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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Torre de marfim" designa um mundo onde académicos se envolvem em investigações esotéricas, superespecializadas, e desdenhosas de preocupações de relevância.
(...) A Universidade Nova está extraordinariamente atenta a estes novos desafios e tem como grande prioridade estratégica fomentar entre os seus professores e investigadores uma cultura de preocupação com o impacto e a relevância económica e social da sua investigação. No fundo, e em palavras simples, criar ambientes de trabalho onde sejam naturais e frequentes as perguntas "para quê" e "para quem".
Preocupa-me que um vice-reitor de uma universidade importante tenha uma visão darwinista da investigação científica: ou a investigação tem uma função prática imediata ou é um exercício sem relevância. Preocupa-me que uma pessoa que tem poder de decisão numa universidade não tenha conhecimento da história da ciência e não saiba que muitos dos grandes avanços da ciência foram feitos a partir de investigações esotéricas e especializadas de outros investigadores que desenvolveram trabalhos super-especializados em áreas que na altura não tinham nenhuma aplicação prática e pareciam não servir para nada a não ser para o deleite de quem as criou mas que vieram a servir de fundamento, às vezes séculos mais tarde, para descobertas e trabalhos de outros cientistas que viram nelas aplicações. Isso vê-se muito na matemática, por exemplo, mas não só.
Esta ideia de que a universidade se deve reduzir à lógica do mercado, do que funciona e serve no momento a alguém, vai contra o espírito livre da investigação cientifica. Não digo que não é bom ter investigação aplicada a questões e necessidades práticas, claro que é. Queremos que os cientistas resolvam os problemas práticos que há para resolver como descobrir a cura para doenças ou maneiras baratas de dessalinizar a água do mar, etc., mas reduzir a investigação à prática imediata funcionalista com o argumento de que tudo o que se afasta dela é desdenhoso parece-me um reducionismo próprio da ditadura do darwinismo dogmático.
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