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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
"O poder deixa-nos tal como somos e apenas engrandece os grandes." (Balzac)
O senhor Crato, na minha modesta opinião, atraiçoou os professores, pois foi para o poder como crítico das políticas que agora advoga, com o ridículo argumento de que' Senhor eu era cego e agora vejo' e atraiçoou-se a si próprio.
Se o cargo é demais para ele, pois vá-se embora; se não sabe o que fazer porque os problemas são enormes, pois vá-se embora. Mas não fique a fazer o papel de catarpiller da educação.
Uma colega que tem um familiar próximo muito bem colocado no ME de tal modo que costuma saber as coisas antes de virem a público disse-me que esse familiar lhe disse que o objectivo é para cortar o máximo de disciplinas possível e voltar a pôr TODOS os professores com 22 horas letivas.
Some things have to be believed to be seen
Ralph Hodgson on ESP
What if nothing exists and we're all in somebody's dream? Or what's worse, what if only that fat guy in the third row exists?
Woody Allen, "Without Feathers"
As turmas com 28 e 29 alunos, deviam tê-las os estarolas que as decretam. Esquecem-se que são adolescentes e não adultos e que estão em processo constante de acomodação sendo que nem sempre estão no nível de desenvolvimento cognitivo necessário para assimilar com facilidade certos conhecimentos.
Na turma do 11º ano há dois alunos que nesta altura do campeonato em que já andamos a avaliar silogismos categóricos ainda confundem a lógica formal e a lógica material. Nitidamente falta-lhes o esquema mental apropriado para assimilar a informação. Um deles faltou na aula em que expliquei as regras dos silogismos porque foi ao Dia da Defesa de modo que ainda estava mais à nora.
Então, na aula passada dei-lhes uma ficha com quase trinta silogismos (a quantidade de papel e tinta que já gastei com os exercícios de Lógica para aquela turma não tem explicação...) que hoje corrigimos, em voz alta, tendo, cada um, que detetar e explicar, aplicando as regras lógicas ali infringidas. Fazemos isto caso a caso para que a mecânica da avaliação lógica silogística seja interiorizada.
Enquanto estávamos a fazer isto eu ia olhando para a cara desses dois e via, na expressão deles, que aquilo não estava a carburar. Faziam umas caretas e de vez em quando saía uma palermice do género, 'Mas como é que a professora diz que está correto um silogismo que conclui que os cavalos saltam em L? Isso não faz sentido nenhum porque os cavalos não saltam assim...' Interrompi a aula para voltar a explicar-lhes que podemos estar a analisar a estrutura dum raciocínio independentemente da verdade ou falsidade do que estamos a dizer. Dei um exemplo. Perceberam. Voltámos à ficha. Passados cinco minutos diz um deles, 'Lá estamos outra vez na mesma! Como é que pode ser verdade concluir que os dias não têm horas? Claro que têm horas' ...LOL
Os miúdos não são burros. Acontece que ainda têm dificuldade em abstrair o modelo lógico do caso concreto que enforma. Só que numa turma de 29 alunos não tenho muito tempo para esperar que eles se desenvolvam cognitivamente. Se a turma tivesse aí uns vinte alunos dava para ir mais devagar, para fazer mais exercícios para puxar por eles... assim, com tantos lá dentro e tendo eu que estar sempre no controlo da totalidade da turma porque se me concentro a explicar coisas que os outros já sabem, a dois ou três, o resto da turma desata a falar como se estivesse no café. Quando isto se passa no terceiro bloco de aulas, então, já não tenho disposição mental para a coisa.
Quem não dá aulas não sabe que em cada hora e meia uma pessoa tem um certo número de ideias ou conceitos ou temas ou o que for para dar: ou seja, é necessário que todos e cada um dos alunos, independentemente das suas dificuldades, nível de conhecimentos e de desenvolvimento de inteligência, problemas que traz de casa, temperamento pessoal, etc., assimile, compreenda e aprenda a aplicar essas matérias. Para isso acontecer temos que explicar as coisas de vários modos porque nem todos entendem da mesma maneira, ao mesmo tempo que respondemos às mil perguntas que fazem em cada aula, reparamos se alguém está mal, se alguém está a ficar para trás, se alguém resolveu mandar SMS, enfim, ao mesmo tempo que controlamos o ambiente na sala - o que às vezes é difícil porque por vezes a turma tem grupos, os grupos não se dão uns com os outros, ou há alunos agressivos que desafiam qualquer autoridade. Enfim turmas enormes são um impedimetno a um trabalho de excelência.
