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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
jornal i
Punidos internamente, os oito arguidos acusados de maus tratos, com idades entre os 20 e os 25 anos, aguardam agora o exame final. O que é indiciado por mais crimes, R., assegurou aos investigadores que os castigos são "hábito normal" do Colégio Militar. Não constam do regulamento, mas estão escritos nas entrelinhas. Ser graduado é ser responsável pelos mais novos, no seu caso 111. E quando os da sua companhia faziam erros, os oficiais chamavam-no a si e aos outros graduados à atenção, "para tentarem disciplinar os alunos".
O dicionário interno explica os castigos "instituídos". Completas: sucessão de flexões, pulo de galo (saltos de cócoras) e abdominais. Firmezas: exercício físico em simultâneo por todos os colegas. Apresentações: vestir e despir num curto espaço de tempo. E um dos mais graves, substantivo feminino escrito em letras gordas: chapada de luva castanha.
Os excessos que envergonham um colégio com 206 anos de história são minimizados pelo Exército, mas o porta-voz, Helder Perdigão, admite que a falta de vigilantes adultos é um problema. "É público que o Exército tem vindo a reduzir o seu pessoal civil, não é exclusivo do Colégio Militar. Muitos funcionários reformaram-se e não foram substituídos." O problema, garante, "já foi transmitido à tutela, a quem caberá resolver".
Garcia Pereira, que representa os dois irmãos agredidos, diz que hoje existem menos de 20 vigilantes, quando há duas décadas eram 200. Os alunos ficam "completamente sozinhos e entregues aos mais velhos, os graduados", lamenta. O advogado critica ainda a direcção, que responsabiliza pelo "grande clima de impunidade" vivido na escola.
Tal qual o que se passa na escola pública: falta de funcionários; clima de impunidade - na escola pública favorecido pela legislação da ministra Lurdes Rodrigues, com grande destaque para o estatuto do aluno.
O bullying não é um problema novo, é um problema recorrente. Todos os que frequentaram colégios internos o sabem muito bem. Centenas de adolescentes (rapazes, neste caso) fechados numa espécie de quartel às ordens de meia dúzia que, por falta de controlo, agem como reizinhos absolutos. Rapidamente despem a farda da civilização e assumem comportamentos tribais.
Nunca leram/viram 'O senhor das Moscas'?
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