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Mas que declarações são estas?

por beatriz j a, em 29.02.12

 

 

 

 

Governo vai alterar Acordo Ortográfico

Francisco José Viegas afirmou ontem que o Governo se prepara para alterar o Acordo Ortográfico até 2015 e que cada português é livre para escrever como entender.

Manifestando o seu desacordo com algumas normas, Francisco José Viegas lembrou que "do ponto de vista teórico, a ortografia é uma coisa artificial. Portanto, podemos mudá-la.

Cada um pode escrever como entender? Literalmente? E a ortografia é uma coisa artificial? Tipo uma mera convenção? Então e a história da Língua? Não existe? Mas que cena incrível!

publicado às 20:16


Um ano na vida desta professora - 56

por beatriz j a, em 29.02.12

 

 

 

 

Absolutamente extenuada. E ainda vamos a meio do dia de trabalho...

 

Detesto quando as cenazinhas da adolescência afastam os alunos das aulas. Uma disse não sei quê da outra, deixam de se falar, a 'outra' vai contar a outras, a 'uma' fica isolada... começa a faltar às aulas... opá, é preciso muita paciência...

 

publicado às 14:42


Chet Baker - There Will Never Be Another You

por beatriz j a, em 29.02.12

 

 

 

 

 

publicado às 04:35


Pequeníssimo diálogo carnavalesco

por beatriz j a, em 28.02.12

 

 

 

 

 

J.S - Estou? Desculpe ligar a esta hora pá, mas os canalhas não me largam.

 

L.A. - Ora essa, ligue sempre. O que posso fazer por si?

 

J.S. - É por causa daquele assunto que já falei com o o Toni. A carreira.

 

L.A. - O Toni Carreira? Não percebo. Vosselência também canta?

 

J.S. - Não! [porra que só me saem duques!] A minha carreira académica!

 

L.A. - Ahhh! Muito bem. Mas se me dá licença, já agora, vosselência podia não falar na sua carreira académica quando fala com os jornalistas.

 

J.S. - Ora essa! Então e porquê? Não me diga que não me vai facilitar aí a papelada. Olhe que eu sou amigo do meu amigo.

 

L.A. - Não é isso. É que carreira académica só tem quem seguiu a profissão de professor.

 

J.S. - Ó messa! Tem a certeza? Então como é que se chama ter um curso?

 

L.A. - Licenciatura.

 

J.S. - Ah pois é, eu sabia. Mas diga lá, que curso é que eu fiz, que já não me lembro.

 

L.A. - Engenharia de betão de marquises de prédios rústicos abandonados.

 

J.S. - Ai foi? Epá, isso parece uma coisa importante, com um nome desses... mas arranja-se aí papelada a dizer que fiz as cadeiras, não?

 

L.A. - Concerteza. Até já tomei a iniciativa de contratar uns camaradas amigos para dizerem que o viram. Um viu-o na casa de banho, o outro na secretaria ao pé do cofre.

 

J.S. - [...isso foi mesmo, ehehe] Porreiro, pá! Adoro-o, adoro-o! Mas olhe lá, podia pôr na lista das cadeiras uma assim importante com uma grande nota?

 

L.A. - Ora essa, não custa quase nada. O Toni passou este fim de semana a fazer o diploma. Está lindo, que ele tinha muito jeito para trabalhos manuais na escola. Pôs-lhe um dezassete na cadeira de resistência de materiais.

 

J. S. - Olhe pá, nisso até podia ter vinte... E o trabalho de curso? Um réptil qualquer anda a chatear-me com isso. Como é que se faz isso?

 

L.A. - Não se preocupe que arranjamos aí um projecto de marquise e é só meter-lhe o carimbo. Não se preocupe com nada que sei que anda apoquentado com esses répteis e chacais que não o largam.

 

J.S. - Ah, essa canalha! Como-lhes as papas na cabeça. Só me chateia é que estou a ficar feio com estas apoquentações. Mas então está combinado. Não esqueço este favor.