Outro dia vinha aí num jornal os 'segredos' da escolas de topo para terem bons resultados. 'Segredos' LOL... então fui ler e eram o quê? Turmas com 12 alunos, professores disciplinadores, apoios às paletes para todos os que estão a ficar para trás, condições excelentes que até incluem piscina, pais que ajudam em casa... LOL, assim é fácil.
Hoje combinei com aqueles dois alunos dar-lhes uma hora de apoio na quinta feira para lhes explicar as coisas. Mas fi-lo contra o meu melhor juízo porque ninguém me paga para isto. Antes pelo contrário. Ainda me tiram salário. E subsídios. E se for preciso ainda tenho que ouvir na TV que sou uma ´professorazeca' ou um 'esparguete' e outras ofensas do género.
Hope is the thing with feathers
That perches in the soul,
And sings the tune without the words,
And never stops at all,
And sweetest in the gale is heard;
And sore must be the storm
That could abash the little bird
That kept so many warm.
I've heard it in the chillest land,
And on the strangest sea;
Yet, never, in extremity,
It asked a crumb of me.
Emily Dickinson
Governo: Secretário de Estado pede saída de “zona de conforto”
"Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras". Foi este o conselho dado pelo secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Alexandre Miguel Mestre, aos jovens desempregados portugueses.
Para Miguel Mestre, se o jovem optar por permanecer no país que escolheu para emigrar poderá "dignificar o nome de Portugal e levar ‘know how' do que Portugal sabe fazer bem". E caso a opção seja voltar, o emigrante, defendeu, poderá "replicar o que viu"
Vão-se embora do país que não há lugar para vocês aqui... sim senhor, grande secretário da juventude!
Quando voltávamos para Setúbal, eu e a Cecília, vimos uma estrela cadente, o que é raro, tão perto de cidades com tanta luz. Como é costume pedir um desejo, pedi-o e, como vinhamos a dizer mal do Sócrates e quejandos o meu desejo foi, 'Durante um ano inteiro não ouvir falar desse energúmeno'. Boing! Hoje de manha, abro o jornal na 'net' e a primeira notícia que vejo é sobre o Sócrates ter ligado aos amigos a pedir que chumbem o OE... that's just my luck...
Tem que ouvir-se alto.
A música afeta o cérebro duma maneira profunda que só agora se começa a perceber, desde que existem maneiras de se 'espreitar' para a atividade elétrica e química do cérebro. Já Platão e Aristóteles lhe atribuíam grande poder. Platão pensava que a música proporcionava uma entrada direta na alma da pessoa ativando e influenciando a disposição emocional e moral. É exatamente o que se pensa hoje: a música tem um enorme poder de modulação mental e emocional de modo que pode ser terapêutica. Fala-se muito do 'Efeito Mozart'.
Houve uma altura em que sabia esta ópera de cor. Agora ouço-a menos. Infelizmente, não sei porquê, a partir de certa altura esta ópera começou a ter um efeito emocional negativo, sobretudo em certas partes...mas gosto tanto dela que não resisto lol
monet
van gogh
Fui à Gulbenkian ver a parte II da exposição das Naturezas Mortas (havia fila para entrar). Esta segunda parte tem os impressionistas, os cubistas, surrealistas e contemporâneos. Tem fotografia (gostei imenso da de Charles Aubry) e escultura.
Gostei de muita coisa - do Rosseau, do Fantin-Latour, do Manet, do Dali, do Mário Eloy...- e de alguma outra não gostei. Eu gosto de ver o olhar do artista sobre a realidade mas há artistas que pintam, não o seu olhar sobre a realidade, mas o seu olhar sobre a sua própria mente numa determinada realidade. E isso não me interessa muito.
De tudo o que vi, duas telas me impressionaram enormemente. São essas duas aí em cima. Estas imagens estão a milhões de anos-luz dos originais. É preciso estar diante das telas para sermos atingidos pelo seu esplendor.
São ambas de uma exuberância magnífica mas muito diferentes pois a primeira é uma bofetada de cores quentes, os girassóis duma sensualidade quase carnal, enquanto a segunda é uma espécie de 'hino à alegria'. Sob um fundo de céu dum azul mediterrânico puro, o verde luxuriante (que nesta imagem não se percebe) das folhas enceradas do castanheiro todo em flor, com os cachos de flores brancas ondulantes é uma bofetada de primavera, de alegria exuberante que nos deixa uma impressão de hino à vida, de beleza absoluta. Um sorriso nos lábios que ainda não passou :)
Trocava o resto dos meus subsídios de férias e de Natal até ao fim da vida por estas duas telas...
