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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
isabelle menin
I used to bite my tongue and hold my breath
Scared to rock the boat and make a mess
So I sat quietly, agreed politely
I guess that I forgot I had a choice
I let you push me past the breaking point
I stood for nothing, so I fell for everything
(...)
O livro que levava para uma ilha perdida se só pudesse levar um
Odisseia de Homero
A história das venturas e desventuras de Ulisses na viagem de regresso a casa -Ítaca- depois da guerra de Tróia. É um livro cheio de histórias -de aventuras, histórias de amor, de amizade, de horror, etc.- que entretêem, fazem pensar e sonhar e podem ler-se vezes vezes sem conta, sem cansar. Pode abrir-se ao calhas e ler uma história como a das Sereias ou do Ciclope assim como pode ler-se de trás para a frente, quer dizer, imaginar que é uma viagem na memória de Ulisses. Enfim, é um livro tão completo e versátil que não cansa nem enjoa.
(E assim chegámos ao fim deste desafio de, 30 dias, 30 livros. Teve piada e fez-me regressar a alguns livros já meio esquecidos. Podia ter feito o desafio para 100 dias que não faltavam livros. Tinha piada que alguém pegasse nesta ideia e fizesse a sua própria lista de 30 livros porque é interessante ver os livros que são importantes para os outros e, eventualmente, lê-los.)
Roubado ao Bruno.
A Federação Portuguesa de Futebol apresenta esta quinta-feira o seu Relatório e Contas na Assembleia-Geral do organismo federativo e a reunião poderá ficar marcada pela polémica em torno dos salários dos dirigentes de topo.
Com efeito, o jornal Correio da Manhã coloca hoje em manchete os «salários milionários» da Federação, destacando o presidente Fernando Gomes, com um ordenado a rondar os 16200 euros mensais, a que se acrescem o pagamento de despesas e quilómetros para deslocações.
No entanto, também são revelados os salários dos vice-presidentes Humberto Coelho, Rui Manhoso e Carlos Coutada, todos com 9840 euros por mês, mais despesas de alimentação e deslocação, e dos diretores João Vieira Pinto, Pauleta e Pedro Dias: 8150 euros mensais (mais despesas).
Os membros da Assembleia estarão ainda indignados com a marcação da AG para quinta e não sexta-feira, o dia habitualmente escolhido para a reunião, face aos compromissos profissionais.
(…) Vede um homem desses que andam perseguidos de pleitos ou acusados de crimes, e olhai quantos os estão comendo. Come-o meirinho, come-o o carcereiro, come-o o escrivão, come-o o solicitador, come-o o advogado, come-o o inquiridor, come-o a testemunha, come-o o julgador, e ainda não está sentenciado, já está comido. São piores os homens que os corvos. O triste que foi à forca, não o comem os corvos senão depois de executado e morto; e o que anda em juízo, ainda não está executado nem sentenciado, e já está comido.
Padre Antonio Vieira em Sermão de Santo Antonio aos Peixes, pregado na cidade de São Luís do Maranhão em 1654.
Cristas trend...
O Conselho Distrital de Setúbal da Ordem dos Médicos disse esta terça-feira que as urgências dos Centros Hospitalares de Setúbal e do Barreiro/Montijo apresentam "múltiplas anomalias no funcionamento", referindo que se trata de uma situação "muito grave".
Num relatório a que a agência Lusa teve acesso, o Conselho Distrital de Setúbal da Ordem dos Médicos explica que efetuou visitas aos dois centros hospitalares durante o período noturno do seu funcionamento para avaliar o serviço.
"Ficou demonstrada a existência de uma completa sobrelotação das estruturas disponíveis para acolher os doentes, quer em ambulatório, quer sobretudo no internamento, sendo esta situação mais premente no Centro Hospitalar Barreiro/Montijo", refere o documento.
"No momento da visita constatámos a completa ausência de especialistas de diversas valências, como por exemplo Urologia, Otorrinolaringologia, Oftalmologia, Psiquiatria e Cirurgia Plástica e Reconstrutiva, o que implica a transferência de todos os doentes com patologia urgente destes foros para Lisboa", salienta.
O documento acrescenta que os doentes do foro psiquiátrico, no Centro Hospitalar de Setúbal, que entram à sexta-feira depois das 20h00 "ficam sem qualquer tratamento especializado até às 9h00 de segunda-feira".
O Conselho Distrital considera que as anomalias registadas configuram uma "situação muito grave, de que resultam consequências nefastas quer para a totalidade dos profissionais envolvidos quer para os utentes".
"Ficou demonstrada a insuficiência de recursos humanos para a constituição de equipas de trabalho minimamente suficientes, em particular na Cirurgia Geral. A sobrelotação e a permanência prolongada dos doentes em Sala de Observação põem em causa a capacidade de prestação de cuidados, quer médicos, quer de enfermagem, e violam os mais elementares direitos", frisa.
A ordem concluiu que a Reforma Organizativa dos Serviços de Urgência "parece antes ser uma desorganização estudada e planeada com base em critérios economicistas".
Já deram cabo das escolas e dos hospitais. Parece que a seguir são os tribunais.
Um livro que marcou a adolescência
Arquipélago de Gulag de Alexandre Soljenitsine
Li este livro, nesta mesma edição, quando tinha treze/catorze anos. Nessa altura éramos mais politizados do que são os miúdos, hoje. O 25 de Abril era recente, o país vivia em constante sobressalto político, estávamos a par de todas as notícias e desenvolvimentos políticos. Eu estava no Alentejo e andava obcecada, já desde algum tempo, com a questão nazi e todo aquele horror do holocausto.
