Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Vi este documentário na BBC. É um documento extraordinário para se compreender a obra dela, para se compreender a arte em geral e a vida também. Ela é muito inteligente e intuitiva: lê muito bem as situações (políticas e outras), as intenções e relações entre as pessoas, as forças obscuras da vida e depois de ouvi-la faz-se luz sobre muitas pinturas que não percebíamos bem; ou melhor, eu não as percebia bem, como o caso da série, 'mulher cão'. No entanto, o que impressiona mais é a honestidade dela. Ela é completamente honesta, verdadeira e sem disfarce. Ela diz ali coisas muito difíceis de dizer e, di-las, não apenas sabendo que serão públicas mas, em frente ao filho que é quem lhe faz a entrevista. Mas a honestidade dela não é uma coisa catártica, uma espécie de confissão redentora em fim de vida para limpar os pecados e tal, não... ela diz os factos da vida, como eles aconteceram e lhe aconteceram. Não há ali moralismos, há uma desvelação da vida e das circunstâncias da vida. Ela tem a honestidade e a crueza da verdade que as telas dela têm. A catarse dela, fá-la nas telas que pinta.
É uma pessoa real como não se encontram muitas.
Depois vemo-la pintar, ouvir histórias diante da tela em branco, imaginar, compôr o cenário para a tela.
O pai dela, quando ela era mais nova e queria ir estudar arte disse-lhe para ir estudar para Londres porque Portugal não era um sítio para mulheres, que as mulheres aqui não tinham oportunidades de futuro, de serem artistas independentes, etc. - isto era nos anos 50, no tempo de Salazar.
Desde que a Primavera espreitou que as praias têm gente ao sol e dentro de água. A praia dos Coelhos agora tem caixotes de minis abandonadas - vazias, claro. As pessoas vão para lá embebedar-se e passam lá a noite (alguns levam tendas e de manhã ainda lá estão na ressaca) mas depois vão-se embora e deixam o lixo das suas bebedeiras... quer dizer, vão para lá porque a praia é um pequeno paraíso mas quando saem de lá deixam um inferno de lixo de vidro e plástico para os outros. Os portugueses não são educados nessas coisas...
estas florinhas cheiravam tão bem...
There is no such thing as a "self-made man". We are made up of thousands of others. Everyone who has ever done a kind deed for us, or spoken one word of encouragement to us, has entered into the makeup of our character and of our thoughts, as well as our success.’
(repara-se que 'turmas enormes' é uma das características das escolas pobres e uma das razões de não se ir longe na vida... aqui há tempos estava a ler uma pequena biografia de um tipo que é descrito assim: tornou-se escritor apesar da desvantagem de ter andado numa escola pública com turmas enormes devido ao despedimento de muitos professores como contenção de custos. Isto era referido como uma característica evidente de degradação da educação dos não priviligiados e não uma polémica como os nossos ministros e responsáveis pela educação gostam de afirmar para ver se enganam tolos.)
Levo sempre uma fruta ou iogurte para a escola para comer a meio da manhã. Hoje esqueci-me de levar (porque uma pessoa anda com tanto trabalho que já não anda a bater bem) e como tomei o pequeno almoço cedíssimo, antes das seis da manhã, estive a trabalhar até às 13.30h, à fome, o que me custou bastante na última aula por estar em fraqueza. É que não posso comer açúcar e na escola só há pão (com queijo ou fiambre), bolos, fritos, bolachas e chocolates. Na última aula da manhã disse que à turma que estava cheia de fome. Uma aluna disse-me que às vezes chega atrasada porque não pode comer açúcar e tem que fazer uma merenda para trazer antes de sair de casa com uma panqueca e uma banana (o que às vezes a faz perder o autocarro porque ela vem de longe) pois caso contrário fica toda a manhã sem comer porque não há nada que possa comer na escola a não ser pão, bolos, chocolates, fritos e porcarias de máquina. Já desisti de ir ao bar. De cada vez que lá ia perguntava por fruta ou iogurtes (respondiam sempre que isso é no mês a seguir e que não trazem porque não se vende bem) e dizia-lhes que acho um escândalo não perceberem que estão numa escola e que têm que ser pedagógicos, até a vender comida. Ficam chateados de ouvir isto e, de qualquer modo, não há lá nada que possa comer... olha, se é para beber cafés vou à máquina que ao menos não me chateio...
Hoje soube que um aluno/aluna, numa aula de Matemática em que se fazia teste, tirou fotografia do teste, enviou para um colega que enviou para o explicador, que resolveu o teste e enviou a fotografia do teste resolvido para o colega que o enviou para o aluno/aluna na sala de aula... o professor deu conta do aluno/aluna estar a usar o telemóvel e foi assim que se descobriu tudo. Há aqui tanta coisa tão grave que nem sabemos por onde começar mas a pior de todas é o explicador ter sido cúmplice activo da fraude. Merecia uma queixa... Os alunos copiarem assim ou de modos idênticos, agora, é pão nosso de cada dia. No mês passado houve outro caso de copianço com telemóveis e fotografias de testes que envolveu três alunos. No ano passado houve um caso gravíssimo de roubo de testes que envolveu uma turma inteira com os respectivos pais.
