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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Neste fim de semana celebrou-se, nos EUA o aniversário de Martin Luther King, pastor, líder e activista dos direitos civis dos negros americanos.
Martin Luther King ficou, para a história, conhecido como símbolo da liberdade e da luta pela justiça. Conhecido também e desde então admirado e inúmeras vezes citado é aquele seu discurso inspirado e inspirador, em Washington, em 1963, diante de milhares de manifestantes. Discurso proferido junto do monumento de homenagem a Lincoln, o homem que assinou o decreto da abolição da escravatura. É aí que Martin Luther King profere esse famoso discurso onde pede que, à liberdade já garantida há mais de cem anos no papel, se acrescente a liberdade real e efectiva pelos actos da lei.
Aproveitei a ocasião da comemoração do seu aniversário para reler esse seu discurso, cujo excerto mais conhecido é aquele em que diz que tem o sonho de um dia ver a sua nação viver à altura das suas palavras segundo as quais todos os homens foram criados iguais; tem o sonho de um dia ver as pessoas viver em liberdade e justiça, julgadas apenas pelo seu carácter.
As palavras dele são cada vez mais importantes, não para que uma só nação viva à altura das suas palavras, mas para que o mundo, que exibe, assinada, por todas as nações, a declaração dos direitos universais do homem, se eleve à altura das suas declarações ajuramentadas.
As palavras deste discurso são tão belas e verdadeiras e inspiradoras que lê-las é revigorante - um eficaz antídoto contra o desânimo, o cansaço e a frustração de assistir diariamente ao espectáculo mundial da injustiça e da opressão. Em meu entender, devia ler-se periodicamente.
(publicado originalmente no Libertismo)
As notícias, cada vez mais frequentes, que um ou outro dos nossos chefes, desvaloriza toda e qualquer crítica ao seu trabalho são, quanto a mim, um sintoma duma endémica falta de cultura democrática neste país. O pior é que esta moda, que durante algum tempo parecia afectar apenas um número reduzido de personalidades do poder alastrou de um modo assustador.
Hoje foi um sindicalista que protestou – o protesto não é comentado por ter sido desvalorizado; na assinatura do Tratado de Lisboa as manifestações de oposição foram desvalorizadas, comentadas como casos de falta de educação (!); quando milhares de trabalhadores se manifestam contra esta ou outra política, ou decisão, invariavelmente o caso não é sequer comentado porque as autoridades visadas declaram desvalorizar o acontecimento. Se as notícias informam que o desemprego aumentou, a notícia é desvalorizada. As notícias diárias e chocantes sobre o aumento, em simultâneo, da riqueza dos bancos e da pobreza dos trabalhadores, são desvalorizadas como coisa banal.
Desvalorizar significa não atribuir valor, ou pelo menos diminui-lo.
Mas, se as críticas, ou manifestações, ou perguntas, ou seja lá o que for, são as pessoas do povo que as faz, não lhes atribuir valor é desvalorizar o povo que as faz.
A minha pergunta é só esta: se os nossos manda-chuvas não atribuem valor às pessoas deste povo, porque não vão governar outro povo qualquer que tenha, a seus olhos, pessoas que valham a pena governar?
Li que a Itália, na região de Nápoles, está com uma crise tão grande de lixo, que já falam em prejuízos de 500 milhões de euros. Acontece que, como desvalorizaram durante muito tempo o trabalho de recolha e tratamento de lixo têm agora 15 mil toneladas de lixo nas ruas que já afastaram as transacções comerciais, o turismo, etc.. A crise é tão grande que as autoridades julgam que nem uma mega-campanha de publicidade poderá reverter facilmente a má imagem deixada por esta crise nojenta, consequência de se governar para as aparências pensando que varrer o lixo para debaixo do tapete é o suficiente para que ele não se veja.
Só mesmo para quem é de vistas curtas!
Correm rumores de que o estado, para afirmar a sua laicidade, vai mandar alterar o nome de todas as escolas públicas que tenham nomes de santos.
É claro que eu não acreditei. Uma tal ideia só poderia vir de gente muito ignorante e inculta – aquele pessoal que não andou muito tempo à escola, como se dizia antigamente – que toma as coisas em sentido literal e não compreende que as referências religiosas, que existem em todos os países, são parte da sua memória e património cultural, e não um atentado à separação de poderes; e que um país sem memória é como uma pessoa sem memória: fica sem a identidade. É claro que isto não pode ser verdade. Senão vejamos, era preciso, depois, mudar o nome do palácio de S. Bento, está claro! E a escola Padre António Vieira? Passar-se-à a chamar escola Toni Vieira? O sermão de Santo António aos peixes será de ensinança proibida? Ou será, doravante, o sermão do Toni aos peixes? E a avenida Infante Santo? Melhor, todas as avenidas Infante Santo deste país? E o ministro Santos Silva? Naturalmente teria de ser dispensado por trazer no nome a marca do poder religioso. E a padroeira de Portugal? A Nossa Senhora da Conceição? Ou o dia 8 de Dezembro será, daqui em diante, o dia da São? Ou vai Portugal perder a sua padroeira de mais de 350 anos, símbolo da nossa independência?
Proponho, para encher os cofres do estado, que se institua a prática de multa a todos os provocadores que utilizem expressões do género, Oh meu Deus!; Ai minha nossa Senhora!; Ai Jesus! Santo António me ajude! Adeus! Etc. Só o dinheiro das multas derivadas dos santinhos(!) que se seguem aos espirros daria para vários aeroportos.
É claro que quando isto acontecer já o dia de Todos os Santos foi substituído pelo dia de todos os bandidos...
(publicado originalmente no Libertismo)
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