sabiam todos em geral que os militares tinham tomado o poder. Mais nada.
Falámos um bocadinho sobre esse dia mas pouco porque tenho um programa para cumprir.
O desprezo a que a disciplina de História tem sido votada dá nisto...
Há uma placa no Largo do Carmo a lembrar a acção de Salgueiro Maia no dia 25 de Abril de 1974. A placa não é dourada nem está numa parede com pompa a brilhar. Não. Está no chão, sem protecções, onde pode ser, e é, pisada por toda a gente que por ali passa. E é assim que está bem. Parece-me a mim que é uma grande metáfora do espírito do 25 de Abril e dos heróis desse dia, pessoas como Salgueiro Maia cuja noção do dever e coragem foram determinantes para o seu sucesso, pessoas que fizeram a revolução a pensar nos outros.
Como todos sabemos, Salgueiro Maia saiu para a Revolução às 3.30h da manhã com um pequeno e simples discurso acerca de já não ser possivel adiar a acção para acabar com o 'estado a que isto chegou' e voltou ao quartel nesse mesmo dia às 23.30h com a revolução feita como deve ser.
Como também sabemos, a caminho do Terreiro do Paço, foram passando por forças da segurança que não se manifestaram e deixaram-nos passar sem problemas até chegarem à Rua do Arsenal onde parecia que o movimento podia ser travado mas não foi, em parte pela sua coragem de manter-se firme e em parte pela recusa dos militares de dispararem contra si, como conta o próprio.
Mais tarde ao chegar ao Largo do Carmo, já contava com o apoio da populção,
“Pelo meio dia e trinta cerquei o quartel da G.N.R. do Carmo. Foi bastante importante o apoio dado pela população no realizar destas operações pois que além de me indicarem todos os locais que dominavam o quartel e as portas de saída deste, abriram portas, varandas e acessos a telhados para que a nossa posição fosse mais dominante e eficaz. Também nesta altura começaram a surgir populares com alimentos e comida que distribuíram pelos soldados”
O 25 de Abril não é obra de uma só pessoa como nenhuma revolução o é mas, há pessoas que nos momentos decisivos em que os destinos se decidem, para o melhor ou para o pior, têm a coragem de manter-se fiéis aos seus princípios e ideais, por vezes com a coragem de pôr a vida em risco e, são esses que fazem a diferença. Salgueiro foi essa pessoa.
Como também sabemos Salgueiro Maia manteve-se fiel aos seus princípios e, mesmo em plena revolução, quando a História nos mostra ser vulgar a deriva para o excesso no exercício do poder, manteve-se sempre dentro dos limites da acção ética, no respeito pelos outros, mesmo por aqueles que se queria derrubar. A placa no Largo do Carmo, está no sítio exacto onde ele se dirigiu a Marcello Caetano e outros governantes sitiados no quartel e partir do qual escoltou Marcello Caetano, sempre com grande contenção de emoções e dignidade, em segurança, até ao avião que o levou do país.
Essas acções dele deram a tónica ao que viria a ser a revolução: um movimento popular de liberdade e não de violência.
Há falsos heróis desse dia, há outros que foram vítimas da ditadura mas que usaram a revolução para se tornarem naquilo contra o qual lutaram e há os que não souberam, e não sabem, nem exercer o poder sem abusos, nem largá-lo.
Salgueiro Maia era um homem do povo mas foi um Senhor. Um herói da revolução popular que soube exercer o poder quando foi necessário (e perigoso) e largá-lo quando chegou o momento e foi necessário.
Placa de memória a Salgueiro Maia no Largo do Carmo
Salgueiro Maia no Largo do Carmo no dia 25 de Abril de 74
Salgueiro Maia na Rua do Arsenal no dia 25 de Abril de 74 (não sei de quem é esta famosa fotografia)
... acerca dos desvios e erros de vício que se vão instalando e onde nos levarão, acerca dos poderes, que se dizem herdeiros dos ideais de Abril e os usam ao peito na lapela, talvez mais por vaidade ou auto-indulgência que por convicção mas que os atraiçoam nos seus fundamentos ao exercerem o poder.
Uma mulher de 57 anos, desempregada, tem a sorte de acertar num prémio de 10 mil euros numa raspadinha e o prémio é-lhe negado com um pretexto mesquinho. Estamos a falar de 10 mil euros... o que são 10 mil euros nos lucros de milhares de milhões que se fazem na Santa Casa? Quem sabe, a pessoa que negou à mulher a alegria dos 10 mil euros tenha sido um administrador, primo de alguém, a quem pagamos carro, cartão de crédito e ajudas de custo.