Em Portugal não se valoriza a fraude como coisa grave o que não espanta porque a cultura de fraudes, falcatruas, mentiras, calotes e afins vem de cima dos responsáveis pelos cargos mais altos do país e depois é imitada pelos outros por aí abaixo. Estes alunos que cometem fraude nas aulas são os que hão-de cometer fraudes na vida profissional adulta. Mas nas escolas imensa gente não percebe ou finge não perceber isso e acha que o copianço é uma espécie de fair game, que faz parte de ser aluno. Só que não faz. Faz parte de ser desonesto. E, tal como na política, a educação sem ética é mero negócio.
Esta profissão fantástica vem sendo estragada, paulatinamente, por cada ministro que vai parar ao cargo, com particular incidência para a época pós-Rodrigues, esse presente envenenado do grande líder, o Sócrates. Dantes havia critérios informados, objectivos, pedagógicos e, éticos, que orientavam a acção nas escolas. Agora não há critérios, há pessoas que mandam de modo que as coisas são deixadas à sorte [pode ser que sendo aluno tenhas a sorte de te calhar um professor bom, ou um DT bom, ou uma turma boa, ou uma escola boa, ou sendo professor, podes ter a sorte de te calhar um chefe bom (bom no sentido de pessoas que agem segundo critérios informados, objectivos, pedagógicos e éticos) ou, então, não tens essa sorte e estás tramado], à arbitrariedade e à disposição de carácter de quem chefia. Com estas premissas é indiferente o que se faça em reformas... é o mesmo que ter um carro com o motor inadequado e dedicares-te a pintá-lo e mudar-lhe os estofos .
O que eu queria mesmo era uma equipa ministerial burra, perfeita na sua burrice. Não falo de pessoas de sucesso na sua área porque esses são um grande perigo: por terem chegado longe na sua área (serão bons engenheiros, cientistas ou produtores de estatísticas ou outra coisa qualquer) entendem que serão bons em tudo e mais alguma coisa e acham poder mexer em tudo com mérito. São os que têm ideiazinhas que desfazem o já feito por entenderem que as suas reformas é que vão fazer encontrar a pedra filosofal. Também não falo dos que se enganam a si mesmos pensando que a competência está ligada à quantidade de folclore e papelada que produzem para tapar as insuficiências estruturais, de que não têm consciência - sabemo-lo pelo modo como trabalham. Não, não, não... falo mesmo de gente burra, que nunca tenha conseguido fazer coisa alguma de jeito e que, por isso, tenha medo de estragar e se refreie de mexer, remexer, desfazer, refazer, baralhar e voltar a dar. É que a quantidade de pintura e estofos que já meteram no carro é de tal ordem [li que foram dezenas de reformas em 10 anos] que já não se aguenta mais ideiazinhas, mais reformazinhas, mais metas, mais decretos, mais regras, mais porcarias que interferem com o trabalho e cada vez o atrapalham mais... uma pessoa tem mais trabalho a evitar estragar o seu trabalho por causa do [mau] trabalho deles, de interferência com o nosso trabalho, do que a fazer o trabalho propriamente dito...
É claro que o melhor era ter um Platão ou um Bertrand Russel como ministro da educação mas, como isso é muitíssimo improvável, então que venha um burro. Burro, burro, perfeito na sua burrice, como o burro de Buridan.
Eu sei que isto de classificar testes e trabalhos e fichas e o diabo a nove faz parte do trabalho mas já não se aguenta e este período é interminável... testes às resmas mais um caderno inteiro com anotações de apresentações orais de trabalhos para organizar/avaliar e depois traduzir em comentários escritos devolvidos aos alunos na parte escrita dos trabalhos, mais todo o resto do trabalho de apoios, de 3 DT ou, por exemplo, ter de voltar à escola daqui a bocado para uma reunião de burocracias que podiam ser resolvidas por email. Que massacre... E quando chegar às 'férias' (ahah) da Páscoa, que são cinco dias úteis, metade é para dormir e tentar recuperar do cansaço acumulado a outra metade para preparar o 3º período.
Hoje em dia as coisas são de tal maneira que ou se tem trabalho e se está sempre com excesso de trabalho [enfim, excepto os os queridos predilectos que formam uma elite ao contrário] ou não se tem trabalho e se está desempregado. O meio termo que é ter um trabalho equilibrado é uma espécie em vias de extinção.
É claro que se fosse uma portuguesa a sério ocupava o meu tempo com copos e homens para agradar ao Dijó...
O Fado é isto...
Carlos Paredes era de Coimbra e toca-a com alma.
Não se consegue ouvir isto sem sentir saudades de qualquer coisa e não se consegue ouvir o último minuto sem suspiros e nós na garganta...
Música: Alain Oulman
Letra: Alexandre O'Neill
Uppgivenhetssyndrom, or resignation syndrome, is said to exist only in Sweden, and only among refugees. The patients seem to have lost the will to live. “They are like Snow White,” a doctor said. “They just fall away from the world.”
(este problema faz-me lembrar, entre outras coisas, um pensamento de Jung: Man is not a machine that can be remodelled for quite other purposes as occasion demands, in the hope that it will go on functioning as regularly as before but in a quite different way. He carries his whole history with him.)
by Ludwig Mies van der Rohe
Paul Kenton
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.