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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Li hoje no jornal Sol que o nosso querido Fernando Pessoa ( que gostava duma página bem escrita e usava, convictamente, as consoantes mudas ) foi eleito uma das personalidades mais influentes da cultura europeia. O inquérito, de âmbito universitário, europeu, durou nove meses e elegeu-o ao lado de nomes como Leonardo da Vinci, Shakespeare, Mozart, Einstein, Sócrates (o filósofo! entenda-se), Goethe, Galileu Galilei, Erasmo de Roterdão e Dostoievski.
O presidente do Bureau Internacional de Capitais Culturais disse que ‘a Cultura é a essência que une os europeus e que uma Europa forte e sólida dependem do seu legado cultural.’
POR FAVOR, ALGUÉM PODE DAR ESTA INFORMAÇÃO AOS NOSSOS GOVERNANTES?
Em particular àqueles que ocupam lugares em postos de educação e cultura?
É que eles não sabem disto e pensam que um Fernando Pessoa se faz como quem faz um engenheiro.
Pensam que desincentivar e até fechar os cursos das Humanidades não afecta a cultura do povo.
Que ter os museus fechados e as colecções guardadas não tem influência na riqueza (mesmo a material) de um povo.
Que afastar o povo do contacto com os vultos da cultura, como se faz agora nas escolas, com os novos programas do Grande Paradigma das TELEBS não faz grande diferença ( do que precisamos mesmo é de electricistas e operadores de máquinas, e esses podem ser ignorantes, que até dá jeito – domesticam-se melhor, não é verdade? )
Não percebem que a identidade e a solidez dos povos não se constroem com grelhas do Excel – são filhas da cultura que eles criam.
E que a cultura não se cria no vácuo, antes precisa de alimento, precisa de contexto.
Que morre em ambientes mesquinhos, fechados, onde não há liberdade, onde não há autonomia e discussão, onde as pessoas estão domadas e quebradas e amedrontadas. Onde se despreza o saber e se enaltece o imediatismo e a opinião ignorante.
No futuro, quando se fizer a história desta época no nosso país, o nome destas pessoas vai ser comparado, estou convencida, àqueles que em tempos passados fizeram perder o país para os hermanos. Disto não tenho dúvida. Que quando este tipo de pessoas forem varridas do poder e voltarmos a ter uma classe política com algum nível intelectual e cultural, olhar-se-á para este período como um hiato da razão crítica, prática e estética.
(publicado originalmente no Libertismo)
Li num jornal que o primeiro ministro acusa partidos da oposição de serem sectários e partidários nas suas críticas!!! ( lol )
Juro que pensava que os partidos e sectores da oposição tinham como dever, não aliar-se ao poder, mas sim fazer crítica, a partir, justamente, dos respectivos sectores partidários.
Pensaria o nosso primeiro que, à semelhança do que se passou com os sindicatos dos professores que parecem ser agora os porta-vozes do governo que temos, todos os partidos e sectores da sociedade passariam a falar a uma só voz com ele?
Não basta sermos as vítimas da ignorância e da incompetência? Temos ainda de fingir, nós todos, que não vemos este povo, que é um povo de gente decente, ser governado indecentemente?
Temos que fingir que não sabemos que as esquadras da polícia estão à mercê dos bandidos porque o dinheiro – o nosso dinheiro - que podia servir para aumentar ou modernizar as forças da polícia foi oferecido a um moço para ele brincar às corridas de automóvel?
Temos de fingir que não sabemos que o dinheiro – o nosso dinheiro – que podia servir para, por exemplo, os tribunais terem uma casa de banho para os seus funcionários, foi parar a firmas de advogados sabe-se lá para quê. ( sabe-se sim…)
Temos de fingir que não sabemos que o dinheiro – o nosso dinheiro - que podia servir para não termos escolas de 3º mundo, foi parar às mãos dum senhor para que ele faça 2 ou 3 vezes o mesmo trabalho?
Ou, ainda temos de fingir que não vemos que há quem pense ser a reencarnação do Marquês de Pombal? Que há quem pense que os cargos servem para fazer uma praça ou uma avenida ou uma marginal e depois pôr-lhe o seu nome?
Será que estão a pensar cegar-nos?
Em tempos idos lembro-me que cantávamos uma canção que era mais ou menos assim:
-“que mais queres tu
que mais queres tu
no país do sol
anda tudo nu.”
(publicado originalmente no Libertismo)
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