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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
O próprio governante lembrou, num colóquio sobre currículo e práticas escolares em Portugal e na Finlândia que "antes só o professor era detentor do conhecimento e agora o conhecimento anda no bolso de todos e está à distância de um clique".
A dar a entender que em Portugal ainda não se usam tecnologias de informação e é tudo atrasado e a confundir informação com conhecimento.
Em primeiro lugar há muito tempo que usamos essas tecnologias e em segundo lugar, o que está à distância de um clique são as informações, não os conhecimentos. Os alunos não têm mais conhecimentos, nem são melhores a construir conhecimentos e a maioria deles não sabe usar a informação disponível na internet. Onde há escolha ilimitada e oferta ilimitada, se não há critério pedagógico de escolha, o que há é dispersão, confusão e maus hábitos.
A questão é saber se se deve deixar usar telemóveis e tablets nas aulas, sabendo nós que eles os usam para estar no FB ou a jogar ou a copiar. A questão é que o uso que os alunos dão a esses dispositivos, fora da escola, vai todo no sentido da diversão fácil e da dependência das redes sociais: os grandes vendedores de sonhos chamados Zuckerbergs e afins exploram isso ao máximo e, contrariar essa tendência para a constante procura de prazer e entretenimento, requer mais do que estas larachas que estes governantes dizem para ficar bem em público. Requer uma abordagem séria acerca de como educar os alunos, desde cedo, a usarem dispositivos nas aulas de um modo diferente daquele que costuma ser o seu uso nos tempos de lazer e, sem o usar para a fraude.
Pessoalmente, na minha prática lectiva, só deixo usar telemóveis e tablets com ligação à internet depois da turma estar disciplinada, o que significa, saberem as regras da sala de aula, perceberem a sua razão de ser e adoptarem-nas sem conflitos nem confusões. E, mesmo assim, usa-se quando é pertinente e não para tudo e mais alguma coisa.
A internet é uma fonte de informação tal como eram e, são, os livros: apesar de havê-los muitos e sobre tudo e mais alguma coisa, não deixamos os alunos escolher sozinhos qualquer livro ao acaso e estar na aula a ler o que lhes apetece com o argumento de que, se os livros têm informação sobre tudo devemos deixar os alunos usá-los como quiserem... isto parece-me evidente.
Onde há constante conflito é impossível haver ambiente de aprendizagem e a verdade é que os alunos chegam ao 10º ano, habituados a estar com o telemóvel ligado no FB e no Instagram durante as aulas em vez de trabalhar de modo que é necessário que desaprendam esses hábitos para poderem aprenderem os bons hábitos e isso leva tempo porque eles resistem durante algum tempo a trocar o prazer e o entertenimento pelo trabalho. É preciso que eles vejam o professor a utilizar a internet de modo pedagógico para perceberem como se usa e as possibilidades de uso para além do entertenimento e da auto-indulgência e isso leva tempo.
Ora, tempo é uma coisa escassa para as exigências dos programs e dos currículos. Se temos que estar a educá-los nas coisas básicas uma e outra vez nunca saímos do básico. Não os educam em casa a usar a internet ou, pior, deixam-nos à solta a desenvolver todos os maus hábitos nesse capítulo. A quantidade de alunos viciados em pornografia e em ver violência... Portanto, isto não é uma questão simples como se quer fazer parecer, nem é uma questão de as escolas e os professores não quererem mudanças.
Na educação, porque se lida com pessoas, nada é simples e linear, nada é universal no sentido de podermos obrigar à uniformização de práticas rígidas como se os alunos e, os professores, fossem um pedaço de matéria que se comporta sempre do mesmo modo nas mesmas condições e, nada é útil se deseduca em vez de educar. Não se perceber isto tem sido causa de grandes erros na educação e nas políticas de educação. Pessoalmente, não faço nada, mas nada, que entenda, com razões fundamentadas e de modo convicto que vai contra os interesses dos meus alunos a não ser que me mostrem, também com razões fundamentadas, que o meu ponto de vista é incorrecto ou, pelo menos, menos correcto que outros.
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