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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
O autor deste artigo pergunta porque é que ainda nos agarramos à ideia de glória como imortalidade, se sabemos ser uma ilusão absurda, já que não é o eu que perdura no tempo -quando perdura- mas uma qualquer percepção do eu, não real.
Esta maneira de falar das coisas e da sua percepção como coisa real e não real já dava grande discussão mas não vou entrar aí porque mais que isso parece-me que o autor passa ao lado da questão.
O problema não está em sabermos que, se ganhassemos fama e glória imortais, estas seriam sempre interpretações do 'eu', o problema está em sabermos que a não imortalidade traz consigo o aniquilamento do 'eu', a realidade da nossa passagem por este mundo ter sido, no grande esquema da História, insignificante: que todo o esforço, o sofrimento, as lutas, as conquistas e dificuldades por que passámos são nada. Tiveram importância para nós e mais meia dúzia de pessoas durante um pequeno espaço de tempo e depois dissolvem-se no nada como se nunca tivéssemos estado aqui. Esse é que é o problema. É o problema de querermos que as coisas tenham um sentido, uma finalidade, uma escatologia qualquer que faça as coisas terem valido a pena e o valor próprio é, em grande medida, aferido pela validação dos outros, no grande esquemas das coisas.
Enquanto estamos vivos vemos como o trabalho de algumas pessoas tem importância na História, no sentido de influênciar o rumo dos acontecimentos. Se isto é vaidade? Talvez. O maior exemplo de vaidade, então, é o caso do Deus que podia, por um acto de vontade ter limpo os pecados do mundo mas fez questão de se fazer humano, mostrar o sofrimento para induzir piedade e exigir a glória e adoração eterna em troca da salvação...
Pois a mim parece-me ser a natureza humana parente da Metafísica e todas as questões humanas, quando levadas até às últimas consequências, darem de caras com a Metafísica, na seguinte questão: se tudo é nada, porquê o ente, porquê o ser humano, consciente?
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