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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Amanhã é dia de voltar à escola e estava a aqui a pensar em aproveitar umas reflexões de uns textos de Marcuse que andei a reler. Vou lançar um desafio aos alunos do 10º ano. Acredito muito no poder da educação nestas idades em que as pessoas ainda não cristalizaram e estão em plena formação da identidade. Mostrar caminhos diferentes da unidimensionalidade a que as cegas sociedades os querem obrigar por introjecções de padrões que os afastam da possibilidade de uma vida autónoma e autêntica, não só ajuda cada um em particular a conseguir, se assim o desejar e quiser, a sua própria autonomia mental e ética, como ajuda a romper com o discurso unidimensional que varre o espectro político, económico e social. Um discurso de resignação a uma (falsa) ausência de alternativas ao mundo actual. É possível fornecer instrumentos de libertação de uma sociedade 'suavemente esclavagista', como dizia Marcuse.
Cada vez acredito mais que o serviço (serviço não é subserviência, pelo contrário) é a única via humana possível. Não no sentido louco de querer contribuir para transformar as pessoas e as sociedades em algo utópico que as aliena ou violenta mas no sentido de ajudar cada um, no máximo das nossas possibilidades, a ter na sua mão os seus próprios instrumentos de transformação, de auto-construção e de evitamento ou libertação de vidas inautênticas. Uma pessoa pode facilitar esse percurso aos outros, abrindo portas de conhecimento. Depois, só lá entra quem quer. É claro que isso só se faz incomodando que é a única maneira de desacomodar mas vale a pena porque é muito difícil termos que fazer todo o percurso sozinhos, ter que descobrir tudo sozinhos. Gostava que alguém me tivesse incomodado quando era mais nova. Acredito mesmo numa certa irmandade de pensamento transtemporal ou supratemporal onde o insight de uns ajuda os outros a relacionar-se mais autenticamente com o ser.
Não por acaso, o nome deste blog (IP) é um acrónimo dessa crença.
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