Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
(roubado do Umbigo)
por FERREIRA FERNANDES
<input ... >
Ele é vogal de uma dessas entidades reguladoras portuguesas - insisto, não é ministro de país rico, é um vogal de entidade reguladora de país pobre - e foi de Lisboa ao Porto a uma reunião. Foi de avião, o que nem me parece um exagero, embora seja pago pelos meus impostos. Se ele tem uma função pública é bom que gaste o que é eficaz para a exercer bem: ir de avião é rápido e pode ser económico. Chegado ao Aeroporto de Sá Carneiro, o homem telefonou: "Onde está, sr. Martins?" O Martins é o motorista, saiu mais cedo de Lisboa para estar a horas em Pedras Rubras. O vogal da entidade reguladora não suporta a auto-estrada A1. O Martins foi levar o senhor doutor à reunião, esperou por ele, levou-o às compras porque a Baixa portuense é complicada, e foi depositá-lo de volta a Pedras Rubras. O Martins e o nosso carro regressaram pela auto-estrada a Lisboa. O vogal fez contas pelo relógio e concluiu que o Martins não estaria a tempo na Portela. Encolheu os ombros e regressou a casa de táxi, o que também detestava, mas há dias em que se tem de fazer sacrifícios. Na sua crónica nesta edição do DN, o meu camarada Jorge Fiel diz que o Estado tem 28 793 automóveis. Nunca perceberei por que razão os políticos não sabem apresentar medidas duras. Sócrates, ontem, ter-me-ia convencido se tivesse também anunciado que o Estado passou a ter 28 792 automóveis.
por MANUEL MARIA CARRILHOSerá o deslumbramento uma política?
Quando procuramos o traço que melhor revela hoje a incapacidade das lideranças políticas, é sem dúvida no deslumbramento que a encontramos. Num deslumbramento que consiste numa grave perturbação da visão, seja ela provocada pela falta de distância ou por um excesso de luz. O deslumbramento é sempre a outra face de uma ofuscação, de um dogma, de uma cegueira. O deslumbrado olha, mas é incapaz de ver. Quando hoje analisamos a crise que temos vivido nos últimos anos, percebe-se que não foi por falta de saber que não se viu o que lá vinha, mas por excesso de deslumbramento: porque o deslumbramento desvaloriza a prudência, inutiliza o conhecimento e dilui o saber. E esta crise foi, em grande medida, a consequência de um duplo deslumbramento: com a nova finança e a sua delirante criatividade, com as novas tecnologias e as suas mirabolantes promessas, que se impuseram com uma tóxica cumplicidade. Foi este duplo deslumbramento que cegou e manietou tanta gente. E é ainda ele que, hoje, leva muitos a pensar que será com a retoma dos factores que provocaram a crise que se sairá dela. Isso acontece porque o deslumbramento, ao desprezar o passado e ao ignorar o futuro, vive e faz viver num presente completamente virtual. Num presente que é feito de activismo sem estratégia, colado a um imperativo de modernidade que se apresenta como um acelerador de tudo, mas que, na realidade, ninguém vislumbra ao que conduz. Ser moderno tornou-se simplesmente nisto, em ser deslumbrado!... Daí a importância das estatísticas; elas insinuam hoje que, no universo do deslumbramento, os números são o único valor incontroverso. Elas apresentam os números como se eles garantissem a transformação instantânea da quantidade em qualidade. E falam das políticas "de resultados" como se os meios não contassem, escondendo sempre o essencial: isto é, que ao lado do significado dos números existe também a insignificância dos números. Que para lá do que eles dizem, está sempre o que eles omitem. Os deslumbramentos financeiro e tecnológico são na verdade um só, que se revela na proclamação da modernidade como um puro fatalismo, como um processo independente das escolhas colectivas ou das decisões individuais, como se o seu objectivo fosse apenas o de tudo adequar a um processo histórico supostamente inelutável. Compreende-se assim que o deslumbramento desmagnetize a sociedade e desvitalize a política, aproximando-nos da profecia de Jean Baudrillard, que há anos antecipou que o