Noto uma tendência evolutiva nos alunos. Ao contrário do que ouço não os encontro mais mal educados ou indisciplinados. É verdade que os indisciplinados são mais violentos, mas não são em maior número. O que eu noto é que são mais ignorantes das coisas da vida. Quer dizer, no que respeita a conhecimentos são muito menos ignorantes. Dantes, quando falávamos de assuntos de astronomia ou história, era tudo uma surpresa, onde hoje já não é porque, penso, veem documentários, filmes, vídeos na net e programas na TV. Em contrapartida são muito mais ignorantes das coisas da vida.
A causa disto prende-se, penso, com o facto de toda a vida das crianças e adolescentes estar marcada, desde que nascem, pelo entretenimento e ilusão: dos programas de TV à PSP, dos filmes aos jogos para PC, tudo o que lhes é dirigido explora o prazer e o entertenimento, até na escola o ensino se faz com joguinhos e prémios e cenas dessas de tal modo que vivem alheados das condições reais de vida e não sabem nada sobre a vida, as dificuldades da vida, as exigências do mundo do trabalho ou até do estudo.
Outro dia um aluno perguntou-me se eu tinha estudado quatro anos...? Nem percebi a pergunta. Então ele achava que todos os alunos tinham estudado mais anos que os profesores porque o avô lhe disse que até há quinze anos só se estudava quatro anos... ou seja, o avô deve ter dito que só era obrigatório estudar quatro anos e ele assumiu que todos só estudavam isso. Fiquei parva e disse-lhe, 'ó seu palerma, então acha que eu estudava até à quarta classe e depois vinha para aqui dar aulas de Filosofia?' Resposta dele, 'Sei lá, podia gostar muito de Filosofia e querer ensinar'... quer dizer, o rapaz não tem a mínima noção de nada. No entanto, os pais têm o 11º ano e o 12º ano e a irmã mais velha, que foi minha aluna, anda na faculdade. Mas o miúdo vive nos jogos de PC, no mundo da PSP e dos 'reality-shows' da Tv e vive divorciado do mundo real.
Cada vez mais tenho alunos a fazer comentários deste género e esta é a tendência que noto nos adolescentes: cada vez mais distanciados ou alienados da vida real.
A Virgem Maria podia não ser virgem? Poder, podia, mas não era a mesma coisa.
Costumava pensar que era importante falar: blogs grandes ou blogs pequenos, todas as vozes eram vozes e cada uma contribuia, de uma maneira ou de outra para a mudança das coisas, por muito lenta que fosse. Agora vejo que não é assim.
Quem influencia o rumo das coisas são os políticos e os grupos organizados capazes de exercer pressão.
Na educação, este indivíduo desprezível, que há dezenas de anos ocupa 'democraticamente' o mesmo cargo, não sabe o que é um dia de trabalho na escola pois caso contrário não viria apelar que se lute 'a sério': enquanto ele assinava acordos e memorandos com a Lurdes Rodrigues e a Alçada nós estávamos, a sério, a lutar contra a entrega de objectivos, contra o concurso de titulares, contra as pressões do ME. No entanto, é ele e o grupo dele, que já pouco ou nada sabem do que é o trabalho nas escolas que influenciam as políticas educativas, para mal dos nossos pecados.
Mesmo os blogs como o do Paulo Guinote, que tem milhares de visitantes por dia, pouca influência têm na mudança das coisas. Isto acontece porque os blogs são vozes isoladas. Ilhas que podem influenciar-se umas às outras mas não influenciam políticas: protesta-se, fala-se mas não há organização. Há quem tenha blogs muito sérios onde fazem grandes tiradas sobre os assuntos da educação mas que nada mudam.
Os blogs servem mais, no geral, para pensar alto e comunicar entre pares que para mudar alguma coisa, por muito que alguns se iludam a pensar que sim.
A única maneira de haver mudanças na educação será as pessoas que se preocupam com a educação organizarem-se em grupos(s), crescerem e exercerem pressão sobre o poder. Aí sim, poder-se-ia apresentar alternativas às políticas governamentais e influenciar as mudanças.
Até que as pessoas se consciencializem que a organização em grupos de pressão são o único modo de fazer mudanças andaremos à mercê de ignorantes sem escrúpulos que parasitam os professores em manifestações e greves que só a eles servem. O que muito agrada aos governos e nos deixa reféns das asneiras alheias.
Richard Strauss compôs esta música a partir dum poema de John Mackay. É um dos quarto Lieder Opus 27 que Strauss compôs para oferecer de presente de casamento à sua mulher Pauline. É o mais bonito dos quatro e esta versão, cantada pela Elisabeth Schwarzkopf, é a mais bonita de todas.
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