 

L.A. - Estamos cá para isso, que estudos nunca foram o meu forte, de qualquer maneira. Eu é mais metal...amarelo, de preferência. Vosselência não irá de vez em quando à casa da moeda lá ao sítio das barrinhas? Agora é o que está a dar.

 

J.S. - Eh, eh, ó tempo que isso está feito homem... e guardadinho onde ninguém lhe chega. Não se preocupe que havemos de sair bem disto. E sem carreira! eheh.

 

publicado às 22:05


Pérolas

por beatriz j a, em 28.02.12

 

 

 

 

 

Pam Hawkes

 

publicado às 20:56


Something in the way she looks

por beatriz j a, em 28.02.12

 

 

 

 

 

Danny McBride 

 

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publicado às 20:29


ouvido...

por beatriz j a, em 28.02.12

 

 

 

 

People enter into our life for a reason, a season or a lifetime...

 

 

publicado às 14:11

 

 

 

 

Um aluno que parecia ter voltado cheio de motivação às aulas depois de (parecer) ter desistido voltou a desisitir. Por vezes nada resulta apesar de se fazer tudo e mais alguma coisa com a maior das disponobilidades e boa vontade. Mas fica-se com um sabor mesmo amargo.

 

publicado às 13:53


Óscares

por beatriz j a, em 28.02.12

 

 

 

 

 

 

Estive a ver aquele compacto dos Óscares.

 

Coisas que gostei:

 

{#emotions_dlg.ok}

* O Billy Cristal. Tem imensa piada :)

* O discurso da Meryl Streep, sobre a amizade e o amor.

* O francês Dujardin que ganhou o Óscar.

* O Christopher Plummer.

* O vestido da Michelle Williams (aliás, também o pentedo, as jóias e tudo).

* O Tom Cruise ... está cada vez mais giro :)

 

Coisas que não gostei:

 

{#emotions_dlg.no}

* O vestido da Meryl Streep...

* A maneira como o George Clooney trazia a namorada, como se fosse uma mala Vouiton que exibia (não gosto dele).

* A Angelina Jolie... céus, quando fala vê-se a caveira... e aqueles bracinhos completamente esqueléticos. Mas as pessoas todas parecem gostar...

* A Sandra Bullock...

* Da escolha de vestido da Jessica Chastein: apropriado para subir a um trono. Usado numa cerimónia destas sai diminuído e desvalorizado.

 

 

Coisas que não percebi: o que é que aconteceu ao Nick Nolte?

 

publicado às 13:00


Teo-cracias, demo-cracias, tecno-cracias

por beatriz j a, em 28.02.12

 

 

 

 

Krugman: Portugal tem '75% de possibilidade de ficar no euro'

 

 

A Grécia deve sair.

 

Nesse âmbito, o economista revelou ter «um grau de certeza bastante elevado de que a Grécia vai sair do euro», mantendo dúvidas em relação a Portugal, ao explicar que «tudo dependerá do que vai acontecer nos próximos 2 a 3 anos». «Está tudo no domínio das probabilidades, ninguém sabe ao certo», acautelou.

 

Em consonância com o que já tinha defendido anteriormente, Paul Krugman sugeriu ainda que Portugal «resistisse a mais medidas de austeridade, pois tem feito tudo o que lhe é pedido». Porém, argumentou que «os salários deviam baixar relativamente à Alemanha», de modo a que o país «ganhasse alguma competitividade». Ou, como brincou depois, «era mais simpático que os salários descessem na Alemanha».

 

Economistas e tecnocratas, esses gurús que os políticos ouvem e seguem religiosamente tornaram as democracias não-democráticas e inhumanas. Falam como se as suas opiniões fossem inevitáveis por se apoiarem em princípios matemáticos, em probabilidades matemáticas. Como se as medidas que se tomam a partir de princípios objetivos não afetassem objetivamente os sujeitos, pessoas humanas.

Um corte de x% aqui ou ali são x% de famílias, pessoas concentras com vidas subjectivas atiradas para a pobreza concreta e objectiva.