objectivo da classe política seria cada vez mais, não o de governar, mas o de "manter a alucinação do poder", confundindo países reais com miragens tecnológicas. O que, naturalmente, leva a que a sociedade olhe cada vez mais para tudo isto como uma - ora indiferente, ora insuportável - amálgama de palavras, de imagens e de vazio. O deslumbramento tecnológico-financeiro tornou-se, deste modo, o grande impulsionador das principais formas de demagogia do nosso tempo, sejam as do optimismo tão virtual como pueril, sejam as do pessimismo tão nostálgico como catastrofista. E não vejo modo mais eficaz de as contrariar do que o de uma renovada pedagogia que introduza - na vida, na política e nos media - mais conhecimento, mais diálogo e mais proximidade. E também tempo, sim, tempo, porque o curto-termismo é o carrossel de todos os deslumbrados. Tudo isto faz cada vez mais da história o argumento, o conhecimento decisivo para contrariar os efeitos do deslumbramento e da sua demagogia. Só a história perspectiva o presente, revelando a sua contingência, mostrando que o que aconteceu podia não ter acontecido, ou ter acontecido de outra forma. Que na vida e no mundo tudo resulta sempre da conjugação da imprevisibilidade dos factos, da multiplicidade dos interesses, da diversidade dos contextos e das opções dos cidadãos. Que há sempre soluções quando há visão. Contra a fatalidade, a história. Contra o deslumbramento, a lucidez. Contra a demagogia, a pedagogia. Contra os impasses do optimismo e do pessimismo, o realismo. Contra o curto-termismo, o médio e o longo prazo. Contra a pasmaceira, o sentido de futuro. Eis do que precisamos, se queremos ter de novo uma finança ao serviço da economia, novas tecnologias ao lado da emancipação dos cidadãos e uma política que abra horizontes e crie de facto alternativa.
Confesso que não consegui ver até ao fim aquele vídeo do Sócrates a falar na Universidade da Columbia porque é díficil não sentir vergonha. Não é que uma pessoa seja obrigada a falar uma língua estrangeira. Tem o dever de falar bem a sua. Mas, no caso de não a falar bem, porque insiste em falá-la? É não ter a noção de que ao expôr-se ao ridículo expõe também o seu país. Quem é que se gaba das suas 'shortcomings'? Que crédito tem um país onde o primeiro ministro faz questão de pôr em evidência o que tem de pior?
É uma vergonha...
O que custa nisto é sabermos que vamos ser empobrecidos para sustentar os roubos de 14 anos de governo destes incompetentes. Pior, como o incompetente das finanças não sabe investir o dinheiro este sacrifício não vai servir de nada.
Não é que o Sócrates acabou de dizer que a economia em Maio estava muito bom??!!
O das finanças a dizer que o sacrifício não é do governo mas do país! Quer dizer, nós a pagar e eles a gastar em carros e reformas e ainda diz isto...
Tirar 5% ou 10% de ordenado, subir o IVA, reduzir a ADSE, aumentar os impostos e congelar as progressões, ou seja, empobrecer o povo, que as reformas e outros dinheiros de figurões já estão ao largo, não é verdade? Agora está o da finanças, esse incompetente que não sabe navegar e só dá machadadas no casco do barco a dizer que não vai fazer investimentos, ou seja, vai ficar de braços cruzados a fazer de cobrador.
Data
Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação
Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão
Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo da ameaça
Sophia de Mello Breyner Andresen
Agora é o Durão Barroso a falar de responsabilidade...um tipo que fugiu daqui...
Hoje na Assembleia da República não se está a fazer demagogia. São apresentados factos e números e são reveladores da completa incompetência do governo. O Presidente acha que não podemos entrar em crise política de não aprovação do orçamento e de eventual demissão do governo. Eu cá acho que meter estes incompetentes na rua é a única solução. Os deputados do PS são os únicos que estão a fazer demagogia. O Candal estáq a dizer que a despesa do Estado está controlada...