10 mil euros foi quanto o Medina deu a uma associação de 'primos de PS' para animar cemitérios em Lisboa, antes mesmo da associação estar oficializada... só para se entreterem, talvez para fazerem um jantar de arromba e irem fazer umas comprinhas...
Esta é a sociedade que estamos a construir. Uma sociedade com sintomas de doença. Uma sociedade cheia de mesquinhez e hipocrisia que atinge os mais pobres com malvadez por parte de uma classe política com hábitos e modos desprezíveis.
Mulher perde prémio de 10 mil euros em raspadinha por ter bilhete rasgado
Maria Freitas, uma desempregada de 57 anos, de Guimarães, ganhou 10 mil euros, em fevereiro, numa raspadinha de três euros, mas não tem direito ao prémio porque o bilhete está rasgado. Desolada, a apostadora garante que não voltará a jogar.
"Era uma ‘Moedas da Sorte’. Quando raspei, tive uma alegria muito grande ao ver que tinha prémio. Coloquei o bilhete na carteira e, quando fui aos serviços da Santa Casa, no Porto, disseram-me que não iam poder pagar o prémio porque o bilhete se apresentava rasgado", contou.
"O bilhete apresenta um ligeiro rasgão, na lateral do lado esquerdo, uma coisa mínima, mas tem todas as letras e todos os números intactos. Não compreendo este critério",
Os animadores do cemitério da Lisboa de Medina:
... acerca dos desvios e erros de vício que se vão instalando e onde nos levarão. Este artigo é um bom exemplo de questionamento sobre o modo como os poderes, que se dizem herdeiros dos ideais de Abril e os usam ao peito na lapela, talvez mais por vaidade ou auto-indulgência que por convicção, os atraiçoam nos seus fundamentos ao exercerem o poder.
Paulo Mota Pinto
Alguns dos protestos que Portugal tem vivido nos últimos meses deram origem a curiosas críticas feitas por parte de analistas e de políticos, maioritariamente situados à Esquerda. Diz-se que se trata de movimentos e de protestos ditos "inorgânicos". Quer com isso dizer-se que não são controlados politicamente, ou por nenhuma central sindical - isto é, são independentes e não sob obediência de nenhuma motivação política ou ideológica. Limitam-se a pretender defender os interesses dos trabalhadores em causa.
Trata-se de críticas curiosas, só verdadeiramente veiculáveis no contexto português. O panorama sindical em Portugal é há muito dominado pela ligação das centrais sindicais a partidos políticos. E com muitos casos de comunhão de dirigentes e total alinhamento de posições. Nalguns casos, perante a perda de adesão ao partido, há mesmo quem se interrogue se não é já a central sindical que é "correia de transmissão" do partido, mas antes o inverso que se verifica.
A situação de controlo dos trabalhadores por apenas alguns sindicatos, e destes por partidos políticos - mesmo não tendo chegado a vingar a tentativa de imposição de "unicidade" sindical" - tem certamente várias explicações, históricas, políticas e sociais. E, provavelmente, não tem só efeitos negativos.
Mas os instrumentos de luta dos trabalhadores, e as suas formas de organização coletiva existem para a defesa de interesses laborais, e não para ser instrumentalizados para posições de partidos políticos. Por isso, não é aceitável o medo de que os trabalhadores possam expressar e defender livremente os seus interesses - como passaram a poder fazer em consequência do 25 de Abril 1974. O medo de que atuem sem controlo por partidos que pretendem ser seus donos. Em vez do medo da greve livre, o que deve repudiar-se é antes o controlo do protesto laboral por partidos políticos que querem ser donos (e monopolistas) dos trabalhadores e seus interesses.
O medo da greve e do movimento sindical livre não é, na realidade, mais do que o medo de perda do controlo e do poder sobre os interesses dos trabalhadores, e da possibilidade de os instrumentalizar para os seus próprios fins políticos e partidários. Mas quando a atuação desses partidos políticos se traduz no aval ao prolongamento e aprofundamento da austeridade (encapotada), e à constante degradação dos serviços e bens públicos ao dispor dos mais desfavorecidos, esse é o resultado inevitável.
... e fazes um ovo mexido e ficas cheia de náuseas... e o vento chuvoso põe as janelas a ranger e irrita e nada ajuda... nada... hoje precisava mesmo que alguém me fizesse um jantar e mais o que fosse preciso.
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