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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Que inspiração deve ser navegar este rio e ter esta visão esmagadora do monte como horizonte dos dias. Acho que tudo se suporta quando o contexto é belo.
Postcard: Sailing on Fuji River. In the background: Mount Fuji (Volcano & the highest mountain in Japan at 3,776.24 m) Japan, circa 1920
A arte é um grande consolo e tudo que é belo alivia imediatamente qualquer carga, por mais pesada que seja. De onde vem o belo é difícil de dizer mas algo nele é da característica convexa que a coisa tem e que a faz procurar um espelho onde projectar-se e outra parte é da nossa capacidade côncava de afectar-se emocionalmente com o que se projecta. É uma relação de amor, portanto. Quer dizer que tenho uma relação de amor com o Bach. Okay 🙂
A arte, mesmo quando replica a natureza não a imita, recria-a.
Rolieiro indiano em vôo... Sri Muktsar Sahib, India via Birds
Asa de rolieiro europeu - Dürer, 1512
Estive a ver com os alunos o filme de Peter Webber acerca desta pintura e de como funciona a inspiração de um artista. O filme é um olhar artístico sobre outro olhar artístico. O belo sobre o belo.
Como o filme é belíssimo -os cenários como se fossem os quadros dele trazidos à vida- e gira à volta desta pintura fascinante e um bocadinho misteriosa, é fácil, a partir dele, falar na arte desde o ponto de vista do objecto que é belo, do observador que o julga e do artista que o cria.
Ninguém sabe quem é a rapariga do quadro. Pode até nem ser ninguém em particular, ser apenas uma espécie de alegoria. Também pouco se sabe sobre Vermeer.
O que mais impressiona no quadro é esta explosão de luz do rosto dela que sobressai da escuridão do fundo, a maneira como nos olha directamente e parece querer dizer-nos qualquer coisa, envolvida naquela espécie de turbante sensual e rico.
Johannes Vermeer van Delft Girl with pearl earring
Todas as obras do Vermeer para descarregar grauitamente 36 of Jan Vermeer’s Beautifully Rare Paintings (Most in Stunning High Resolution)
by Beau Rogers
(o que ama as coisas belas ou o que há de belo nas coisas)
imagem da net
©NASA/ESA/STSCI - a Galáxia espiral ESO 137-001, lindíssima com os seus rastros azul-violeta, apesar de violenta, ao que dizem:Spiral galaxy
"A beleza é importante. Se tudo fosse apenas funcional a vida era uma merda. Olha as pirâmides. Pode a sua função já não ter nenhum sentido para nós, mas são tão belas que ficamos ali a admirá-las. Sempre me inspirei muito nos artistas e nos poetas, sobretudo um francês que dizia que a arte é invenção e espanto. Admiração." Oscar Niemeyer
Casa Cavanelas - 1954
uma das pontas do palácio Dolmabahce visto do Bósforo
O nosso guia turco em Istambul fez-nos uma palestra sobre a beleza ter a ver com a simetria enquanto esperavamos para entrar no palácio de Dolmabahce. Desenvolveu a teoria de que O Belo mais não é do que simetria e que por isso o Dolmabahce seria tão belo: porque foi cuidadosamente construído em absoluta simetria.
O palácio, construído à borda de água ao longo do Bósforo, está ao nível do palácio de Versalhes no fausto, no luxo e na grandiosidade e é uma mistura de arte barroca europeia e motivos árabes que resulta numa ostentação que fere o bom gosto. Acho. Estava eu a ouvi-lo naquele sotaque horrível com que os turcos falam o inglês (vi going do see the pelace...) e a tentar perceber metade do que ele dizia e a pensar para mim mesma: tanta discussão sobre o que é o Belo e aqui o Said despacha o assunto em três minutos.