A marginalização e ostracização de certas disciplinas/cursos das Humanidades teve como consequência a submissão da política à técnica.

Não é muito diferente da Idade Média, excepto que estes técnicos vestem-se de fato e gravata e os outros vestiam sotaina mas, ambos vêm com o livro da verdade ditar as regras, doa a quem doer. Só se safa quem tiver dinheiro ou bens para comprar indulgências...

 

publicado às 08:37


É um cão!

por beatriz j a, em 28.02.12

 

 

 

 

 

Um cão pastor húngaro :)

 

 

tim flach

 

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publicado às 07:33


Isto é...?

por beatriz j a, em 27.02.12

 

 

 

 

 

 

publicado às 22:02


Isto é o que se chama...

por beatriz j a, em 27.02.12

 

 

 

 

... dar instrumentos a tarados e stalkers, alimentar o gosto pela devassa e até transformar indivíduos normais em anormais acelerados.

 

 

Uma empresa portuguesa lançou uma aplicação para dispositivos Android que permite ver a roupa interior de uma pessoa através de uma fotografia

 

Desenvolvida pela Closer, a aplicação móvel UndressCode é definida por esta empresa portuguesa como tendo «uma forte componente lúdica» e cujo objectivo é «possibilitar aos seus utilizadores momentos de verdadeiro lazer ao permitir tirar fotografias às pessoas que se encontrem à sua volta».


De acordo com a empresa, a aplicação baseia-se numa «avançada tecnologia de scanning» que permite ver como é a pessoa fotografada debaixo da roupa, em nove versões: desde nu integral a roupa interior, tatuagem ou raio-x.

 

 

publicado às 20:54


Um ano na vida desta professora - 54

por beatriz j a, em 27.02.12

 

 

 

 

Agora que temos salas equipadas ando a aproveitar o investimento. Há muito material na internet para ser usado na Psicologia. As experiências originais de alguns dos grandes teóricos estão no youtube e em alguns sites especializados.No passado raramente as mostrava na aula e limitava-me a indicar os sites onde podiam vê-las porque mostrá-las implicava carregar com o portátil, o projector, a tela... muito esforço para passar uns vídeos.

No entanto, agora que é só ligar o PC e o projector uso isso sempre que há material que ilustra o que estamos a falar. Então hoje, como estávamos a falar das experiências da Mary Ainsworth e do Harlow sobre a vinculação e o afecto nas relações precoces abri o youtube e estivémos a ver experiências sobre os vários tipos de vinculação e a experiência de Harlow com os macacos bebés.

Como nessa página está a experiência do Watson com o Albert e o rato os alunos pediram-me para a ver. Estranhei que estivesse sem som, nomeadamente o barulho violento que condiciona o bebé. Só depois percebi. Todas estas experiências originais (a do Harlow também) estão cheias de comentários do tipo, 'bandidos, torturadores de animais, era bem feito que vos fizessem o mesmo' e tal... é por isso que a experiência do Albert está sem o som, que é justamente o estímulo condicionado: é porque é brutal demais! Assim como assim os comentários a essa experiência já são violentos mesmo sem o som que aterroriza o bebé...

De facto os tempos mudaram... para melhor. Certas coisas que se faziam sem perturbação agora são altamente criticáveis.

 

publicado às 20:35


Do livro do Desassossego

por beatriz j a, em 27.02.12

 

 

 

 

 

 

15.

      Conquistei, palmo a pequeno palmo, o terreno interior que nascera meu. Reclamei, espaço a pequeno espaço, o pântano em que me quedara nulo. Pari meu ser infinito, mas tirei-me a ferros de mim mesmo.

 

 

20.

      Várias vezes, no decurso da minha vida opressa por circunstâncias, me tem sucedido, quando quero libertar-me de qualquer grupo delas, ver-me subitamente cercado por outras da mesma ordem, como se houvesse definidamente uma inimizade contra mim na teia incerta das coisas. Arranco do pescoço uma mão que me sufoca. Vejo que na mão, com que a essa arranquei, me veio preso um laço que me caiu no pescoço com o gesto de libertação. Afasto, com cuidado, o laço, e é com as próprias mãos que me quase estrangulo.

