Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Depois de ter lido ontem, num jornal, que a maioria dos jovens portugueses não sabem quem foi quem e quem fez o quê no dia 25 de Abril resolvi começar as aulas a perguntar aos alunos quem tinham sido as pessoas importantes no decorrer e desfecho dos acontecimentos desse dia.
Numa das turmas, do 11º ano, duas alunas sabiam os nomes de Salgueiro Maia e Otelo. Uma delas sabia que Salgueiro Maia se tinha arriscado a levar um tiro. Não sabiam mais nomes nem sabiam ao certo o que é que tinha sido feito nesse dia. Uma delas sabia que eram capitães. Então estivémos a falar um bocadinho sobre esse dia e os outros intervenientes, como o Jaime Neves e o Spínola.
Na turma do 12º ano só uma aluna sabia o nome do Otelo mas também não sabia ao certo o que se tinha passado nesse dia. Sabiam todos em geral que os militares tinham tomado o poder. Mais nada.
Falámos um bocadinho sobre esse dia mas pouco porque tenho um programa para cumprir.
O desprezo a que a disciplina de História tem sido votada dá nisto...
Vinha há bocado a ouvir na Antena 1 uma rapariga (não sei quem é, não apanhei a conversa do início) a falar sobre a intervenção de um Coronel junto de Pinheiro de Azevedo e dos EUA para tirar de Angola os portugueses antes da guerra civil após a indepndência. Nunca tinha ouvido falar dessas diligências nem desse indivíduo sequer mas, pelo que ouvir, muitos milhares de portugueses devem-lhe a vida. A conversa não só era sobre esse Coronel mas também sobre o contexto em que essa operação de resgate se deu: o interesse do governo português, o interesse do governo americano, as diplomacias envolvidas...
Acho uma pena que em Portugal pouco se tenha escrito sobre o 25 de Abril. Falo dos episódios e eventos que pessoas particulares viveram ou testemunharam, ou sabem por qualquer razão e que ajudariam a perceber o que se passou nas várias frentes e, com isso a percebermo-nos a nós próprios na nossa História recente. Enquanto a memória das pessoas é fresca podia-se ir directamente aos actores dos acontecimentos.
Não percebo porque não se fomentam grupos de investigação que desenterrem essas pessoas do anonimato e lhes dêem voz. Portugal é um país cheio de gente interessante que não consegue fazer aqui nada por haver um grande desprezo pelo conhecimento, pelo saber, pelas artes e pela cultura em geral. É triste.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.