Primeiro-ministro tem três currículos oficiais diferentes. José Sócrates aparece como fundador da JSD e licenciado em Coimbra no currículo oficial fornecido a uma universidade dos Estados Unidos.
Só ontem consegui ver a famosa entrevista do Miguel Sousa Tavares. O indivíduo devia ir ao psicólogo tentar resolver o problema que tem com a figura do professor. Não me parece normal esta ressentimento e ódio indisfarçável aos professores que ele vive de forma tão dramática que não se restringe de mentir e tudo só para exercer a sua catarse violenta. Também me chamou a atenção o facto de criticar o Sócrates com palavras duras ele que o endeusava. Parece que só agora descobriu que o sócrates mentiu o tempo todo...compreensão lenta, não?
Costumava pensar, com grande ingenuidade, que cá em Portugal. ao contrário do que se dizia, nem sempre éramos mais atrasados e parvos que os outros. Quando via aqueles filmes americanos sobre as escolas e a educação, pensava para mim ser evidente o que corria mal por lá na educação: via-se que os professores eram tratados abaixo de cão e que por isso os alunos não os viam como professores; via-se que as escolas de zonas pobres estavam ao abandono, sem recursos, escuras, sujas e a abarrotar. Costumava pensar, na minha ingenuidade: eis um campo onde não entrámos nos caminhos errados de outros países de tal modo que ao contrário deles, por cá, é a escola pública e não a privada que tem prestígio. Certamente o caminho será o de melhorar o que temos e não imitar o que de mal fazem outros. Que ingenuidade! Não só estragámos o que era bom como incentivámos o erro. Agora tentamos imitar os toscos remédios dos outros...
É frustrante ver-se os caminhos errados e ver-se os outros a enveredarem por eles, ignorando todos os chamamentos e avisos que se fazem. Sofre-se por antecipação, por assim dizer, e nada se muda.
A amizade é uma vontade de proximidade. É um movimento de partilha.
Está a RTPN a apresentar uma peça de apologia do ensino privado, utilizando tudo quanto é falácia sem pudor. Defende-se que se o Estado desse dinheiro para o ensino privado em vez de investir no público pouparia milhões de euros e todos os alunos entrariam na faculdade na primeira opção. Só faltou dizer que nesse caso também assegurariam a todos os alunos do privado um lugar garantido no céu com entrevista particular com o Cristo em pessoa...
Assim vai a educação em Portugal. Nada se discute a sério, tudo é um jogo de interesses, políticas e negócios.
Onde não há vontade de conhecimento não há compreensão.
Quando a música é um transporte para o infinito.
Falava à bocado com um amigo a propósito do artigo da Catalina Pestana que pus aqui no blog porque dá o tom exacto da degradação a que chegou a vida política do país. A certa altura ela compara este período com o do PREC, mas eu acho que estamos muito pior. É certo que havia muito caos e muita coisa era mal feita, com as lutas pelo poder a serem, por vezes, ferozes, mas a par disso havia muito idealismo. Agora é só corrupção e ganância e cinismo e muito desprezo pelos que menos têm. Gente de muito baixo nível governa-nos e dita o nosso futuro. E no entanto o país está cheio de pessoas com valor. Mas não quiseram assumir responsabilidades e deixaram que lhes fechassem os caminhos.
Se o Sócrates ficasse em N.Y. a fazer companhia ao corninhos, livrávamo-nos desses dois miseráveis. Fazem-me sempre lembrar o joker no crapôt: quando por acaso uma carta não está imediatamente disponível alguém agarra num joker e põe-no no lugar da carta. É um recurso que entope o baralho e não se deve, por isso, usá-lo, a não ser em último caso, quando não há mesmo possibilidade de ir buscar a carta certa. Pois neste momento temos todos os jokers em jogo a substituir as cartas mais importantes do país. E com isso o jogo está todo entupido.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.