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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
É um documento extraordinário acerca da colecção Barnes: de Albert C. Barnes, o coleccionador, acerca da sua Fundação e acerca do modo como políticos e milionários, que ele desprezava profundamente, depois da sua morte, arranjaram maneira de lha roubar.
Barnes foi um indivíduo notável que sendo de origens humildes fez fortuna e com ela veio para a Europa onde se apaixonou pela arte pós-impressionista e do início do século XX. Viajou, conheceu os próprios artistas e juntou uma colecção com o melhor do melhor que eles pintaram. Era um indivíduo com olho e gosto para a arte e só comprava o melhor de cada um.
Em Filadélfia, onde a mostrou, os museus e os críticos de arte desprezaram a colecção que nem sequer consideravam arte. Estamos a falar dos melhores trabalhos de Cézanne, Sauret, Matisse, Picasso, etc., mais tarde cobiçados por todos os museus e grandes coleccionadores. Barnes estava muito à frente de seu tempo e da mentalidade da época.
Barnes não se coibia de dizer em voz alta que os directores dos museus, colecionadores e críticos de arte eram uns comerciantes ignorantes e prostitutos. Não queriam saber, nem percebiam muito de arte, queriam era poder e dinheiro.
Construiu uma casa numa propriedade perto de Filadélfia e fez uma Fundação para a sua colecção com o intuito de educar, de mostrar a arte como uma actividade humana que nos mostra a todos como iguais, o que se vê pela semelhança da produção artística, desde as máscaras africanas aos pós-impressionistas. Deixou escrito que proibia o empréstimo, venda ou deslocação das obras, pois estavam dispostas de um modo pedagógico calculado e também porque não entendia a arte como um comércio, como fazem os museus e os dealers, nem a Fundação como um meio de fazer lucro mas antes como um serviço à comunidade.
Depois de morrer, políticos ambiciosos, juntamente com directores de museus e seus patronos bilionários arranjaram modo de depauperar a Fundação para terem pretexto de violar os termos do testamento dele. O documentário conta a história desse ataque, ao pormenor, por dentro.
Documento muito instrutivo, algo revoltante, acerca do MO de políticos e seus manipuladores.
Hoje em dia a colecção está num edifício no centro de Filadélfia a engrossar as filas de turistas e a encher os bolsos dos políticos da Câmara e de outros museus.
Certas pessoas que se julgam elites intelectuais (esta semana uma colega dizia-me que numa festa uma deputada aqui do rectângulo dizia que estão a querer fazer uma elite em Portugal e que isso não é compatível com enfiar dinheiro na escola pública... uma elite de rapaces, com certeza...) são apenas elites de comerciantes, como o Trump, apenas em ponto mais pequeno, com mais verniz e menos descaramento, mais comedidos mas, como dizia Barnes, uns ignorantes que só querem poder e dinheiro.
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