 

68.

     O cansaço de todas as ilusões e de tudo que há nas ilusões — a perda delas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim.
     A consciência da inconsciência da vida é o maior martírio imposto à inteligência. Há inteligências inconscientes — brilhos do espírito, correntes do entendimento, mistérios e filosofias que têm o mesmo automatismo que os reflexos corpóreos, que a gestão que o fígado e os rins fazem de suas secreções.

 

publicado às 19:43


Plural como o Universo

por beatriz j a, em 27.02.12

 

 

 

 

Exposição sobre Pessoa na Fundação Calouste Gulbenkian

 

Plural como o Universo. Assim se chama a exposição do Fernando Pessoa que está na Gulbenkian. A exposição é excelente para estudantes. É interativa, é variada, muito cativante. Para os miúdos que estão habituados a ter que dissecar a Chuva Oblíqua e outros poemas sem antes se terem deixado cativar por eles a exposição é particularmente adequada. Vamos descobrindo o Pessoa plural, lendo poemas ou excertos de textos muito bem escolhidos. De início têm uma espécie de cúbiculos onde se projetam na parede digital alguns poemas dele que se accionam com o nosso movimento. De cada vez que queremos passar para outro poema passamos a mão em fente da parede. O poema que lá está começa a desconstruir-se, as letras a misturarem-se e reorganizarem-se até aparecer o novo poema. Achei isto deliciosamente pessoano, esta desconstrução e construção permanentes.

fui lá dar com umas frases que já não lia há muito tempo e que gosto muito...

 

Claro que também interessa a outras pessoas mas o que quero dizer é que é uma boa exposição para se 'descobrir' o Pessoa, porque fica-se com vontade de explorar e ler mais.

Depois, tem outros interesses, como objetos pessoais. Está lá o primeiro apontamento por ele escrito e o último poema que escreveu, pela sua mão.

Tem uma 'timeline' na parede onde ficamos a saber que em 1932, quando o Pessoa é já um vulto importante no panorama literário e cultural nacional, candidatou-se a curador da Biblioteca de Cascais para ter alguma segurança monetária e... foi recusado!! Não o quiseram. Dispensaram-no. LOL Não lhe reconheceram valor para estar na Biblioteca? Opá... socazinhos em lugares de mando não são de agora...

De tudo, a única coisa que não gostei foi o facto de terem a arca com a tampa fechada. Gostava de ver o interior da arca e até podiam ter lá posto uns papéis, sei lá...

 

Tirei uma fotografia com o telemóvel a um arranjo com a mesa, o chapéu, o Orfeu e a chávena do quadro do Almada, que também lá está.

 

 

publicado às 19:00


Extreme

por beatriz j a, em 27.02.12

 

 

 

 

Photograph by Ray Collins

Photo: Surfer Mark Mathews enclosed in a wave in Western Austraila, 2011.

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publicado às 18:10


Natureza morta

por beatriz j a, em 27.02.12

 

 

 

 

Carolyn Enz Hack 

 

publicado às 15:19


Coisas óptimas

por beatriz j a, em 26.02.12

 

 

 

 

 

O concerto de hoje da Natacha Atlas. Músicos excepcionais, criam um som que vai do jazz ao oriental sensual. Ela, a Natacha Atlas, uma mulher petite, muito bonita com uns olhos mesmo egípcios, tem um timbre de voz lindo; às vezes nostálgico, às vezes sensual quando arrasta a voz naquelas ondulações prolongadas, às vezes etérea. Uma técnica muito boa, tem um grande domínio da voz.

Ao princípio estava um bocado fria, mas depois a assistência animou-se -que aquilo não é música que se consiga ouvir formalmente sentado, sem se começar a mexer qualquer coisa- começou a acompanhar as músicas com palmas e entusiasmou-a a ela, que os músicos estiveram sempre entusiasmados uns com os outros. Acabaram por cantar mais duas músicas que não estavam no programa e ela, que foi uma dançarina de ventre quando era nova, até deu um dar de graça a dançar... :) Foi bom.

