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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Isto é triste.
Ontem estava à conversa com o meu amigo André sobre a situação na R. D.do Congo.
Ele fez um trabalho sobre esse tema na faculdade e estava a dizer-me que as coisas chegaram a um ponto, no que repeita às mulheres, que já ultrapassa a situação de violações que infelizmente é comum nas guerras.
Já entra no domínio da violação de crianças e bébes de meses, da escravatura sexual, mutilação e até canibalismo. Que os pais matam os filhos por acreditarem que são bruxos. Fazem raids às aldeias e roubam pessoas (as mulheres e crianças em primeiro lugar para serem violadas por grupos de milicias) - alguns dos chefes das mílicias são grandes jogadores da bolsa e vivem no maior luxo.
Tudo isto é alimentado por países ricos, nomeadamente multinacionais americanas e europeias, por causa do Colton, também conhecido por tântalo, um minério raro que entra praticamente em tudo quanto é dispositivo electrónico, desde telemóveis a computadores.
A guerra que lá decorre já matou mais de 5 milhões de pessoas. Muitas mulheres que não morreram são mortas-vivas, completamente destruídas, fisíca e psicologicamente. Adolescentes mutilados, etc.
Acabámos a conversar sobre as razões pelas quais o Homem parece não aprender nada com a História e repetir os mesmos erros vezes sem fim.
A conversa começou com o Tucídides e a Guerra do Peloponeso, livro que ele está a ler. Já nessa época esse indivíduo genial desvelava, com clareza, os fios da natureza humana e dos acontecimentos que conduzem à opressão, à guerra, ao retrocesso civilizacional.
O Tucídides ainda é lido - infelizmente cada vez menos, porque neste e noutros países se desencoraja o conhecimento da sabedoria dos antigos, com o argumento, estupidamente ignorante, de que, por serem antigos, não poderem servir para os nossos tempos.
Deve ter sido essa a ideia de quem substituiu, nos curriculos escolares, os autores portugueses por diálogos idiotas, quem despromoveu o ensino da História e da Filosofia para promover a estatística - concerteza para estarmos muito habilitados para fazer tabelas e grelhas da desgraça.
Enough é um projecto para acabar com os genocídios e crimes contra a humanidade. Uma das causas que estão a travar é contra a guerra de milícias, no Congo, financiada por algumas das maiores companhias mundiais, devido a alguns minérios que lá existem e que são utilizados nos componentes de todos os telemóveis e PCs: cassiterite, tantalum, tungesténio e mais dois ou três.
Para terem acesso barato a estes minérios sem os quais não tínhamos os gadgets que usamos, companhias de renome mundial financiam uma guerra que já matou milhões e que tem o pior caso de violência sexual a decorrer no mundo. E, embora todos saibam disto, e haja documentação com fartura, ao ponto de estarem listadas as empresas e as pessoas que estão a financiar esta guerra, ninguém, das instituições internacionais,como a ONU, faz coisa alguma.
Para saber mais, e melhor o que está em causa e o que pode fazer:
www.enoughproject.org/blogs/enough-takes-congos-conflict-minerals
Copiado da página sobre o conflito:
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