Nesse aspecto as mesquitas são duma beleza muito pura, sem misturadas de estilo. Bem, a Hagiasofia tem uns remendos...para fazer esquecer que era catedral, embora nunca tenham tapado o Constantino, o Justiniano e a Santa Sofia com o menino. Mas tem uma tradição muçulmana que se vê em muitos ornamentos e histórias: por exemplo, tem uma coluna com um buraco de significado religioso. Diz a tradição que se pedirmos um desejo e pusermos lá o polegar e o rodarmos podemos senti-lo húmido, ou não. Se o sentirmos húmido é sinal de que o profeta se apiedou de nós -a humidade são as suas lágrimas- e por seu intermédio Alá concede-nos o desejo. Escusado será dizer que pus lá o polegar e com a minha sorte... nada.
roubada do jornal i
A visão da Terra, vista do espaço é de cortar a respiração! O pulcro azul dos oceanos no fundo negro do espaço polvilhado de pontos de luz... como é que é possível olhar-se este cenário sem espanto, sem filosofia? O mistério da causa de todas as coisas... porque existem coisas? Porque existem coisas tão belas? Porque somos capazes de vê-la, de apreciar a beleza? Porque é que a visão da beleza causa emoção? Porque é possível ficarmos a contemplá-la sem cansaço? Porque nos emocionam as cores? O que se passa nos confins do Universo? Estamos sozinhos? E, se estamos, qual é o sentido disso? Porque é que existem coisas? E nós? Somos o quê ao certo? Porque não o nada? E, como é possível viver sem se andar preocupado com estas coisas e espantado com a sua existência?
Descartes dizia que a Filosofia é a ocupação mais importante de todas que existem:
É propriamente ter os olhos fechados, sem jamais tentar abri-los, viver sem filosofar; e o prazer de ver todas as coisas que a nossa visão descobre não é comparável à satisfação proporcionada pelo conhecimento daquelas que encontramos por meio da filosofia; e, finalmente, esse estudo é mais necessário para regrar os nossos costumes e conduzir-nos por essa vida do que o uso dos nossos olhos para orientar os nossos passos. Os brutos animais que apenas possuem o corpo para conservar, ocupam-se, continuamente, com procurar alimentá-lo; mas os homens, cuja parte principal é o espírito, deveriam primacialmente empregar o tempo na pesquisa da sabedoria, o seu verdadeiro alimento. (...)
Uma pena terem posto música a 'domesticar' o som furioso e magestoso do mar. Contemplativo.
Redouté, rose eglanteria
Alguns sítios, paisagens, do planeta, são tão puros, tão selvagens, majestáticos que limpam a alma do opressivo quotidiano mundano. Parece que estamos no princípio do mundo quando tudo era intocado. Restauram a fé.
cindy wright
Alexei Antonov
'Descobri' ontem esta pintura. De vez em quando uma obra qualquer bate-nos com tanta força que deixa marca. Talvez porque andei a dar o 'Existencialismo' e tenho muito presente no espírito aqueles temas todos vejo aqui a angústia e o efémero da vida.
Olho para este jarro vejo uma metáfora da vida, bastante sombria. As cinco rosas parecem representar as idades da vida: a mais viçosa é a, ainda pequena, rosa branca (côr de pureza) que está assim com um ar tímido; segue-se-lhe a côr de rosa, no máximo do florescimento, enorme e cheia de duma vitalidade exuberante; vêem depois as amarelas, uma já quase sem folhas, e depois a laranja, completamente curvada à força do tempo ameaçador. O que é interessante é que mesmo a rosa branca parece já ter sido afectada pela intempérie. O céu está sombrio, as núvens com aquele movimento próprio dos dias de vento e tempestade - parece que vai destruir as flores num instante, como se o pintor estivesse a mostrar a efemeridade da vida quase sempre em luta para se manter sob céus ameaçadores. E o modo como a jarra foi deixada sozinha, abandonada ao vento, como que a dizer que no sítio mais profundo de nós, estamos sós perante a vida...e a morte.
Até as folhas verdes têm, algumas delas, um ar agressivo, de quem tem que lutar contra a adversidade. E a espécie de trave de madeira onde está o jarro também mostra a decadência do efeito do tempo.
É um efeito estranho de beleza e angústia o desta pintura.
A mim, impressiona-me.
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