 

 

 

publicado às 22:38

 

 

 

 

 

 

 

Isto vem a propósito dum pedaço de conversa ouvida hoje em que alguém disse a outra pessoa que está a pensar deixar de fumar mas não sabia se era capaz e a outra responde, 'Isso custa nos primeiros dias mas depois passa e até te esqueces que fumavas'...

 

Deixar de fumar foi das coisas mais difíceis que fiz até hoje. Se alguém disser que é fácil é porque, embora fume cigarros não é um fumador, quer dizer um viciado, ou dependente, para ser menos agressiva -fuma meia dúzia de cigarros por dia e às vezes até passa sem eles.

 

Eu deixei de fumar em Abril de 2004, quase há oito anos e, ainda tenho vontade de fumar. Mais incrível ainda, é o facto de, de vez em quando, ainda ter os tiques de fumar, como ir com a mão ao bolso à procura do maço de cigarros ou pegar no giz com o indicador e o médio como se estivesse a fumar. Quando pessoas à minha volta fumam, o prazer de inalar o fumo dá-me imensa vontade fumar.

Então, porque é que eu não voltei a fumar... digamos, uma meia dúzia de cigarros por dia...? Bem, porque sou viciada e se voltar a fumar um cigarro que seja, não vou parar até fumar como fumava. E, entre outras coisas, acho que não seria capaz de deixar outra vez de fumar, porque foi tão, tão difícil e doloroso que só de lembrar assusta.

Quem não fuma ou fuma meia dúzia de cigarros aqui e ali, não compreende como é difícil e, dizer a alguém que vai ser fácil é o primeiro passo para a pessoa não conseguir.

 

Eu fumava muito. Gastava quatro maços de cigarros por dia. É certo que muitos, se calhar a maioria, deixava-os a meio, ou porque não tinha tempo, como nos intervalos das aulas, em que fumava três meios cigarros ou porque me esquecia deles nos cinzeiros e às vezes tinha três ou quatro cigarros a arder ao mesmo tempo em cinzeiros espalhados pela casa. Mas são muitos cigarros, até porque alguns fumava-os até ao tutano. Assim que acordava fumava um cigarro, mesmo antes de comer ou então ao mesmo tempo...

 

Deixei de fumar à bruta porque me mentalizei que a única maneira de deixar era desse modo. De vez em quando experimentava a ideia de não fumar e imaginava-me a não fumar mas, de cada vez sentia que não estava preparada ainda.

Isto durou aí uns dois anos (em que já respirava mal e estava sempre a tossir, entre outras coisas como ter os dedos amarelos e ter de ir ao dentista mês sim mês não para não ter os dentes amarelos...) até que um dia, depois do almoço e de ter fumado um cigarro vi um programa com o testemunho de uma pessoa que tinha deixado de fumar por ter tido um AVC que a deixou durante um ano sem a capacidade de ler e escrever. Nessa altura, não sei bem porquê, a ideia de poder ficar naquele estado de não ser capaz de ler e de escrever foi mais assustadora que a ideia de deixar de fumar e tive a certeza absoluta que, se saísse de casa naquele momento e deixasse os cigarros para trás e aguentasse esse dia sem fumar que seria capaz de nunca mais fumar. Em parte foi o testemunho dessa mulher que nesse dia me tocou de um modo que funcionou.

Assim fiz. Saí de casa sem os cigarros e andei o dia todo fora de casa sem fumar. Estava tão motivada que passei esse dia e o seguinte sem problemas de modo que, ingenuamente, pensei que afinal era mais fácil de fumar do que pensava... Agora acho que o corpo estava com tanta nicotina acumulada que durante algum tempo o cérebro abasteceu-se dessas reservas...