Tinha lido todos os livros que havia lá em casa sobre o assunto: o 'Mein Kampf', 'Hagganah', 'Como Salvaram Um Milhão de Judeus' 'A Noite dos Facas Longas' e vários livros de relatos de sobreviventes dos campos.
Não conseguia apreender a maldade e a falsidade das pessoas. A incapacidade de verdade para consigo próprias e, também, o facto de a realidade poder ser completamente desestruturada de um dia para o outro. Num dia a vida ser a rotina expectável e, no dia a seguir, o absoluto caos e incerteza. Não percebia porque é que nunca ninguém me tinha avisado que isso era possível.
Foi neste contexto que peguei no livro do Soljenitsine que era um livro muito falado na época, pois tinha sido contrabandeado para o Ocidente às escondidas e o autor exilado. Ia à procura de respostas e queria testemunhos directos de pessoas inteligentes e lúcidas, pessoas que tivessem percebido o que se passava, no momento em que se passava e pudessem dar-nos explicações causais para certos comportamentos. Ingenuidade...
Li este livro duma ponta à outra sempre com uma sensação de angústia e mal-estar permanentes mas sem conseguir parar de ler: as injustiças, a arbitrariedade da vida nas mãos de criminosos, os métodos da NKVD, as estratégias malignas do Lenine, aqueles julgamentos populares encenados para condenar inocentes, o desorientação e sofrimento das pessoas, o calvário de um 'zek' na Lubianka, primeiro, e depois nos campos, a tortura, o heroísmo inglório de alguns, o horror das vidas à mercê de criminosos, sem direitos, sem esperança. Um pesadelo permanente. Vivi, durante muito tempo, com o Comissariado do Povo e o horror do julgamento do Zinoviev na cabeça.
Aprendi muito com este livro. Ainda hoje me uso dele como uma grelha de interpretação de pessoas, comportamentos e situações. Está lá tudo. É uma espécie de inventário de situações e comportamentos humanos. De A a Z, cobre-as todas, da melhor à pior.
UM CORPO CANSADO PELA MORTE
Sabe que a tristeza inundou um corpo cansado pela morte.
Que o sorriso desapareceu numa madrugada fria de Dezembro
e não houve Natal possível. Que a geada que cobria os campos
nesse dia, como neve caindo de um céu muito azul, gelou
o coração para sempre. Sabe que a morte cumpre a sua tarefa,
que não existem roupas negras que cheguem para a noite
que se adivinha. O corpo do homem foi fechado pela madeira
de um só tronco. Não existem mares que atravessem o odor
da infância na memória de um filho. As praias serão mantidas ao
longe, agora que o sol cai no horizonte do mar, como o tronco
que lhe guardará o corpo já caiu há meses por terra, o aguarda.
Sabe que os bichos foram mortos e a madeira está limpa.
Só no encontro com a terra poderão ressuscitar do pó, esboroar
o tronco, tragar-te o corpo. Envolvido por vermes, desaparecerás
lentamente como desapareceu o calor do coração da mãe.
Jorge Reis-Sá
Melhor biografia/autobiografia
Desert Queen, The Extraordinary Life of Gertrude Bell: Adventurer, Adviser to Kings, Ally of Lawrence od Arabia by Janet Wallach
Gertrude Bell (1868-1926) teve um papel fundamental na criação do Médio Oriente depois da primeira grande guerra. Algumas das façanhas que se atribuem ao Lawrence da Arábia, na realidade devem-se a ela. Não foi apenas uma viajante intrépide, mas inconsequente, não. A sua história está ligada à história do mundo árabe do pós-guerra.
Li este livro num ápice. Num fim de semana, ou isso, apesar de ser um livro de 400 páginas de letra pequenina. É que, não só está admiravelmente escrito, como a história da vida desta mulher poderosa de quem nunca tinha ouvido falar, é extraordinariamente cativante e, às vezes, raia o inacreditável.
Gertrude Bell é uma daquelas pessoas de quem se diz que é larger than life. Na fotografia que aparece na capa, tirada em 1921 na Conferência do Cairo, ela aparece entre Churchill e T. E. Lawrence.
Era oriunda duma família abastada de Newcastle, onde estão agora todos os seus documentos: diários de viagem, milhares de cartas e de fotografias arqueológicas e papéis pessoais. Foi uma das primeiras mulheres a graduar-se na Universidade de Oxford. Viajou pela Europa e pelo mundo e, nessas viagens, ganhou um encantamento pelo mundo árabe e pelo deserto. Aprendeu as línguas arábicas e fez, sozinha, viagens arqueológicas, atravessando os vastos desertos. Nessas aventuras, com histórias mirabolantes, travou conhecimeno e ganhou o respeito e confiança dos chefes das tribos e dos xeiques cujos territórios atravessava. Por causa disso, mais tarde, o governo britânico contratou-a como principal conselheira e intermediária nos assuntos árabes. Sendo conselheira de Lawrence, a quem fornecia informações, foi mais tarde conselheira do princípe Faisal, na construção do estado do Iraque.
É um livro extraordinário, que vale muito a pena ler. Eu gosto muito de biografias. Acho inspiradora a vida de alguns outros que foram mais longe ou viram mais longe ou foram capazes de mais que o comum das pessoas. Exemplos positivos do melhor que os seres humanos são capazes. Talvez seja infantil... uma necessidade de heróis...? ... não sei, mas gosto de saber que existiram pessoas destas no mundo. Pessoas que foram seres humanos excepcionais. Talvez isso seja um indicador de que ainda as existem e, talvez eu precise de acreditar nisso para anular o peso das outras, que são legião...
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