Durante uma semana não disse a ninguém porque não queria correr o risco de anunciar um fiasco... depois quando disse as pessoas encorajavam-me -os alunos foram especialemtne amorosos- mas sem perceber bem a violência que se passava dentro do meu corpo.

 

Sintomas:

Deixei de dormir. Durante quatro dias não dormi a não ser uma hora aqui, outra ali e, praticamente não me sentei. Andava dum lado para o outro sem conseguir sentar-me.

Nos primeiros dois dias tive fortes arritmias cardíacas. De repente parecia que tinha feito um sprint violento e o coração desatava a bater desenfreadamente.

Ao fim de uma semana comecei a sentir a cabeça enebriada e ria constantemente. Calculo que o cérebro não estivesse habituado a funcionar com tanto oxigénio... os alunos riam-se...

Durante um mês o meu humor oscilava entre o rir parvamente e o ficar num estado de stress tão grande que ficava agressiva e arranjava discussões com toda a gente. Resistia a fumar dizendo para mim mesma que ía aguentar mais uma hora e depois logo se via. Fazia esta luta de hora a hora.

Continuava a não dormir. Falei com um médico que me ia dando medicamentos para dormir para ver se algum resultava. Nada. Valiuns, Lexotans e o diabo... nada me fazia dormir. Passava as noites -esse ano foi muito quente- na varanda a beber chá frio porque entretanto resolvi fazer dieta pois sabia que as pessoas que deixam de fumar ganham em média 10 quilos com os subsitutos -bolachas, rebuçados, bolos, etc.

Lá para Junho, a juntar a isto tudo apanhei um depressãozinha: chorava três vezes por dia. Ao almoço, a meio da tarde e à noite.

De vez em quando o nível de stress era tão violento que saía de casa e andava sem destino durante duas ou três horas. Só então era capaz de me sentar e acalmar.

Tudo o que em casa estava ainda impregnado de tabaco, como cortinas e almofadas, eu cheirava. O meu filho sofreu um bocado porque descarregava muito deste stress para cima dele.

Só ao fim de seis meses comecei a estabilizar. O humor estabilizou, deixei de necessitar de ficar exausta para não explodir a energia contida.

 

Mas, nunca mais dormi, até hoje. Durmo uma hora e meia ou duas e depois acordo. Encontrei uns comprimidos que me fazem dormir oitos horas. Se não os tomo, como acontece quando tenho aulas às oito da manhã e tenho medo de não eles me fazerem dormir demais, acordo lá para as quatro ou cinco da manhã. Para uma pessoa que tinha um sono de chumbo, isto custa muito.

Não perdi a vontade de fumar. De cada vez que alguém cheira a tabaco ou fuma ao pé de mim, o cérebro diz YES, pára e concentra-se no acto de apreciar o momento.

Tenho cigarros em casa, por uma questão de... não sei, mas sei que se não tiver é perigoso.

Se estou num bar a beber uns copos e há fumo no ar a vontade de fumar é muito grande.

O mais difícil de resistir são algumas cigarrilhas e charutos que eu adorava. Todas as vezes que entro numa tabacaria para comprar qualquer coisa e vejo cigarrilhas e charutos tenho que fazer um enorme esforço para resistir. Ainda não tirei da cabeça a ideia de voltar a fumar um cubano ou uma cigarrilha...

É uma luta diária. Melhora com o tempo, sim, mas não desaparece.

 

Se alguém tem um amigo que é viciado e quer deixar de fumar não lhe diga que é fácil... porque não é. É extremamente difícil. É preciso uma grande força de vontade e compreensão das pessoas à volta.

Diga-lhe para ir a um médico (era o que eu devia ter feito). Primeiro faz um teste para saber do grau de dependência, depois pede ajuda para não ter riscos de atques cardíacos, depressões, níveis de stress incomportáveis e problemas de fazer figurinhas parvas a rir idiotamente ou de inventar discussões com a família e amigos como modo de compensar a frustração. E depois prepare-se para uma luta por muitos anos ou, quem sabe, toda a vida.

 

publicado às 14:57

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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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